Basquetebol: “Clube tem condições para competir junto dos melhores”
Texto: Hélio Nascimento
A história de vida de Luís Modesto regista muitos traços paralelos à do Imortal. Tem 45 anos e sente o clube desde os 11, numa ‘herança’ que começou no avô e vai continuar tempo fora. Em entrevista ao Algarve Vivo, o basquetebol é, naturalmente, o assunto dominante.
Em termos pessoais, sendo uma referência do Imortal, o que sentiu com a passagem do 100º aniversário?
Viver o 100º aniversário de um clube que represento há 34 anos consecutivos – porque, para mim, Imortal há só um – é um orgulho enorme. Começou com o meu avô (que se fosse vivo teria agora 85 anos), depois o meu pai, comigo e com o meu irmão, e já existem descendentes para que a família Modesto possa continuar a ajudar a manter o Imortal como o grande clube de referência de Albufeira e do Algarve. É lógico que o centenário não pode ser comemorado como merece a celebração de um aniversario desta importância e longevidade, mas, no entanto, julgo que o sentimento da passagem deste aniversario de todos os que gostam do Imortal é de satisfação e privilégio de assistir em vida a uma data tão importante.
Tem um percurso de excelência. Quer recordar alguns passos?
No basquetebol do Imortal iniciei-me como atleta aos 11 anos (1986) e ao longo da minha carreira pertenci às equipas que conquistaram alguns dos títulos mais importantes do clube, quer na formação quer nos seniores. Após terminar a carreira de jogador iniciei a de treinador, primeiro na formação e mais tarde nos seniores, onde, nos últimos anos, consegui colocar, com a ajuda de todos os restantes agentes, o Imortal no topo do basquetebol nacional.
Comparando com a altura em que o basquetebol se ‘emancipou’, o clube está melhor? Ou na mesma?
A necessidade da ‘emancipação’ deveu-se única e exclusivamente ao desinteresse que a direção do clube, à data, tinha para com a secção de basquetebol. Não cumpria com as obrigações financeiras para com atletas e treinadores, e, até hoje, essas mesmas obrigações nunca foram cumpridas, apesar de o basquetebol ser a modalidade do clube que mais prestígio deu à instituição. Atualmente, o Imortal tem uma nova direção, já há alguns anos à frente dos destinos do clube, e, embora eu acompanhe por fora, posso dizer que está bem entregue. Finalmente, deparamos com uma vitalidade completamente diferente, para melhor, do que quando o basquetebol se separou do Imortal Desportivo Clube.
Vamos ao basquetebol: a época está a correr bem melhor do que há dois anos, na última passagem pela divisão principal. A que se deve?
Deve-se principalmente à reestruturação feita no plantel na época passada, numa melhor planificação ao nível técnico, com melhores e mais meios humanos, e à qualidade dos quatro novos reforços que entraram na equipa na presente época. Paralelamente, é também fundamental o apoio dos nossos patrocinadores e o incansável trabalho da direção do clube. Juntando tudo isto, temos a chave para os bons resultados, embora o campeonato ainda vá numa fase inicial.
A ‘lição’ de há dois anos foi então proveitosa. Em que termos?
Sim, claramente que sim. A análise feita no final da época 2018/19 foi fundamental e muito proveitosa para identificarmos e corrigirmos os erros cometidos e que levaram a que os resultados desportivos não tivessem sido os almejados. A planificação da presente época começou a ser pensada e executada há um ano, e aí tenho a certeza que demos um passo determinante para que na presente época possamos garantir os nossos objetivos.
Desceram de divisão e subiram de imediato…ou seja, mantiveram a mesma atitude e a mesma ambição?
Mantivemos a certeza de que o Imortal tem condições para competir junto dos melhores. O clube, atualmente, oferece excelentes condições aos seus agentes, fruto do grande trabalho e dedicação da direção do clube e do apoio dos patrocinadores, onde se destaca o do Município de Albufeira, que nos faculta as instalações desportivas, cujas condições, como se sabe, são excelentes.
Este plantel supera o anterior?
É complicado estarmos a comparar planteis de épocas diferentes porque ambos não vão ter os mesmos confrontos e as respostas são diferentes. Posso dizer, com todo o respeito por todas as equipas que já treinei, que o plantel da época passada foi o melhor que já tive até hoje, fazendo a grande diferença na união do grupo, na capacidade de os jogadores mais experientes ajudarem a integrar os mais jovens e da forma dedicada que treinavam todos os dias. O plantel deste ano é uma extensão do plantel da época passada e os resultados continuam a ser muito positivos, pois os novos jogadores também se integraram muito bem.
A curto/médio prazo, que objetivos?
Os nossos objetivos são claramente a manutenção na Liga Placard e a estabilização do clube nesta liga. Sabendo das dificuldades que as empresas atravessam, fruto da pandemia que estamos a viver, julgo que se tivéssemos mais algumas empresas com a coragem que a Luzigás e o Grupo NAU demonstraram, e com a continuidade do apoio financeiro que a Câmara Municipal de Albufeira nos concede, poderíamos almejar lutar por outros objetivos mais ambiciosos.
Para além dos seniores, quantas equipas mais? Quantos atletas ao todo?
O Imortal Basket tem neste momento todos os escalões masculinos e femininos. São mais de 12 equipas e o Minibasquetebol. O número de atletas deve rondar os 250 atletas na totalidade.
Como o Imortal Basket Clube se ‘emancipou’
O Imortal de Albufeira é o clube algarvio com maiores tradições no basquetebol. O seu período áureo ocorreu nas décadas de oitenta e noventa, quando disputou o principal campeonato português e teve a dirigi-lo, entre outros, treinadores de referência como Mário Palma, Jorge Araújo e Carlos Barroca. Não admira, na circunstância, que o basquetebol se tenha tornado a modalidade mais querida na cidade, suplantando o futebol, para o que também contribuiu o facto de a primeira infraestrutura desportiva ter sido um pavilhão.
Nas épocas de 1995/96 e 1998/99 o Imortal foi campeão nacional da então I Divisão, títulos que se seguiram aos dos escalões terciário (82/83) e secundário (84/85). Porém, os primeiros tempos na, entretanto, criada liga profissional não correram de feição, o que levou o presidente da altura, Fernando Barata, a desinvestir, ao mesmo tempo que muitos jogadores responsáveis pelo desenvolvimento da modalidade foram abandonando a competição.
A chama, porém, nunca desapareceu, e, aos poucos, antigos atletas, dirigentes e pessoas amigas do clube começaram a sonhar com a criação de uma secção autónoma, ou ‘clube-satélite’, para recolocar o basquetebol a um nível de acordo com os pergaminhos do clube. A ideia até foi mais longe e em 24 de junho de 2011 nasce o Imortal Basket Club, dando eco à autonomização da modalidade e com o principal objetivo de prosseguir um trabalho de referência na formação dos jovens. De então para cá o trabalho desenvolvido tem justificado os maiores encómios, traduzidos, de resto, em certificações de escolas de minibasquete e em diplomas de mérito atribuídos pela Federação Portuguesa de Basquetebol.
Em todos os escalões, o Imortal já se sagrou várias vezes campeão regional, tendo ainda vencido três Taças Nacionais em sub-18/20 e um Campeonato Nacional de sub-14 em 2017/18. A nível sénior, para além dos êxitos enquanto Imortal Desportivo Clube, registe-se agora as duas subidas ao principal escalão, onde, aliás, a equipa milita esta época.