Patinagem ganha novo fôlego em Portimão

TEXTO: VERA MATIAS

A pacatez diária dos Montes de Alvor, no concelho de Portimão, é interrompida ao final do dia com o movimento de crianças e jovens que se dirigem ao Pavilhão Desportivo para treinar hóquei em patins ou patinagem artística. São cada vez mais os que despertam para estas disciplinas e que investem neste desporto. Afinal de contas, o Hóquei Clube de Portimão já tem 19 anos de história e está a avançar com uma estratégia de captação de novos rostos.

Às segundas, quartas e sextas-feiras o pavilhão é ocupado pelo hóquei, enquanto às terças e quintas-feiras é a vez da patinagem artística. Durante os treinos dos mais novos não é raro ver alguns a apoiá-los e incentivá-los nas bancadas. Consideram que é importante a prática do desporto, a aprendizagem das bases da competição saudável e o salutar convívio. Tirá-los da frente do computador e das consolas de vídeo é uma boa opção. E o hóquei está a tornar-se uma alternativa.

É que depois de alguns interrupções, Carlos Resende, presidente e treinador do clube, resolveu investir na promoção, na formação e na equipa sénior desta modalidade. “Fomos buscar atletas que já praticaram, enquanto jovens, mas que depois abandonaram o hóquei. Queremos ter uma equipa sénior e, ao mesmo tempo, gostaríamos também de ter um espaço para os atletas sub-17 e sub-20 jogarem”, justifica.

“O que acontecia antes, quando não havia seniores, é que os sub-17 e sub-20 chegavam àquela idade dos 15, 16 e 17 anos e simplesmente desistiam, porque não havia mais nada. Ou então, iam para outro clube. Hoje podem ir para outra equipa se quiserem, mas já temos essa opção. Ainda não é uma equipa muito forte, porque é composta sobretudo por pessoas de 28 a 30 anos, que trabalham, mas está na terceira divisão”, admite.

Muitas vezes, não conseguem realizar treinos assíduos, porque têm que conciliar a prática da modalidade com o trabalho, mas já constam nas competições oficiais. O clube até poderia considerar ter uma equipa de sub-17 e outra de sub-20, mas poderia ser um risco, pois além de serem adolescentes, não estão motivados para seguir carreira desportiva no hóquei e chegar ao topo, até porque esta não é uma modalidade muito divulgada na região algarvia.

“A maioria não tem essa ambição sequer. A missão deles é jogar enquanto poderem e depois deixar. Em Lisboa e Porto, onde a disciplina está bem implementada, não é assim. Os miúdos podem estar em qualquer clube, mas desde pequenos querem ser jogadores de grandes equipas, como o FCP, o SCP, o SPL, o Valongo, o Paço de Arcos”, exemplifica.

Por outro lado, no início da época pode até haver um número mínimo de jogadores (seis) para constituir uma equipa que integre a competição, mas se a meio da época, por qualquer razão, um deles abandona a modalidade, o clube terá que pagar uma pesada multa, colocando ainda em causa a restante equipa, que já não poderá continuar nas provas.

“Todas as equipas que temos surgem em continuidade das épocas passadas. No entanto, há cinco anos não havia seniores. Resolvemos constituir uma nessa altura, mas correu mal, pois apesar de termos concluído a época, na fase final estivemos sempre a jogar com o limite mínimo de jogadores. Nos anos seguintes não tivemos seniores, mas como no ano passado tínhamos atletas de sub 17 e 20, resolvemos apostar de novo”, refere o treinador. Isto porque também a Federação abriu o leque de oportunidades ao permitir que uma equipa de um escalão possa integrar jogadores do escalão imediatamente anterior.

“Esta mudança, para os clubes pequenos, é importante. Antes limitavam a três atletas. Agora mudou a lei. Se, inclusive, o clube quiser pode jogar com uma equipa de sub-13 nos sub-15. Ficámos com muito mais opções. Embora o nosso objetivo seja ter os atletas por escalão, infelizmente ainda não conseguimos”.

Hoje, conta com equipas de hóquei nos escalões de benjamins, escolar, sub-13, 15, 17 e 20, e tem a equipa de seniores a competir na terceira divisão. São já 80 atletas, distribuídos pelas diversas categorias. A Elite Cup, que decorreu no final de setembro no Pavilhão Gimnodesportivo de Portimão, ajudou a relembrar ou a dar a conhecer aquele desporto, mas Carlos Resende acredita que só no próximo ano haverá um despertar mais consistente para este evento. Ainda assim, já nota que o evento levou ao clube mais atletas.

Daí a formação, sobretudo nos escalões mais jovens, assumir também um importante papel. “É a base de qualquer clube. Se nós tivermos uma forma de ir mantendo e rodando os atletas nos escalões mais baixos, nos Benjamin e Escolar, que equivalem aos sub-8 e sub-11, conseguimos sempre ter alguns atletas que continuem o percurso”, explica.

“Estamos a tentar ganhar novo fôlego. Se contabilizarmos a patinagem artística no clube chegamos perto de cem atletas”, salienta. Outra das novidades deste ano é a junção do Hóquei Clube Portimão ao Clube Amparo Recreativo e Desportivo (CARD), que deslocaliza assim cerca de 20 atletas para os treinos nos Montes de Alvor. “Em abril, resolvemos avançar”, assegura.

 

MASSIFICAR A MODALIDADE FOI PRIORIDADE

“Há cinco anos, tínhamos 15 atletas praticantes”, contabiliza Carlos Resende. Foi preciso ‘puxar pela cabeça’ para motivar as crianças a praticar as disciplinas da patinagem. Por isso, o também treinador avançou com um projeto ao qual deu o nome de ‘Portimão a Patinar’, que foi apresentado nas escolas. A estreia foi no Centro Escolar do Pontal, do Agrupamento de Escolas Poeta António Aleixo, e foi direcionado para alunos entre o primeiro e o quarto ano, do primeiro ciclo do ensino básico.

O problema colocado ao final de um ano é que o clube estava implementado nos Montes de Alvor e os potenciais atletas estavam numa escola a alguns quilómetros de distância. Foi então proposto à escola local, nos Montes de Alvor, a concretização do projeto. Também Alvor se mostrou interessado, até que uma empresa responsável pelas Atividades Extra Curriculares (AEC) resolveu convidar o treinador e presidente do clube a lecionar patinagem nas AEC.

“Se o meu objetivo era implementar a patinagem estava no bom caminho. Então comecei, além dessas duas escolas, a dar a patinagem na Pedra Mourinha e Chão das Donas. Hoje já tenho um colega que está no Pontal outra vez. Lutou-se muito e conseguimos ir para o Pavilhão Gimnodesportivo dar a iniciação”, conta.

Neste espaço central de Portimão, o clube consegue ensinar as bases da patinagem aos mais novos, para que depois possam aprender a dominar o ‘stick’ ou optar pela patinagem artística. “A massificação da modalidade não é uma tarefa fácil. Estas disciplinas contam com alguns entraves e não é uma modalidade que depende só de correr ou dominar uma bola, como o futebol, voleibol, andebol ou basquetebol”, salienta.

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