Bióloga recomenda: “Peixe de aquacultura é bom”

A investigadora Ana Teresa Gonçalves estuda no Chile formas de melhorar a saúde dos animais em aquacultura e destaca o que considera serem as vantagens da criação de pescado em cativeiro.

Pode descrever de forma sucinta o que faz profissionalmente?

Sou bióloga marinha e pesqueira, especializei-me em saúde animal em aquacultura e atualmente sou investigadora em nutrigenómica de salmões na Universidade de Concepción, no Chile. O meu trabalho é investigar o potencial de suplementos funcionais, como os pré ou probióticos introduzidos na dieta de salmões em cultivo. A ideia é desenvolver estratégias nutricionais alternativas, livres de químicos e drogas, que aumentem o bem-estar animal e a resistência dos peixes ao stress do cultivo intensivo.

Para reduzir a utilização de químicos?

O objetivo é produzir peixes mais saudáveis e resistentes a doenças e a fatores stressantes e, desse modo, não só reduzir a necessidade da utilização de drogas terapêuticas como os antibióticos, mas também o aumento da sustentabilidade do sector aquícola, não só no Chile mas a nível mundial.

O que há de particularmente entusiasmante na sua área de trabalho?

Hoje tenho a sorte de ainda ter acesso a peixe selvagem que foi pescado e que não sofreu qualquer intervenção humana no seu percurso de vida, mas infelizmente não sei se a próxima geração vai ter a mesma sorte. Mas tenho a certeza que vamos querer continuar a comer peixe, quanto mais não seja pela qualidade proteica que representa. Assim sendo, a aquacultura é sem qualquer dúvida a alternativa. Então, gosto de pensar que, se temos de produzir peixe, dedico-me a fazer os possíveis para que esse peixe seja de qualidade e tenha uma vida o mais saudável possível.

O peixe de aquacultura é bom?

A ideia de base é utilizar produtos de origem natural e tentar dar à natureza o que a natureza nos dá. Do mesmo modo que os iogurtes são benéficos para nós, regulando a nossa microbiota intestinal, os probióticos neles presentes são igualmente benéficos para os peixes porque protegem o intestino, que é um dos órgãos mais importantes nos vertebrados. Acho fascinante poder fazer algo tão simples como alimentar peixes com uma dieta suplementada com uma bactéria de iogurte ou uma simples levedura de pão, e conseguir que estes peixes tenham um sistema imunitário muito mais ativo e funcional e um intestino saudável. Infelizmente o sector aquícola não tem ainda a confiança do consumidor que deveria ter, mas através do meu trabalho, quando me perguntam, posso dizer que sim: o peixe de aquacultura é bom e recomenda-se!

Por que motivos decidiu emigrar?

Em 2005, eu fiz o meu estágio de licenciatura em Biologia Marinha e Pescas da Universidade do Algarve numa piscicultura industrial intensiva. Portugal era uma opção pela qualidade de programas de mestrado, mas não pela parte de financiamento. Idealizei um potencial projeto para mestrado e concorri a uma bolsa de estudo no Japão. O governo nipónico teve interesse na minha proposta e recebi bolsa de mestrado e de doutoramento na Universidade de Ciências Marinhas e Tecnologia de Tóquio. Durante esses anos pude aprender bastante e construí um caminho que me levou até ao Chile em 2013. Chegada lá, encontrei um país com um enorme potencial a nível científico, e tive a sorte de integrar um grupo de trabalho jovem e dinâmico com um nível cientifico de ponta, difícil de encontrar onde quer seja no mundo.

Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva

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