Andebol é agradável surpresa no Clube de Futebol Boavista

Texto: Hélio Nascimento | Fotos: D.R.


Fundado em 1945, o Clube de Futebol Boavista voltou a apostar no andebol, há cerca de um ano, e o resultado não podia ser melhor, uma vez que o número de atletas rapidamente saltou para as oito dezenas. Em meia dúzia de meses, ou seja, desde que a época começou, as inscrições sucedem-se a um ritmo impressionante.

“O andebol chegou para ficar. É a modalidade com maior número de presenças e os jovens têm aderido de modo muito significativo”, destaca Otílio Coelho, o presidente da Direção e elemento de grande carisma no seio do clube.

A explicação é detalhada por Luís Carrilho, o coordenador, que transitou do Portimonense para o Boavista, levando consigo boa parte da equipa técnica e ainda alguns jogadores. “Falámos com os responsáveis, em particular com o diretor desportivo Ruben Murteiro. Aceitaram-nos de bom grado e temos continuado o projeto. Toda a gente gostou”, afirma, dando conta das oito equipas em atividade, dos minis e bambis aos sub-16 e sub-18, no total aproximado de 80 miúdos em atividade, um terço dos quais ‘captados’ nos derradeiros dois meses.

Além do andebol, o Boavista tem também futsal, a bandeira dos últimos anos, mas agora só com seniores, e karaté. “O futsal já custa dinheiro, com despesas de vária ordem, incluindo subsídios aos treinadores. Já não é só por gosto”, vinca Otílio Coelho. Acresce que no concelho há mais equipas de futsal, como o Gejupce, Pedra Mourinha, Portimonense, logo os jovens têm muito por onde escolher. Já no andebol é diferente. “Só fora de Portimão, em Lagoa e Lagos, se joga andebol, pelo que é mais fácil captar a juventude. Ao mesmo tempo, vamos às escolas, dinamizando e divulgando a modalidade”.
 
“Virar as calças do avesso”
Feita a introdução, importa dedicar atenção a uma história de 79 anos, contada pelo presidente, que recebeu o Portimão Jornal na sede da instituição. Otílio Coelho tem 63 anos e desde tenra idade que vive neste bairro da Boavista. “É uma ligação que vem de sempre. Morava pertinho e era aqui que nos juntávamos. Lembro-me de uma casinha térrea, que tinha um quarto, o bar onde jogavam às cartas e um quintal que funcionava como salão de baile. Havia um jogo de matraquilhos, uma mesa de pingue pongue e os menores de 18 anos não jogavam cartas nem podiam permanecer no corredor”, recorda.

Otílio entrou na Direção quando atingiu a maioridade e, desde então, correu todos os cargos, até chegar a presidente. “Ninguém queria assumir”, atira, resignado com a voracidade dos tempos. É o presidente da Direção há cerca de um ano e testemunha “alterações profundas, tipo virar as calças do avesso”.

O Boavista, nos seus primórdios, era um local de reunião e convívio, em que a miudagem jogava à bola e andava de bicicleta na rua. “Era grande a união, com muitos elementos da classe operária, alguns apenas remediados. A diferença? O carisma despareceu e hoje os tempos são outros. Antes poucos tinham televisão, viam-se as telenovelas e era um ponto de encontro, social e até cultural, agora é local para beber qualquer coisa e falar um bocado, até já se perdeu a tradição de jogar cartas”.

O Clube de Futebol Boavista era para ser uma filial do Belenenses, depois não houve acordo e a aposta foi ‘copiar’ o xadrez do Boavista, que ainda hoje marca os equipamentos do clube, embora com símbolo próprio. Além do futebol, o desporto que serviu de rampa de lançamento, também havia ciclismo, petanca e, mais tarde, atletismo e pesca.

Carolas contam-se pelos dedos
“Chegámos a fazer uma Volta ao Algarve e a levar perto de 300 participantes a um concurso de pesca em Sagres”, prossegue Otílio. O clube esteve depois parado alguns anos, altura em que se procedeu à compra das instalações. “Tínhamos esse dinheiro, fruto do que fazíamos em bailes e nos santos populares, que eram uma tradição. Deu para comprar o terreno e a casa ao senhorio e fizemos obras”. A nova sede tem três andares e ficou pronta em fins dos anos 80, tendo sido oficialmente inaugurada em 1994.

“Reativámos a atividade e começou o futsal, com um arranque forte e equipas em todos os escalões”. Agora, só há seniores, a par da excelente ‘fornada’ dos jovens no andebol, sem esquecer o karaté, a dar os primeiros passos. “Temos boas relações com os restantes clubes do concelho, não há rivalidades doentias nem se colocam obstáculos”.

Para dar um salto maior, reconhece o presidente, é necessário que haja mais recursos humanos. “Somos 17 no papel, mas se calhar só dois ou três é que trabalham. Temos de respeitar aquilo que cada um pode dar, não se pode exigir muito, mas aquela carolice a que estávamos habituados… contam-se pelos dedos os carolas”, lamenta Otílio, gerente de uma empresa vidreira em Albufeira e, por isso, sujeito a deslocações diárias.
“Preciso de mais apoio. Muitas vezes, não tenho ninguém em quem delegar, embora quem está ligado ao andebol e futsal também dê muito de si próprio”, argumenta. O Boavista tem mais de 500 sócios, que pagam nove euros por ano, e beneficia do contrato-programa com a Câmara Municipal de Portimão, para além de alguns patrocínios. O bar da sede é explorado pela Direção.


 
Sustentabilidade para novos projetos
Ruben Murteiro tem 41 anos e é uma referência do futsal na região, tendo jogado, para além do Boavista, no Gejupce, Casa do Benfica de Portimão, Pedra Mourinha e Chão das Donas, entre outros, ou seja, por quase todos os clubes da cidade. “Passei a integrar a Direção há 15 anos, os últimos dez com maior dedicação”, diz o dirigente responsável pelas modalidades, destacando, naturalmente, o crescimento atual do andebol.

“A Direção é extensa, mas a colaboração é pouca”, sublinha, indo ao encontro às palavras do presidente. O elogio vai para o ‘staff’ do futsal, que integra Sérgio Carolino, Maurício, João Dinis e Luís Fernandes, e para o do andebol, com Luís Carrilho, Luís Martins, Nelson Martiniano, Paulo Pinto e Ricardo Campos. “Acho que estamos com mais visibilidade e pretendemos recuperar o vigor. Fizemos alguns eventos no verão passado, mas, obviamente, tem de haver sustentabilidade para novos projetos”, enuncia este encarregado de uma empresa de revestimentos.

“As despesas com os equipamentos são por nossa conta e damos sempre um miminho aos miúdos em dia de jogos. O Boavista tem um cariz social de que não abdica e que está acima da parte desportiva”, garante Ruben Murteiro, adiantando que os mais necessitados têm sempre as portas abertas. “Somos adeptos das boas práticas e dos bons ensinos”, sublinha.

As modalidades do clube evoluem no Pavilhão Municipal da Boavista, mas alguns treinos decorrem em pavilhões de escolas, como a da Bemposta e a José Buísel.
 
Formar atletas no futsal
Por sua vez, Otílio Coelho confessa que gostava de ‘dar a volta’ a certas situações. “Gosto muito de começar por baixo e pretendia organizar melhor este espaço, mas estou aqui há um ano e a vida é assim, com espinhos. Ainda agora houve duas demissões. Quero fazer alguma coisa, mas, sozinho não consigo, por muito que pense nisso. Tem de haver mais abertura”.

Seja como for, tem ideias e planos. “O Boavista tem de abrir mais as portas às raparigas, embora disponha de duas equipas femininas, sub-16 e sub-18, no andebol, bem como conjuntos mistos, nos escalões mais baixos”. A esta aposta, Ruben Murteiro junta outra, a de dispor de formação no futsal. “É necessário cativar mais miúdos para levarmos por diante este projeto”, que, na circunstância, seria uma boa base, tipo prata da casa, para ‘transportar’ até aos seniores. O clube, acrescente-se, tem uma equipa de veteranos, que participa em encontros amigáveis.

O objetivo, indubitavelmente, é o de “crescer sempre”, com a convicção de que a juventude, desde que se sinta bem, é a melhor forma de divulgar o clube, através do “palavra passa palavra, que é a melhor comunicação” para atrair mais praticantes. Nos últimos tempos, é através deste meio que o Boavista tem levado por diante a missão de ser um baluarte do desporto na cidade. Quem recebe bem, tem sempre direito a sonhar…

Luís Carrilho: “Isto é património nosso”

Luís Carrilho é o coordenador do andebol, modalidade que abraçou desde os 14 anos, quando jogava no Lagoa Académico Clube. Uma paixão que transitou para Portimão e que agora quer que constitua uma “mola propulsora” para o desenvolvimento do Boavista. “Estamos abertos a tudo e todos e todas as modalidades são para crescer, sempre em prol do clube, até porque os pais também ajudam. Isto é património nosso e a ideia passa pelo crescimento de todos os escalões, criando uma base forte nos pequenitos”, comenta o dirigente. O objetivo consiste em levar os mais jovens até aos escalões mais altos, “não digo aos seniores, mas pelo menos aos sub-18, para que essas equipas sejam constituídas maioritariamente pelos atletas da casa”. Em paralelo, Luís Carrilho, que é o responsável pela manutenção dos campos de golfe dos Salgados, quer “mostrar o andebol nas escolas, tal como as outras modalidades, com a forte disposição de aumentar o número de praticantes e solidificar o crescimento”.  

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