Stephen Januário: “Quando vemos os miúdos felizes ganhamos ainda maior alento

Texto: Hélio Nascimento | Foto: Portimão Jornal


O Skate Clube Portimão tem cerca de ano e meio e nasceu, sobretudo, para divulgar, promover e impulsionar a prática da modalidade, ao mesmo tempo que tornou ainda mais fortes os laços de amizade entre aqueles que, desde miúdos, deslizavam pelas ruas da cidade e às vezes até tinham de fugir à polícia. Mas isso já foi há muitos anos. Hoje, há espaços adequados para os skaters libertarem a habilidade que os carateriza e prenderem a atenção de quem gosta deste espetáculo.

Ao mesmo tempo, a iniciação a esta modalidade tem vindo a ganhar mais adeptos, para gáudio de Stephen Januário, o principal responsável pelo Skate Clube Portimão, que durante esta conversa aludiu vezes sem conta ao prazer que lhe dá ver um sorriso rasgado na cara de um miúdo, na sequência de uma manobra mais ‘espinhosa’. Stephen nasceu em França, onde os pais então viviam, tendo “andado cá e lá” bastante tempo. Todavia, Portimão é agora a sua casa há muitos anos.

“Tenho 49 anos e a loja vai nos 25. O clube é que é mais recente, fez um ano em março”, começa por contar, precisamente no espaço a que se refere, a ‘Central Skateshop’, que, naturalmente, comercializa artigos de skate, para além de outros igualmente desportivos. “Sempre andei de skate, com os meus amigos, mas não tínhamos clube que nos representasse e foi nessa sequência que decidimos criar o Skate Clube, para impulsionar a modalidade e ter mais dinâmicas e ajudas. É malta da minha geração, à qual se juntaram outros skaters de várias faixas etárias”.

A competição pode esperar
A ideia comum falou mais alto e o projeto avançou, com sucesso, traduzido nos cerca de 40 praticantes. “Há muita dinâmica e criamos diversos eventos”, prossegue Stephen, esclarecendo que não é nos campeonatos que a coletividade está mais focada.

“O que nos interessa é a escola, passando aos miúdos a motivação pelo skate. Além da iniciação também existe competição, mas é a escola que norteia os nossos princípios fundamentais”, sublinha, exemplificando através de atividades estabelecidas ao longo do ano com associações.

“Vamos buscar as crianças para passar um dia connosco. Também damos aulas nas escolas e todo o feedback tem sido bastante positivo”, realça Stephen, o presidente-fundador que ainda dá aulas.

A Direção engloba nove elementos, “quatro mais ativos”, e o clube está inscrito na Federação, podendo naturalmente participar em provas. Não há ainda grandes resultados, apesar de haver um miúdo que vai obtendo boas classificações. “A competição pode esperar. Temos miúdos de seis e sete anos que não sabiam andar nem se conseguiam pôr em cima do skate, que eram tímidos, e agora estão super à vontade, é essa a nossa maior vitória”.

O grupo, que inclui muitas meninas, é formado por uma maioria de portimonenses, mas também engloba representantes de outros concelhos vizinhos, até porque, destaca Stephen, “há poucos clubes no Algarve”.

Os treinos decorrem essencialmente ao fim de semana, “porque as pessoas trabalham e os miúdos têm outras atividades, mas o balanço é muito bom e os pais estão satisfeitos”, reconhece. Mais difícil tem sido arranjar monitores: as aulas são dadas pelo próprio, por Mário Conceição e por Luís Eduardo, elementos da Direção, tal como Marta, que funciona como relações públicas.

“Uma estrutura como deve ser”
Com um olhar nostálgico, Stephen Januário confessa que o skate sempre foi a sua grande paixão, em especial desde os 12 anos, quando, ainda em Paris, ‘assinou’ uma ligação duradoura. “A capital francesa estava na altura mais desenvolvida na modalidade e nas férias, quando cá vinha, trazia material diverso. Os amigos viam, gostavam e eu até lhes vendia mais barato alguns utensílios a que não tinham acesso por cá”. O nosso especialista na matéria fez competição e foi patrocinado até por marcas americanas. “Ainda continuo a andar de skate, hoje com mais cuidado e muitos alongamentos pelo meio. O praticar é sempre bom. Com amigos, fomos há dias ao Skate Parque de Loulé, um local muito engraçado, onde temos andado a experimentar a ‘piscina’ dessa infraestrutura”.

O clube funciona num parque provisório, atrás da Casa das Artes, que é recente, enquanto a Câmara Municipal avança com as obras no Parque da Juventude, onde tudo começou, embora estas instalações fossem mais vocacionadas para o BMX. “Nós andávamos pelas ruas, às vezes com a polícia atrás, mas agora já não é assim e todos nos damos bem. O novo parque vai ficar uma estrutura como deve ser, se bem que temos a ideia de tentar manter o recinto provisório, para aí dar as aulas. O espaço é do município e ainda não temos sede física, preferimos esperar pela definição do projeto”.

Os principais parceiros do Skate Clube Portimão são a Câmara Municipal e o Burger Ranch sediado na cidade, mas há várias marcas de pranchas que também apoiam e outros “possíveis patrocinadores com quem estamos em conversa e com boas hipóteses de aderirem”. Neste mês de setembro a atividade “volta em força, embora nunca tenhamos parado, mesmo com férias e mais calor”.

Os Jogos Olímpicos abriram muitas portas
A grande evolução do skate deve-se a vários fatores, segundo Stephen, mas o facto de a modalidade ter entrado nos Jogos Olímpicos foi determinante para este assinalável crescimento. “As pessoas começaram a ver a modalidade com outra atenção, tipo isto já não é uma prática só para os miúdos que não têm nada para fazer, um pouco à imagem do que se chegou a dizer do surf. O público gosta e os Jogos abriram muitas portas”.

O skate de rua, tido como o tradicional, reúne maior preferência, mas a outra vertente de competição também ganhou adeptos. “Acho que o verdadeiro espírito tem origem no que dizemos de rua, que eu prefiro, mas o que mais importa é que a modalidade respire e continue a crescer, até porque gerou muitos negócios paralelos, devido às marcas que fazem as pranchas e demais utensílios”.

Voltando aos Jogos Olímpicos, “estávamos cheios de fé, a apoiar o Gustavo e os outros dois portugueses, mas não correu tão bem como se esperava”, considera Stephen. Levantar a cabeça e apoiar é sempre o passo que se segue, até porque levar três skaters a este evento desportivo mundial “foi muito bom”. De momento, Japão, Brasil e EUA são os países mais fortes, e, por cá, Lisboa lidera as estatísticas. Contudo, “desde o norte ao Algarve todas as cidades e até vilas apostam na modalidade, e eu até cito Bensafrim, um exemplo de que há sempre skates parques a nascer”.

O futuro passa, pois, pelo skate, garante Stephen. “Vamos continuar, com a motivação em alta, inclusive porque quando vemos a felicidade dos miúdos ganhamos ainda maior alento. Ainda há dias, um deles realizou uma manobra mais complexa e desatou a gritar e saltar de satisfação, dando abraços a mim e ao pai. Não pode haver coisa melhor e o meu maior propósito é que eles evoluam”, acrescenta, referindo outra imagem marcante, a das crianças que não sabiam andar de skate e “agora já sobem e descem rampas sozinhas”.

CAIXA | Um dia inesquecível com associações da cidade

O Skate Clube Portimão quer ser também um exemplo de cidadania e a prova disso é a ‘permuta’ com associações da cidade, para entusiasmar toda a população e divulgar a modalidade. “Em dezembro fomos buscar miúdos à Catraia, com idades a partir dos 12 anos, para passarem um dia connosco. Houve aulas, almoçámos todos e demos umas prendas, de tal modo que se tratou de um dia inesquecível, inclusive face ao sorriso deles e ao contentamento das educadoras”, narra Stephen, garantindo que a iniciativa se repete no fim deste ano. “Vamos tentar que seja com outra associação. O sorriso dos miúdos é o que dá mais entusiasmo”, salienta, mostrando ao Portimão Jornal testemunhos disso mesmo, na sua loja, a ‘Central Skateshop’, perto da Câmara Municipal.

O clube tem miúdos desde os seis anos, sendo que alguns pais, na casa dos ‘quarentas’, também sentem a adrenalina da prancha. Stephen tem duas filhas e, claro, ambas praticam a modalidade. “No espaço de um ano, melhor era impossível”, acentua. As quedas, na circunstância, fazem parte do processo. Os atletas usam sempre proteções, das joelheiras ao capacete, e, para a iniciação, uma prancha razoável custa mais de 60 euros. Há mais baratas, pouco aconselháveis, e mais caras, se preferir uma gama superior. Se for para competição, todavia, prepare-se para desembolsar mais de 200 euros. “O material tem evoluído bastante e tudo depende da qualidade”, frisa o responsável.

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