Paulo Sá (CDU): “O Algarve afundou-se numa recessão económica”

Paulo Sá_CDU

Paulo Sá, que lidera, de novo, a lista de candidatos a deputados da CDU pelo Círculo Eleitoral de Faro, garante, nesta entrevista por escrito ao site da revista Algarve Vivo, que continuará “a luta até à abolição das portagens” na A22/Via do Infante, descreve como foi a sua ação na região e o seu mandato na Assembleia da República nos últimos quatro anos e qual o momento mais difícil e o mais gratificante. E promete retomar propostas relativas à recuperação do aparelho produtivo no Algarve e melhoria da prestação de cuidados de saúde às populações.

José Manuel Oliveira

Ainda acredita na abolição das portagens na Via do Infante? Porquê?

As portagens na Via do Infante não são uma inevitabilidade. São uma opção do PS, PSD e CDS, visando proteger as fabulosas rendas auferidas pelos grupos económicos que exploram a concessão da Via do Infante. Podendo optar pela renegociação dos contratos de concessão, transferindo risco para a concessionária e reduzindo as escandalosas taxas de rendibilidade, estes três partidos preferiram colocar o fardo sobre os ombros dos cidadãos e das micro e pequenas empresas. A CDU tem lutado, no Algarve e na Assembleia da República, pela abolição das portagens na Via do Infante. Nos últimos quatro anos propusemos oito vezes na Assembleia da República a abolição dessas portagens; oito vezes PS, PSD e CDS chumbaram as nossas propostas. Continuaremos esta luta até à abolição das portagens, acreditando que isso não só é possível, como necessário.


Qual será a primeira medida que tomará a nível do Algarve se for eleito, de novo, deputado? E a nível nacional? Porquê?

Nos últimos quatro anos, a CDU desenvolveu uma notável intervenção na frente parlamentar, assente no contacto com a realidade regional e em profunda ligação com os trabalhadores e as populações. Realizámos, em todos os concelhos do Algarve, 312 reuniões, visitas e contactos com as mais diversas entidades; apresentámos na Assembleia da República oito projetos de lei e 24 projetos de resolução sobre questões regionais; dirigimos ao Governo 286 perguntas e requerimentos sobre múltiplos aspetos da realidade algarvia. Entre as iniciativas parlamentares da CDU contam-se as propostas de abolição das portagens na Via do Infante e de conclusão das obras de requalificação da EN 125, as propostas relativas à recuperação do aparelho produtivo regional, a denúncia da destruição do Serviço Nacional de Saúde na região e as propostas de melhoria da prestação de cuidados de saúde às populações, a proposta de dinamização da atividade portuária como instrumento de desenvolvimento económico da região algarvia, entre muitas outras. Estas e outras iniciativas serão retomadas na próxima legislatura.


O que foi mais difícil para si como deputado nesta legislatura? Porquê? E o que mais agradou? Qual o motivo?

Na presente legislatura, o Governo, aplicando o programa da Troika negociado e assinado por PS, PSD e CDS, levou a cabo uma brutal ofensiva contra os direitos e as condições de vida dos trabalhadores e do povo, que se traduziu no corte de salários, pensões e prestações sociais, na liquidação de direitos laborais e sociais, num brutal aumento dos impostos que recaem sobre os rendimentos do trabalho e no ataque às funções do Estado na Saúde, Educação e Segurança Social. Contrariar esta brutal ofensiva da política de direita exigiu um redobrado esforço de intervenção e luta, na qual me envolvi como deputado do Grupo Parlamentar do PCP. É uma luta difícil, mas ao mesmo tempo gratificante, porque necessária para devolver aos portugueses a perspetiva de um futuro melhor.


Quais os principais problemas do Algarve e como será possível resolvê-los?

Portugal vive um dos momentos mais negros da sua história recente, em consequência da política de direita levada a cabo por sucessivos governos do PS, PSD e CDS, agravada nos últimos cinco anos pelos PEC e pelo programa da Troika. No Algarve, as dramáticas consequências desta política foram amplificadas pelas vulnerabilidades da economia regional, resultantes de um modelo errado de desenvolvimento que assenta quase exclusivamente no turismo e atividades complementares e que despreza as atividades produtivas na agricultura, nas pescas e na indústria. Em consequência, a região afundou-se numa profunda recessão económica, bem maior do que a registada a nível nacional, e teve anos a fio a maior taxa de desemprego do país. É preciso e possível resolver os problemas do Algarve e do país, mas isso exige uma rutura com a política de direita e a adoção de uma política alternativa, patriótica e de esquerda, proposta pela CDU.


Estaria disponível para integrar um futuro governo? Em caso afirmativo, em coligação, com que partido, qual a pasta e porquê?

A CDU está preparada para assumir todas as responsabilidades que o povo português lhe queira atribuir, incluindo a participação num Governo que, rompendo com a atual política de direita – que arruinou o País e empobreceu os portugueses -, concretize uma política patriótica e de esquerda que garanta um futuro de justiça social e progresso num país soberano e independente.


O que pensa sobre cada um dos restantes candidatos a deputados que encabeçam as listas dos partidos e coligações políticas com assento parlamentar pelo Círculo Eleitoral de Faro – aspetos positivos e aspetos negativos -, José Apolinário (PS), José Carlos Barros e João Vasconcelos (Bloco de Esquerda)?

Mais importante do que a caraterização pessoal dos cabeça-de-lista dos partidos e coligações que se apresentam às eleições do próximo dia 4 de outubro é a análise das políticas defendidas por cada um desses partidos e coligações. Ao longo dos anos, sucessivos governos do PS, PSD e CDS têm levado a cabo uma política de direita, determinada pelos interesses do grande capital e subordinada à integração capitalista na União Europeia, que conduziu o país ao declínio económico, ao retrocesso social, ao empobrecimento do regime democrático e à perda de soberania. A CDU propõe ao povo português uma política patriótica e de esquerda, baseada nos princípios e valores da Constituição da República, que integra como principais objetivos o desenvolvimento económico e o pleno emprego, a justiça social, a elevação das condições de vida do povo, o desenvolvimento do aparelho produtivo e da produção nacional, o controlo público dos sectores estratégicos da economia, o aprofundamento da democracia e a afirmação da independência e soberania nacionais.

 


Perfil

Natural de Guimarães, doutorado em Física e professor da Universidade do Algarve desde 1993, aprecia polvo à lagareiro, não é adepto de qualquer clube, gosta do livro Levantado do Chão, de José Saramago, e passa férias nesta região do sul do país

Nome: Paulo Miguel de Barros Pacheco Seara de Sá

Data do nascimento: 12 de julho de 1965 (50 anos)

Naturalidade: Guimarães

Tem 2 filhos, de 16 e 19 anos

É professor universitário, na Universidade do Algarve, desde 1993

Militante do PCP (Partido Comunista Português) desde 1983

Formação académica: Doutoramento em Física pelo Instituto Superior Técnico, em 1993

Gastronomia/Prato preferido: Polvo à lagareiro

Clube de que é adepto: Não sou adepto de qualquer clube

Religião: Ateu

Qual o filme que mais gostou? “Cinema Paraíso” de Giuseppe Tornatore. E o livro? “Levantado do Chão” de José Saramago

Onde costuma passar férias? No Algarve

Virtudes, defeitos e o que mais aprecia nas pessoas e o que mais detesta foram questões que Paulo Sá preferiu deixar em branco.

 

 

 

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