Elidérico Viegas: “Há unidades turísticas quase a cem por cento”

Preços subiram em comparação com o ano passado e podem atingir, em média, 48 euros por quarto/dia, revela em entrevista ao ‘site’ da revista Algarve Vivo o presidente da direção da AHETA, Elidérico Viegas. No Verão, a ocupação vai aumentar, além dos meses de julho e agosto, mas falta de trabalhadores é um dos principais problemas dos empresários.

José Manuel Oliveira

As taxas de ocupação das unidades hoteleiras e dos empreendimentos turísticos nesta região “deverão rondar, em média, durante o período pascal, os 80 a 85 por cento, embora haja estabelecimentos com ocupações perto dos cem por cento.” Esta é a perspetiva de Elidérico Viegas, presidente da Direção da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), que, em entrevista concedida ao ‘site’ da Algarve Vivo, afirma que “o facto de a Páscoa ser, neste ano, em meados de abril, significa mais turistas e melhores resultados económicos para as empresas.”

E isto porque, assinala, “por um lado, os operadores turísticos internacionais já iniciaram a sua atividade regular e, por outro, os preços são mais elevados do que os praticados na estação baixa. Os turistas mais numerosos nesta altura do ano são os nacionais, embora em termos globais os dos mercados mais importantes sejam britânicos, alemães, holandeses e irlandeses.”

PREÇOS AUMENTAM MAIS DE 3 POR CENTO

Já em relação aos preços de alojamento agora praticados e à estratégia traçada, Elidérico Viegas refere: “Não é segredo para ninguém que o Algarve dispõe de uma oferta muito variada, havendo preços para todos os gostos e carteiras, o que dificulta o apuramento de um preço médio. Os preços subiram, em média, 3,1 por cento face ao ano anterior. O rendimento por quarto disponível é de 48 euros por dia.” Em jeito de reforço, acrescenta: “O Algarve está preparado e ambiciona receber todos os visitantes que os hotéis e empreendimentos turísticos da região possam acolher.”

PORTAGENS AFASTAM ESPANHÓIS

Num recente balanço sobre o mês de março de 2017 comparativamente ao de 2016, a AHETA apontou uma descida dos mercados português (menos 2,6 por cento) e espanhol (menos 1,7 por cento). “As descidas dos mercados nacional e espanhol surgem na linha do que vem acontecendo nos últimos dois/três anos. A diminuição da procura por parte do mercado interno deve-se, sobretudo, ao facto de os portugueses optarem por outros tipos de alojamentos, designadamente local e particular. As quebras que se vêm verificando no mercado espanhol, por outro lado, não podem ser dissociadas da existência de portagens na Via do Infante. As quebras registadas nas taxas de ocupação resultam do facto de a Páscoa em 2016 ter sido no mês de março”, explica o principal responsável daquela associação empresarial algarvia.

No meio de toda esta situação, o volume de vendas diminuiu 1,3 por cento durante o mês passado. “A descida da faturação direta nas unidades de alojamento, em março, estima-se em cerca de 500 mil euros”, revela.

SUBIDA DE PREÇOS NO VERÃO

Por outro lado, as perspetivas em relação ao próximo Verão apontam para um crescimento da procura, face ao ano anterior, de cerca de “3 por cento.” Desde já, antecipa Elidérico Viegas, “o Algarve vai atingir, pela primeira vez desde o virar do século, o chamado ponto crítico, ou seja, mais de 65 por cento de taxa de ocupação/ano. As melhorias irão verificar-se, principalmente, nos chamados meses laterais, uma vez que julho e agosto, tradicionalmente, já têm ocupações perto dos cem por cento.”

Como tal, acrescenta, também ”os preços subiram cerca de 3 por cento, aproximando-se do desejável, face ao esmagamento de que foram alvo com a crise de 2008. O rendimento por quarto disponível no Algarve foi de 46,7 euros por dia em 2016, devendo atingir os 48 euros em 2017.”

TRABALHO TEMPORÁRIO PARA SUPRIR FALTA DE MÃO-DE-OBRA

Um dos principais problemas que os hoteleiros e empresários de empreendimentos turísticos continuam a enfrentar é a carência de trabalhadores. “A falta de mão-de-obra em quantidade e qualidade constitui um dos maiores desafios do turismo do Algarve no futuro”, reconhece o presidente da AHETA, para quem a ausência de funcionários “é transversal e abrange todos os sectores e departamentos das unidades hoteleiras e turísticas regionais.”

Para suprir essa lacuna, nota, “os hotéis e empreendimentos turísticos recorrem a trabalho suplementar, temporário, etc. assim como a outras formas de contratação ditas atípicas, como o trabalho a termo, muito curta duração, etc.”

Curtas & Diretas:

CRESCE ALOJAMENTO LOCAL

No Algarve, “em 2017, não temos conhecimento de novos hotéis nem novos empreendimentos turísticos. Vamos continuar a assistir a um crescente número de alojamentos particulares registados como alojamento local, criando a perceção de que a oferta está a aumentar, apesar de esta já ter utilização turística no passado”, admite o dirigente da AHETA.

CHINESES SEM EXPRESSIVIDADE

“O mercado chinês não tem nem vai ter expressão no Algarve nos tempos mais próximos, excetuando algumas aquisições de imobiliário, no âmbito dos vistos ‘Gold’, ou seja, na área do turismo residencial”, considera Elidérico Viegas.

PORQUE AUMENTA MERCADO FRANCÊS

Quanto a novos mercados, “salienta-se o aumento da procura por parte do mercado francês”, destaca Elidérico Viegas, justificando: “Penso que o facto de a gestão dos aeroportos nacionais pertencer a uma empresa francesa, (Vinci), independentemente dos capitais serem árabes, tem contribuído, decisivamente, para o aumento que se vem registando neste mercado.”

“NINGUÉM ESTÁ PREPARADO PARA ATAQUE TERRORISTA”

Num ano em que já se fala em bater recordes no turismo em Portugal, em geral, e no Algarve, em particular, o presidente da principal associação de hoteleiros da região, sem dramatizar, não deixa, no entanto, de voltar a lançar um aviso: “Ninguém está preparado para enfrentar uma catástrofe dessa natureza”.

A reação surge ao ser questionado pela Algarve Vivo sobre a forma de enfrentar um eventual ataque terrorista, problema que está cada vez mais sucedendo em vários países europeus. “Nesta matéria, como em muitas outras, o bom senso aconselha que os esforços devem centrar-se, sobretudo, ao nível da prevenção. A prevenção, contudo, pressupõe articulação e cooperação com as diferentes forças policiais e de segurança. Há bastante tempo que os hotéis e os empreendimentos turísticos se enquadram e apoiam esta filosofia”, observa.

HOTELEIROS ALGARVIOS ‘DESVIAM’ ESTUDANTES PARA ESPANHA

“Os hoteleiros do Algarve evitam, desde há muitos anos, receber grupos de estudantes”, confessa Elidérico Viegas. E adianta, nesta entrevista, que tal estratégia “não resulta dos incidentes com estudantes portugueses em Espanha, mas de opções de gestão dos empresários algarvios, face aos comportamentos de risco associados a estes segmentos de mercado.” “Estes grupos de estudantes não se enquadram no perfil dos turistas que procuram a região para as suas férias, quer durante a Páscoa quer em outros períodos do ano. O Algarve, como é sabido, é sobretudo um destino vocacionado para famílias”, reforça.

“As restrições e exigências dos hotéis e empreendimentos turísticos do Algarve para receber estes nichos de mercado contribuíram, decisivamente, para os desviar, convenientemente, diga-se, para Espanha”, conclui o presidente da AHETA, assegurando que “os profissionais de hotelaria estão habilitados e preparados para gerir e lidar com todo o tipo de situações, incluindo as que envolvem desacatos e outras.”

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