Dúvidas e certezas nas listas para legislativas no Algarve

Texto: Ana Sofia Varela

Com o clima pré-eleitoral à porta, em que as movimentações políticas já começam a mexer para as próximas legislativas, agendadas para 6 de outubro, a Algarve Vivo foi tentar perceber o que se passa nos corredores dos partidos da região, para apurar quais as certezas e as dúvidas na composição das listas de candidatos a deputados à Assembleia da República. Há quem já tenha começado a tentar tomar posição, fazer contactos ou reunir apoios, para garantir um ‘lugar ao sol’.

Neste ‘ranking pré-eleitoral’, o CDS-PP apressou-se a dar o primeiro passo e ainda decorria a campanha para as europeias, quando o partido anunciou os escolhidos para cabeças de lista às próximas legislativas. Os restantes só agora estão a ‘pegar no dossiê’ das eleições para a Assembleia da República, apesar de já existirem nomes em cima da mesa. As listas oficiais devem ser apresentadas em meados de julho, pois antes será necessário encontrar consenso junto das estruturas concelhias, das distritais e da nacional. O pontapé de saída está dado a quatro meses dos portugueses voltarem às urnas.

Centeno ou Apolinário?

No caso do Partido Socialista, o algarvio de Olhão, Mário Centeno foi apontado como o cabeça de lista, mas logo o gabinete do Ministério das Finanças avançou com o desmentido. O ‘Ronaldo das finanças portuguesas’ até poderia ser o candidato perfeito para os socialistas, mas caso não o seja de facto, há outros nomes que têm força na região.

Uma das hipóteses é um ‘déjà vu’ da lista apresentada em 2015, com José Apolinário, de Faro, na dianteira. O atual secretário de Estado das Pescas, antigo presidente da Câmara Municipal daquela capital de distrito, é a forte possibilidade de ser o indicado pelo secretário-geral do partido António Costa. Somente, claro, se o primeiro-ministro não quiser indicar Mário Centeno. Ao fim ao cabo o desmentido surgiu pela voz da tutela e não pelo responsável da estrutura partidária.

Há quatro anos, quem se seguia era António Eusébio, presidente da Federação socialista algarvia naquela altura e antigo presidente da Câmara Municipal de São Brás de Alportel, mas desde que assumiu um cargo na empresa Águas do Algarve afastou-se das lides políticas regionais.

O ‘senhor que se segue’ poderá mesmo ser Luís Graça, presidente da Federação do PS Algarve, deputado e presidente da Assembleia Municipal de Faro. Isto claro, se Miguel Freitas, secretário de Estado das Florestas, não reivindicar um segundo lugar, relegando o líder da Federação para quarto. Ainda assim, caso sejam mantidos os resultados eleitorais, com o PS a ganhar mesmo sem maioria, poderá ser dada uma garantia a Miguel Freitas e José Apolinário acerca da escolha para as mesmas funções, de forma a deixar que Luís Graça assuma destaque nestas próximas legislativas. Quanto ao terceiro lugar, nem deverá haver dúvidas de que será reservado a Jamila Madeira, deputada, ex-eurodeputada e atual membro da Comissão Política Nacional, com um percurso político de relevo dentro do PS. Tudo ainda está em aberto e só no calor do Verão é que a lista deverá tomar forma, embora estas sejam algumas das certezas que correm nos bastidores socialistas.

Mário Centeno, seguido de José Apolinário, Jamila Madeira e Luís Graça ou Miguel Freitas.

 

Quem pode ainda ser opção

Fernando Anastácio e Ana Passos foram dois dos deputados eleitos na legislatura anterior e até podem ser incluídos na próxima lista, visto que esta é composta por nove elementos, mais os suplentes, mas ainda não há certezas.

Segundo apurou a Algarve Vivo, há outros autarcas que podem estar na lista de potenciais escolhas, como é o caso de Jorge Botelho, de Tavira, e Francisco Martins, de Lagoa. Este último ainda está no segundo mandato da autarquia, mas tem-se revelado um fervoroso defensor da região, numa altura em que se diz que o Algarve precisa de uma voz ativa e reivindicativa em Lisboa. Não sendo um nome consensual entre os socialistas, é-lhe reconhecida visão e capacidade de intervenção, fatores que jogam a seu favor.

Aliás, o presidente da Câmara Municipal de Lagoa já tinha, em tempos, defendido que a lista de deputados deveria ser mesmo representativa do Algarve. Para isso, seriam escolhidos dois representantes do Barlavento e dois do Sotavento, em lugares elegíveis. Isto é, um candidato deveria ser de um dos concelhos de Vila do Bispo, Lagos, Monchique ou Aljezur, enquanto outro deveria ser de Albufeira, Lagoa, Silves ou Portimão. No Sotavento, a divisão seria semelhante, com um escolhido de um dos concelhos de Loulé, Faro, São Brás ou Olhão e outro proveniente de um dos municípios de Vila Real de Santo António, Castro Marim, Alcoutim ou Tavira.

Graça ‘versus’ Norte

Num campo de hipóteses, caso o cabeça de lista indicado pelo PS seja Luís Graça e o indicado pelo PSD seja Cristóvão Norte, poderá haver a possibilidade de reeditar o ‘frente a frente’ das últimas eleições autárquicas em Faro. O PS representado por José Apolinário perdeu nas urnas a Assembleia Municipal, tendo Cristóvão Norte sido o eleito, mas as regras ditam que deve haver uma eleição posterior na primeira reunião para escolher quem preside àquele órgão. Apolinário foi colocado fora de cena e quem tomou o lugar foi Luís Graça enfrentando a votação contra Cristóvão Norte, levando a que os rosas ‘roubassem’ a liderança da Assembleia. Na verdade, José Apolinário tem dado força a Luís Graça, líder que no seio do PS Algarve tem vindo a surpreender pela postura que tem adotado, como afirmam algumas fontes socialistas à Algarve Vivo.

Cabeça de lista pode ser de fora

A grande dúvida no caso dos social-democratas é se Rui Rio confiará a função de ser o rosto pelo Algarve a alguém da região ou se escolherá alguém de outro distrito para liderar a campanha. A imprevisibilidade do líder ‘laranja’ está a inquietar os social-democratas algarvios.

No caso de Cristóvão Norte, apesar de ser um dos fortes ativos e de ter sido apoiante de Rui Rio, quando este disputou a liderança do PSD com Santana Lopes, o deputado não manteve esta posição aquando do congresso. Ou seja, apoiou Luís Montenegro ao invés de Rio. Segundo apurou a Algarve Vivo, este pode ser um motivo de ‘afastamento’ da liderança da lista do parlamentar farense.

Ainda assim, muitos no PSD defendem que o atual deputado é o mais capaz para a tarefa. Na verdade, o Algarve foi uma das regiões onde Rui Rio não reuniu muito apoio no confronto com Santana Lopes. Por esta razão, o partido deverá unir-se para que Cristóvão Norte seja o indicado. Isto porque, regra geral, cada concelhia indica um candidato que será depois validado em sede da Comissão Política Distrital. Mesmo que Rio não tenha intenção de seguir as escolhas das concelhias, poderá ser pressionado a escolher de modo consensual. Uma das certezas, a nível interno, é que se escolher alguém de fora da região, encontrará oposição, sobretudo porque a maioria das concelhias apoiou Santana Lopes. José Carlos Barros poderá também manter-se na lista e, como o terceiro lugar é reservado a uma candidata feminina, Ofélia Ramos, líder da concelhia de Faro, poderá sobressair no leque de escolhas. Embora também Filomena Sintra seja um dos rostos falado nos corredores do partido, a autarca está a traçar um percurso que pode passar pela presidência da Câmara Municipal num futuro mais próximo.

No Barlavento há ainda dois membros ativos para quarto e quinto lugar, como é o caso de Rui André, presidente da Câmara Municipal de Monchique, a cumprir o último mandato, ou o jovem líder da concelhia de Portimão Carlos Gouveia Martins, que tem vindo a reunir simpatias desde que liderou a JSD Algarve, encabeçou a lista para a Assembleia Municipal de Portimão e assumiu a presidência daquela concelhia do PSD.

Contactado pela Algarve Vivo, David Santos, presidente do PSD do Algarve, não quis avançar com pormenores, pois ainda não há nenhuma lista compilada. Ainda assim, afiança que a distrital “tentará fazer uma lista de pessoas competentes e que digam à região alguma coisa. É o que pretendemos”. Isto porque, haverá uma proposta de nomes à Comissão Política Distrital, sendo que depois esta será analisada em Comissão Nacional e votada em Conselho Nacional.

Cabeça de lista ‘paraquedista’

João Rebelo, autarca na Assembleia Municipal do Seixal, foi o escolhido para representar o CDS-PP como primeiro da lista na região. À Algarve Vivo, José Pedro Caçorino, presidente da distrital, explicou que esta indicação foi originada por uma diretiva nacional que a estrutura tem e que Assunção Cristas resolveu colocar em prática.

“Nas últimas legislativas fomos em coligação, mas nas duas anteriores tinha sido o Artur Rego, que naquela data era residente em Lagos. Existe uma ‘quota nacional’ da Comissão Executiva, mas que no tempo do Paulo Portas não estava definida. Foi uma quota que foi sendo alargada à medida que o CDS foi tendo capacidade de eleger deputados”, justifica Caçorino. No Conselho Nacional anterior ao da divulgação dos cabeças de lista, a líder Assunção Cristas consubstanciou um método, tendo ficado definido que pertenceriam à quota do partido todos as cabeças de lista dos distritos.

Uma escolha criticada no Algarve pelos militantes, porque apesar de ser uma indicação da líder nacional, esta poderia ter escolhido alguém da ou com ligação diária à região. A restante lista competirá à estrutura distrital, que decidirá os nomes em conversações com as concelhias, refere José Pedro Caçorino, que não quis avançar com qualquer nome. Ainda assim, segundo outras fontes, o presidente da distrital ocupará o segundo lugar.

Consenso no BE e PCP

No caso do Partido Comunista Português, o representante da lista deverá ser Paulo Sá, que tem mostrado bastante trabalho na Assembleia da República enquanto deputado.

Divide-se entre reuniões, diversas comissões e visitas a variadas empresas na região, onde identifica os principais problemas da região, em diversas áreas, para apresenta-los à tutela. João Vasconcelos, do Bloco de Esquerda, professor de Portimão, deve ser também o escolhido para representar o partido.

     

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