Elidérico Viegas (AHETA): “Cinquenta por cento das unidades hoteleiras do Algarve encerram no Inverno”

Eliderico Viegas

No total, deverão fechar durante a denominada época baixa do turismo algarvio, de novembro até perto da Páscoa do próximo ano, cerca de duzentos estabelecimentos ligados ao sector, nomeadamente hotéis, apartamentos e pensões, entre outras unidades. Em entrevista concedida à Algarve Vivo, o presidente da direção da AHETA – Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve, Elidérico Viegas, volta a deixar críticas: “Falta uma estratégia promocional especialmente orientada para a sazonalidade, assim como a aposta em meia dúzia de eventos desportivos, culturais, etc. capaz de se afirmar progressivamente no calendário europeu e mundial das grandes realizações”.

Já em relação ao último Verão, registou-se um aumento médio de cinco por cento nas taxas de ocupação e de 6,5 por cento no volume de negócios. E cada turista gastou diariamente, em média, mais de 230 euros só em alojamento, apesar da subida dos preços.

José Manuel Oliveira

 

Como decorreu o Verão turístico no Algarve? Quanto gastou, em média, cada visitante?

O ano turístico correu de acordo com as previsões. Ou seja, houve um aumento médio de 5 por cento nas taxas de ocupação e 6,5 por cento no volume de negócios. Os turistas britânicos e os nacionais foram os mais numerosos, seguidos dos alemães, holandeses e irlandeses, tendo as unidades de 5 e 4 estrelas registado as ocupações mais elevadas.

Todas as zonas geográficas registaram ocupações médias superiores a 90 por cento durante os meses de Verão, estimando-se em mais de 230 euros os gastos por pessoa / dia nas unidades de alojamento da região, sem contar com as despesas na restauração, comércio, rent-a-car, etc.

A instabilidade internacional contribuiu para a vinda de mais pessoas?

A instabilidade internacional, designadamente nos destinos localizados na bacia do Mediterrâneo, principais concorrentes do Algarve, como a Turquia, o Egipto e a Tunísia, assim como a desvalorização do euro face à libra e ao dólar, encontram-se entre as principais razões para as melhorias verificadas.

Em comparação com o ano de 2014, o que destaca? Houve mais turistas e gastos?

Houve mais turistas e os preços, em termos homólogos, subiram cerca de 3 por cento. O grande destaque vai para o aumento da procura de nacionais, franceses e espanhóis, tendo estes últimos, desde a introdução de portagens na Via do Infante, subido a procura pela primeira vez desde 2008.

De que gostam mais e de que se queixam os turistas no Algarve?

Os turistas que nos visitam apreciam, sobretudo, o clima, as belezas naturais, com especial destaque para as nossas praias, a simpatia dos algarvios e a nossa gastronomia.

Entre as queixas, impossível não referir as portagens na Via do Infante e algumas falhas a nível da chamada envolvente, como a higiene e limpeza de zonas públicas, por exemplo.

E agora, na chamada época baixa do turismo, sobretudo no Inverno, como vai ser? Vão encerrar unidades hoteleiras e empreendimentos turísticos, contribuindo para o aumento do desemprego neste sector, como tem acontecido?

A sazonalidade é, de facto, a maior fragilidade do nosso turismo, com cerca de 50 por cento das unidades hoteleiras a encerrar no próximo Inverno. A data depende, mas deverá abranger o período de novembro até próximo da Páscoa de 2016.

Os reflexos negativos desta fraqueza ao nível do emprego constituem uma realidade que teima em repetir-se anualmente. No total, estima-se que poderão encerrar cerca de duas centenas de estabelecimentos ligados ao turismo no Algarve, nomeadamente hotéis, apartamentos, pensões e outras unidades do sector. Será mais ou menos a situação registada em 2014, afetando sobretudo zonas do centro do Algarve, Albufeira, Vilamoura e barlavento.

Falta promoção a nível internacional ao Algarve?

Falta uma estratégia promocional especialmente orientada para a sazonalidade, assim como a aposta em meia dúzia de eventos desportivos, culturais, etc. capaz de se afirmar progressivamente no calendário europeu e mundial das grandes realizações, de forma a, por um lado, gerarem fluxos turísticos importantes durante os meses de menor procura e, por outro, funcionarem como meios privilegiados de promoção e divulgação, atendendo à grande cobertura mediática internacional de eventos desta natureza.

Manda a técnica e, já agora o bom senso, que os mercados onde já temos notoriedade sejam também aqueles onde as estratégias promocionais são mais eficazes. Este princípio não põe em causa a necessidade de se continuar a explorar as possibilidades abertas pelos chamados mercados emergentes, especialmente nos países do leste da Europa.

 

Algarve poderá criar postos de trabalho para refugiados

 

Quais as repercussões que poderá ter para o turismo no Algarve a situação dos refugiados na Europa e a vinda de alguns milhares para Portugal? Poderão ser criados postos de trabalho? Poderá haver problemas ao nível de segurança, como já se fala?

O receber bem fez do Algarve e dos algarvios um dos mais conhecidos e reconhecidos destinos turísticos mundiais. Acolher umas centenas ou milhares de refugiados não só não põe em causa o bom nome da região, como pode mesmo contribuir para a sua divulgação internacional.

É verdade que poderão ser criados alguns postos de trabalho, nomeadamente em profissões em que a região é deficitária, não apenas no turismo, mas também em outros sectores da atividade económica regional, como agricultura e construção civil. No turismo, poderão trabalhar por exemplo em serviços de manutenção, jardins e limpezas.

You may also like...

Deixe um comentário