António Gonçalves: “Setor imobiliário atravessa um bom momento”

TEXTO: JORGE EUSÉBIO

Portugal está na moda e isso reflete-se positivamente no setor imobiliário algarvio, diz António Gonçalves, responsável da empresa Abracadabra. Os ingleses estão a comprar menos mas isso é compensado pelo aumento dos mercados do norte da Europa.

Os dados oficiais que têm surgido indicam que o setor imobiliário atravessa um bom momento. Na prática é isso que também verifica?

Sim, verifica-se um bom momento após um período grande de estagnação e até de alguma retração no mercado, muito devido à falta de confiança. Isso resulta, na minha opinião, em boa medida, de vários fatores externos que nos levaram para a ribalta, como termos sido campeões da Europa de futebol, de termos vencido o Festival da Eurovisão, de termos o melhor futebolista do mundo e termos dezenas ou centenas de portugueses a ocupar os mais diversos e importantes cargos em instituições internacionais.

Há muita gente que não sabia que existíamos ou que pensava que éramos uma província de Espanha e todos estes fatores deram-nos projeção e notoriedade e as pessoas passaram a querer saber um pouco mais sobre o país. Acabam por visitar-nos e, em muitos casos, por comprar casa.

Mas há outros fatores a ajudar…

Também têm ajudado os benefícios fiscais que o Estado dá a investidores estrangeiros: têm a possibilidade de não pagar impostos ao longo de 10 anos e, em certos casos, de prolongarem essa situação durante mais alguns anos. Isso é importante para cidadãos de países como a França, a Alemanha, a Itália, onde a carga fiscal é bastante pesada. Começam a fazer contas e preferem vir para cá porque só com o dinheiro que poupam, a nível de impostos, conseguem financiar a compra de uma casa.

Este ano há uma quebra no turismo, sobretudo entre os britânicos. Nota-se alguma retração por causa disso?

Os ingleses estão a comprar um pouco menos, mas não é isso que faz a diferença. O que acontece é que outros mercados cresceram muito. Os cidadãos do norte da Europa – da Suécia, Noruega e Finlândia – e do Brasil estão a comprar bastante. No que diz respeito aos ingleses, essa diminuição tem a ver com a questão do Brexit, essencialmente, devido à incerteza e à indefinição. Há ingleses que estão a pôr à venda casas, seja a que preço for, porque não sabem o que vai acontecer e, por outro lado, temos a desvalorização da moeda que limita a capacidade de compra dos que, ainda assim, querem adquirir imóveis na região.

Durante uns anos, os bancos apertaram os cordões à bolsa e não deram crédito para a compra de imóveis. Isso já mudou?

Tem havido uma grande evolução. Temos que ter em atenção que Portugal esteve sob um processo de resgate financeiro, o país não tinha crédito. Os bancos também foram afetados por essa circunstância, eles só conseguem fazer empréstimos se conseguirem financiar-se no estrangeiro, o que, durante alguns anos, não aconteceu.

Os dados indicam que, sobretudo no Algarve, o preço das casas aumentou bastante, o que faz com que o cidadão comum tenha muita dificuldade em comprar casa. Sente isso?

Sim, é um fenómeno que, realmente, acontece. A partir do momento em que ficámos mais expostos, em que vieram para o mercado pessoas de outras nacionalidades com maiores capacidades financeiras, ficámos com alguns problemas. Por exemplo, para um francês – que tem um ordenado mínimo três vezes superior ao nosso – comprar um T2 por 250 mil euros não é nada que choque, mas para o português é. Os estrangeiros chegam e compram bastante, o que significa que a oferta de imóveis vai sendo menor e, consequentemente, o seu preço aumenta. Apesar de tudo, começa a haver alguma evolução positiva a esse nível, que tem a ver com a avaliação dos imóveis por parte dos bancos, que era muito baixa, como forma de se precaverem, para não voltarem a ter os problemas que tiveram no passado, e atualmente já começam a ter uma atitude um pouco diferente.

 

Há colegas seus que me dizem que o grande problema que têm hoje em dia não é vender mas angariar imóveis. Também sente esse problema?

Esse problema começa, de alguma forma, a existir. Não se trata propriamente de não encontrar casas, porque elas existem, mas de consegui-las a preços razoáveis.

O que é que, nesta altura, é mais procurado: apartamentos de preço mais económico ou vivendas?

No nosso caso específico, cerca de 50% da nossa procura são apartamentos, 25% moradias e os restantes 25% dividem-se pelos outros tipos de imóveis (lojas, garagens, quintas, terrenos). No que diz respeito a valores, o que tem maior procura é o que é mais barato (isto por parte dos portugueses, que não conseguem encontrar casa para arrendar ao ano) e o que é mais caro, por parte das pessoas que têm boa capacidade financeira. Pelo meio há um intervalo de preços que quase não têm expressão em termos de interesse por parte dos compradores.

Como é que perspetiva o futuro do setor? Acha que o bom momento que atravessa é para continuar durante muitos anos ou podemos esperar uma recessão nos tempos mais próximos?

Nos últimos meses já modifiquei um pouco a minha opinião sobre isso. Achava que até 2020 o mercado iria continuar a crescer e depois decrescer porque, obrigatoriamente, tudo o que sobe também desce.

E agora?

Devido a indicadores que nos chegam e a conversas com outros profissionais do meio e do sector financeiro, a ideia que agora tenho é que o mercado a partir de 2019/20 irá estagnar e manter basicamente os mesmos valores.

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