Algarve vai estar próximo dos “cem por cento” na Páscoa com turistas ibéricos
Em entrevista à Algarve Vivo, Elidérico Viegas, presidente da direção da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), lembra que a oferta diversificada existente permite preços para todas as bolsas, realça o facto de a desvalorização do euro face à libra e ao dólar atrair visitantes ingleses a esta região e contribuir também para aumentar a procura por parte dos próprios portugueses, mas lamenta a promoção “insufiente ou desajustada” no turismo, assim como a “falta de lideranças”. Numa altura em que se fala de ‘records’ no sector, nega tal ideia, mostrando-se peremptório ao referir que o Algarve ainda está “longe de 2007”, antes da crise económica. Elidérico Viegas aproveita para apelar para a necessidade de “atenção redobrada” das autoridades ao nível da segurança e nota que, por exemplo, a Grécia e as Canárias “souberam aproveitar melhor” a oportunidade suscitada pelo terrorismo internacional.
José Manuel Oliveira
Algarve Vivo – Quais são as expectativas da Direção da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve no tocante à afluência de visitantes durante o período da Páscoa, no mês de abril?
Elidérico Viegas – As nossas perspectivas apontam para uma subida na procura da ordem dos 6 por cento, induzida sobretudo pelos nacionais e espanhóis. A Páscoa marca o princípio da época turística, com os operadores internacionais a iniciarem as suas operações regulares até ao final do mês de outubro, sendo também previsível um incremento da procura por parte dos mercados externos, estimado em cerca de 5 por cento, nomeadamente do nosso principal mercado fornecedor de turistas, o Reino Unido, impulsionada pela desvalorização do euro face à libra e ao dólar, cuja cotação, em termos homólogos, já baixou 13 e 20 por cento, respectivamente.
Algarve Vivo – Tudo aponta para o melhor ano turístico de sempre?
EV – O melhor ano turístico de sempre, ou o ano de todos os recordes, não encontra correspondência no aumento das ocupações das unidades hoteleiras e turísticas do Algarve e, muito menos, nos resultados económicos das empresas. Em 2014, registou-se, de facto, uma subida nas ocupações médias de 3 por cento e um aumento no volume de negócios de 5,1 por cento, tendo a ocupação média sido de 57,2 por cento no Algarve, o que é considerado bastante positivo, atendendo às quebras que se vinham verificando desde 2007. As previsões são para um crescimento de 2,8 por cento nas ocupações, tendo os preços subido, em média, 3,1 por cento. Estas melhorias deixam antever que, no médio prazo, 4 a 5 anos, será possível alcançar os níveis de ocupação e de receitas, indispensáveis para rentabilizar os investimentos. Ou seja, 63,8 por cento em 2008, 68,3% por cento e 70,2 em cento em anos anteriores.
AV – O Algarve vai registar cem por cento de ocupação turística durante a Páscoa ou ficará perto desse nível?
EV- As ocupações durante o período da Páscoa aproximam-se, de facto, dos cem por cento na generalidade dos hotéis e empreendimentos turísticos do Algarve.
AV – Qual é a média de preços dos hotéis (três, quatro,cinco estrelas) por dia e por pessoa nesta altura do ano no Algarve e como vai ser no Verão? Há preços de saldos para captar turistas?
EV – O Algarve dispõe de uma oferta turística bastante diversificada, existindo preços para todas as bolsas. É verdade que o aumento da procura nos últimos dois anos tem permitido às empresas recuperar gradualmente os preços praticados, embora os proveitos ainda se encontrem aquém dos verificados em 2007, por exemplo. Numa economia de mercado, o preço resulta sempre do encontro entre a oferta e a procura. Os padrões internacionais dizem-nos que só é possível controlar e/ou influenciar verdadeiramente a política de preços com ocupações médias / anuais da ordem dos 65 por cento, o que esperamos alcançar dentro de alguns anos.
AV – Quais são as zonas mais procuradas no Algarve e por que mercados?
EV – As zonas mais procuradas são, naturalmente, as que concentram o maior número de camas disponíveis – Albufeira, Vilamoura, Portimão/Praia da Rocha, Monte Gordo. Com a desvalorização do euro, vamos assistir não só a um aumento da procura externa, mas também da procura interna, uma vez que os destinos turísticos concorrentes fora da zona euro passam a ser menos atractivos em matéria de preços, situação que, aliás, justifica o crescimento verificado em 2014 e as previsões optimistas para este ano.
AV – Que fatores condicionam o turismo no Algarve? A Estrada Nacional 125, as portagens na Via do Infante, as ligações aéreas?
EV- Fiscalidade elevada, falta de uma política de transporte aéreo e uma gestão aeroportuária pouco competitiva, promoção turística insuficiente e/ou desajustada das necessidades, dificuldade de acesso ao crédito, preços elevados de água, electricidade, taxas municipais diversas, etc., para além da mencionada EN 125 e as portagens na Via do Infante. O Algarve enfrenta um problema um sério de competências a todos os níveis, incluindo falta de lideranças; tem um problema social grave, consubstanciado numa taxa de desemprego muito elevada e onde o PIB mais desce; a situação financeira das empresas, traduzida numa descapitalização acentuada e um produto que oscila entre a consolidação, a estagnação e o declínio em alguns casos, situação que urge saber resolver e ultrapassar rapidamente. Isto, para além de um problema sério de comercialização e vendas, atendendo a que dispõe de cerca de 50 por cento de capacidade disponível, já para não falar da maior fraqueza regional – a sazonalidade, cada vez mais acentuada.
AV – O terrorismo poderá representar uma ameaça ao turismo no Algarve?
EV – A segurança é o factor mais determinante e decisivo na escolha do destino de férias. Esta é, precisamente, uma das valências competitivas mais importantes do Algarve, face à concorrência mais directa. Sabemos que, no passado recente, a instabilidade em muitos dos nossos concorrentes contribuiu, decisivamente, para melhorar as nossas prestações turísticas. Esta realidade não obsta, antes pelo contrário, à necessidade de uma atenção redobrada por parte das autoridades responsáveis por estas áreas. E se é certo que a chamada primavera árabe (com conflitos no Egipto e na Líbia, nomeadamente – n.d.r.) desviou fluxos turísticos importantes para outros destinos, incluindo o Algarve, não é menos verdade que alguns dos nossos concorrentes mais directos, como as Canárias ou a Grécia, por exemplo, souberam aproveitar melhor estas oportunidades.
AV – Qual o alerta que pretende deixar com vista ao próximo Verão?
EV – O meu apelo vai no sentido de os organismos competentes continuarem a assegurar uma envolvente de qualidade, nomeadamente em matéria de serviços de higiene e limpeza, manutenção de zonas verdes, saneamento básico, saúde, segurança e outros serviços de apoio, como o fornecimento de água, electricidade, comunicações, etc.