OPINIÃO | Paineleiros, Comentadeiros & Jornaleiros

Pedro Manuel Pereira | Historiador


Quanto mais os paineleiros, comentadeiros e jornaleiros baterem no Chega, mais se atascam na lama. Este partido que ficou em primeiro lugar no Algarve, nas últimas eleições legislativas, e que congregou um pouco por todo o país mais de um milhão de eleitores, passando de doze para 50 deputados, foi um choque para os partidos enquistados no poder há quase cinquenta anos, nomeadamente os partidos do centrão (PS e PSD), tem obrado em governanças rotativas, que resultam na evidência de jovens e menos jovens qualificados, continuarem a fugir (emigrar) deste país para fora como só visto nos anos sessenta do século XX, em tempos de ditadura, para fugirem à miséria e à guerra do Ultramar.

Em contrapartida os governos à vez, com especial destaque para os governos PS de Sócrates que encomendou a Troika de má memória, e os últimos oito anos de desgovernação socialista, escancararam as portas à mão de obra desqualificada, asiática e de outras paragens, para substituir os portugueses compelidos a emigrar em busca de condições de vida condignas, mantendo os salários miseráveis aos que entram pelo país dentro, prosseguindo desta forma a pandemia de remunerações de trabalho ao nível de uma qualquer república bananeira, por banda da maior parte dos residentes neste espantoso e maltratado país.

Não obstante ter chefiado os governos mais ricos (e os maiores de sempre) dos últimos cinquenta anos, e de ter sido o segundo 1º ministro que mais tempo governou Portugal em democracia, em oito anos de exercício de poder, António Costa não fez uma só reforma do Estado, nem obras estruturais eternamente adiadas como o aeroporto ou o TGV. Muito embora tenha aumentado o salário mínimo, deixou enterrar o salário médio e apesar de ter distribuído subsídios/esmolas, conseguiu a proeza de aumentar o número de pobres.

Os seus governos – sempre rodeado de tralha socrática – foram um completo desastre para o país, envoltos em escândalos que levaram à demissão de vários ministros e secretários de estado, para além da corrupção, essa grande doença fatal ter continuado a alastrar pelo país como fogo à palha.

Passados oito anos desta bagunçada, o grande legado de Costa ao país, foi uma economia dependente da receita dos impostos (bem superior aos do tempo da troika) do turismo, uma classe média à beira do desespero e o aumento do número de pobres e dos sem abrigo (maleitas graves), que o actual governo de coligação PSD/CDS-PP, vem tentando colmatar, corrigindo flagrantes injustiças laborais e sociais que se arrastavam há vários anos, nomeadamente nas áreas dos profissionais de Saúde, do Ensino, das Forças Armadas, dos ex-combatentes e dos corpos policiais, entre outros. Entrementes, as cabeçorras pensantes, os comentadeiros, paineleiros e jornaleiros, continuam a botar faladura de cor, por ignorância, má-fé, e/ou porque são pequenos burgueses arregimentados e avençados por mandantes partidários sem eira nem beira. Indigentes mentais sem preocupação pelo futuro da nação ou dos portugueses.

A abstenção diminuiu nas últimas eleições, porque os jovens não cuidam de saber o que foi o 25 de Abril de 1974 (nem lhes é ensinado) e quando conhecem o programa do MFA (Movimento das Forças Armadas), não compreendem porque é que Portugal, quase cinquenta anos depois, está na cauda dos países da UE, com um estado de saúde pública só agora a sair de um estado pré-comatoso, um ensino onde os professores eram tratados pelos anteriores governos como serventuários, umas forças de segurança maltratadas e desautorizadas, umas forças armadas residuais (e logo em tempo de guerras em regiões próximas), uma dramática falta de habitação, falta de ofertas de emprego condizentes com a formação dos jovens, com uma verdadeira epidemia de corrupção em que, quanto maior o nível da corrupção, mais impunidade parece reinar, com uma Justiça forte com os fracos e fraca com os fortes, com um custo de vida brutal e baixos salários em média, etc., etc..

Em 25 de Abril de 1974, milhões de portugueses tiveram a felicidade (e utopia) de assistir ao restauro da democracia. Logo que lhes foi dada a oportunidade de votar, fizeram-no com índices mínimos de abstenção, quer nas eleições para a Assembleia Constituinte, quer para as autarquias. Porém, passada a euforia, à medida que nos anos seguintes mais eleições houve, o número de abstencionistas foi aumentando. É claro que os partidos com assento parlamentar, nesse meio tempo não se preocuparam muito com isso, uma vez que adoptaram (erradamente) o postulado das seitas, ou seja, consideraram os seus adeptos como fiéis e quanto aos outros…

Foram esses, os que se entusiasmaram em 1974 e aos poucos, ao longo dos anos se desencantaram com a prática da alternância do poder bipartidário, foram deixando de votar, e mais os jovens, sem perspectivas de futuro. Face a novos partidos que tem surgido, aqui se encontra a explicação para a redução dos índices de abstenção nas últimas eleições legislativas.

É de desejar, que nas próximas eleições, o nível de abstenção se reduza ainda mais, dado o espectáculo público deplorável que alguns dos partidos da oposição têm protagonizado, relativamente a este governo agora em gestão.

Face ao cenário de (in)governabilidade política, criado por alguns partidos da oposição, é de prever que para essa gente, só pode assumir o cargo de governante, uma criatura que nunca tenha tido ocupação laboral, uma outra vida que lhe tenha permitido ganhar o seu sustento e o da sua família. Prevendo-se assim, que o próximo primeiro ministro saído das eleições que se seguem, seja uma personagem saída dos bancos da escola, sem prática laboral, que nunca tenha tido uma multa de trânsito, se tenha envolvido em cenas de pancadaria, apanhado uma bebedeira, ou deixado para trás uma conta por pagar, ou até, uma pequena loja em sociedade para ganhar uns cobres, entre outras minudências previsivelmente inerentes ao comum dos mortais. Só assim, estará a salvo dos caceteiros dos partidos de oposição ao seu.

Nesta etapa da História de Portugal, é evidente – e a realidade o demonstra – que o problema do país é estrutural, sistémico e de mentalidades retrógadas, que funcionam assim a modos como os ponteiros de relógio ao contrário. Só com urgentes reformas do sistema político/eleitoral, do sistema de ensino e valorização da carreira docente (que já teve início nestes últimos meses), de ordenamento do território, da valorização dos trabalhadores em geral e da meritocracia, de reforma da Justiça, da dignificação dos órgãos policiais, da reorganização do Serviço Nacional de Saúde, das chefias dos vários órgãos do aparelho autárquico e dos organismos do aparelho do Estado em geral, que devem ser de carreira e não de nomeação política, entre outros aspectos, será possível inverter o rumo suicidário da nação.

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