“Ataque inicial fulminante e musculado resolve 98 por cento dos incêndios nos primeiros 90 minutos”

fogo

Está tudo a postos para enfrentar a época de incêndios florestais no Algarve, de 15 de maio a 31 de outubro. Em entrevista ao ‘site’ da Algarve Vivo, Vaz Pinto, Comandante Operacional do Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Faro, conta como irá funcionar o dispositivo, quais os reforços, os investimentos nas corporações e quanto receberá cada bombeiro por 24 horas de prontidão. E aproveita para deixar recados a proprietários de terrenos.

José Manuel Oliveira

O Algarve vai contar com mais duas equipas de sapadores florestais e uma municipal de intervenção nessa área durante a época de incêndios. Terão tarefas de prevenção operacional e em caso de fogo caber-lhes-á funções de primeira intervenção no terreno. Por outro lado, haverá mais um Grupo de Combate a Incêndios Florestais “sempre que for declarado para esta região o estado de alerta especial, ao nível laranja ou superior”. Na denominada ‘Fase Charlie’, de 1 de julho a 30 de setembro, período considerado mais crítico para fogos florestais, 525 bombeiros irão dispor de vários meios técnicos e do apoio dos 12 postos de vigia instalados no Algarve, além de helicópteros em Loulé, Monchique, Cachopo, no concelho de Tavira, e Ourique, no Baixo Alentejo.

Quem o diz é o Comandante Operacional do Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Faro, da Autoridade Nacional de Proteção Civil, Vítor Vaz Pinto, de 53 anos, que, em entrevista ao ‘site’ da Algarve Vivo, reconhece a extrema vulnerabilidade da região a incêndios rurais e lamenta a falta de limpeza numa faixa de 50 metros à volta das edificações, sem esquecer queimadas fora da época.

“O dispositivo que está preconizado visa garantir em permanência uma resposta operacional adequada e articulada, e que teve em consideração o histórico, severidade e a probabilidade de ocorrer incêndios florestais, contará na Fase Bravo (de 15 de maio a 30 de junho) com 420 operacionais, que serão apoiados por 95 meios técnicos dos vários agentes de proteção civil (APC) e entidades cooperantes (EC). Nesta fase entrarão em funcionamento 5 postos de vigia. Na Fase Charlie (de 1 de julho a 30 de setembro) beneficia de maior esforço do dispositivo, designadamente: 525 operacionais que serão apoiados por 124 meios técnicos dos vários APC e EC. Neste período crítico entrarão em funcionamento, ao longo das 24 horas, a totalidade dos 12 postos de vigia implementados na Região. Já na Fase Delta (de 1 de outubro a 31 de outubro), o dispositivo, caso não haja o prolongamento do período crítico por parte do Governo, retrai, sendo desmobilizado o reforço no dia 15 de outubro. Nestes primeiros 15 dias do mês de outubro, contaremos com 333 operacionais que serão apoiados por 79 meios técnicos dos vários APC e EC. Nesta fase os postos de vigia não estarão guarnecidos”, começa por explicar Vaz Pinto.

Relativamente ao dispositivo do ano transato, os meios são superiores. “Contaremos com mais duas equipas de sapadores florestais (ESF) e uma equipa municipal de intervenção florestal (EMIF), as quais desempenham tarefas de prevenção operacional, sob orientação da GNR, e em caso de incêndio são afetas ao ataque inicial (ATI), com funções de 1ª intervenção. No presente ano, à semelhança do que tem sucedido nos anteriores, apostamos essencialmente na consolidação de uma doutrina que incorpora medidas corretivas. Até à data, realizou-se um grande investimento no treino operacional para o comando inicial dos teatros de operações (TO), função de primordial importância, numa procura de melhorar metodologias e garantir, a partir do ATI, os elevados níveis de segurança das forças no TO. Estes treinos continuarão, em fase de aprontamento das forças, a decorrer até ao início da fase bravo.”, explica Vaz Pinto.

Vaz Pinto (meio corpo)
Comandante Operacional do Comando Distrital Vítor Vaz Pinto

Em 2016, as alterações mais significativas, e as quais também resultam de um processo contínuo de lições aprendidas, como insiste Vaz Pinto, “materializam-se na constituição de uma Equipa de Planeamento, Operações e Informações (EPOI), composta pelo Comandante de Permanência às Operações (CPO), um Operador de Telecomunicações e um Técnico do CDOS de Faro, cuja missão é o estabelecimento de uma Célula de Operações no terreno, a partir do momento em que se verifica o reforço de meios, assegurando uma efetiva capacidade de comando, controlo e processamento da informação operacional, no âmbito do Sistema de Gestão de Operações (SGO). Esta unidade antecede o eventual empenhamento de uma Equipa de Posto de Comando Operacional Distrital.”

Quatro helicópteros de julho a setembro

Já em relação aos helicópteros para o Algarve durante a época de maior risco de incêndios e a capacidade de intervenção desses meios aéreos, Vaz Pinto conta como irão atuar: “Logo a partir de 15 de maio junta-se ao helicóptero bombardeiro pesado (HEBP) que se encontra sedeado na Base de Helicópteros em Serviço Permanente (BHSP) de Loulé, um helicóptero bombardeiro ligeiro (HEBL), de Ataque Inicial (ATI), com a respetiva equipa helitransportada, composta por 5 militares do Grupo de Intervenção de Proteção e Socorro (GIPS) da Guarda Nacional Republicana (GNR), a posicionar no Centro de Meios Aéreos (CMA) de Monchique. Estas aeronaves assumem raios de ação primários diferenciados, nomeadamente 70 Km para o helicóptero pesado de ataque ampliado e 40 km para o helicóptero ligeiro de ataque inicial. O helicóptero pesado será reposicionado a partir de 15 de junho, noutra Região regressando ao Algarve, a partir de 15 de outubro. Neste período operará a partir de Loulé um helicóptero bombardeiro médio (HEBM), com uma equipa de 8 militares do GIPS/GNR (15 junho a 15 outubro).”

No dia 1 de julho, com o início da fase ‘Charlie’, entram em funcionamento os Centros de Meios Aéreos de Cachopo e de Ourique, “que mantêm até 30 de setembro helicópteros ligeiros, com as respetivas equipas helitransportadas, guarnecidos, respetivamente, pelo GIPS/GNR e pela Força Especial de Bombeiros (FEB).” Em suma, esclarece Vaz Pinto, no período de maior esforço do Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Florestais – “fase ‘Charlie’ – contaremos com 4 meios aéreos de ATI. Estes meios aéreos, cujo raio de atuação é de 40 km, garantem a cobertura da região na sua totalidade, podendo ser complementados por meios aéreos de ataque ampliado, de gestão nacional, caso se afigure necessário. No que concerne à capacidade de carga, os HEBL estão capacitados para o transporte de até 1.000 litros de água. Nos HEBM a capacidade de carga poderá variar entre os 1.000 e os 2.500 litros de água. Os helicópteros bombardeiros pesados poderão transportar até 4.000 litros de água.”

Cada bombeiro passa a receber 60 euros por 24 horas de prontidão
Outra das inovações é que cada bombeiro passará a receber 60 euros por 24 horas de prontidão. Na sequência da celebração do Protocolo de Cooperação para a constituição do Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Florestais nesta região, o qual, anualmente, é promovido pela Comunidade Intermunicipal do Algarve – AMAL, envolvendo a Autoridade Nacional de Proteção Civil, a Federação dos Bombeiros, as Câmaras Municipais e as Entidades Detentoras dos Corpos de Bombeiros, “tem sido possível aumentar a compensação paga aos Bombeiros que integram o dispositivo em €15,00, o que permitirá que cada Bombeiro aufira um valor de 60 euros, por período de 24 horas de prontidão”, refere Vaz Pinto.

Numa região, como lembra, “onde as oportunidades de emprego acompanham a tendência sazonal do turismo, em que qualquer oportunidade de trabalho é francamente mais aliciante e economicamente mais viável, do que ganhar um valor exíguo de €20,00 por um turno de 8 horas”, o comandante do CDOS de Faro considera que o reforço monetário “não é um valor justo, mas comparativamente com a realidade nacional, este é um incentivo meritório e reconhecido por todos os Autarcas da Região, que, equitativamente, comparticipam esta compensação às Mulheres e Homens que abnegadamente defendem a Região contra o flagelo dos incêndios florestais e que contribuem para a tornar um destino turístico de excelência.”

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