Luís Encarnação: “São os desafios que me motivam na política”
Luís Encarnação está prestes a terminar o seu primeiro mandato como eleito na presidência da Câmara Municipal de Lagoa. Em entrevista à Algarve Vivo, garante que o concelho atravessa uma boa dinâmica e a conclusão de inúmeras obras importantes, estando neste momento “a decorrer 25 empreitadas em simultâneo”. Fala de como chegou à política, do percurso dos últimos anos, das obras de fundo que está a realizar e dá a entender que está na sua ‘cadeira de sonho’. “Não tenho qualquer ambição de ocupar outro cargo político, para além daquele que ocupo atualmente”, garante.
Em 2005 terminou o seu mandato como presidente da Junta de Freguesia do Parchal. Imaginava chegar um dia a presidente da Câmara de Lagoa?
Não. Nessa altura não me passava pela cabeça chegar a presidente da Câmara, nem era esse o meu objetivo. Era sim continuar a colaborar e dar o meu contributo para o desenvolvimento do concelho de Lagoa Por isso, é que, nessa altura, integrei a lista do PS, liderada por Aurélio Marques, então candidato à Câmara Municipal de Lagoa.
Integrou o executivo da Câmara Municipal como vereador em 2013, na primeira vitória socialista durante 28 anos. Como foram os anos de oposição?
Durante 28 anos, o PS Lagoa foi oposição e foi a forma séria com que o fez que o levou à vitória em 2013. Foram 28 anos a colocar sempre os interesses da população acima dos interesses político partidários. O mandato de 2009-2013 foi determinante, porque o PS teve maioria na Assembleia Municipal e de forma responsável, sem ter reprovado um único orçamento e nenhum Relatório e Contas, conseguiu apresentar as suas ideias, os seus projetos e conseguiu mostrar aos lagoenses que estava pronto para governar.
Voltando um pouco atrás, como entrou na política?
Tenho alguma dificuldade em recordar quando é que, efetivamente, entrei para a política, mas recordo-me que, com os meus 19 ou 20 anos, integrei, embora num lugar não ilegível, uma lista do PS candidata à Assembleia Municipal de Lagoa. A entrada mais a sério, foi quando integrei a Comissão Política Concelhia do PS, tendo integrado o Secretariado e, mais tarde, tendo sido candidato e presidente da Junta de Freguesia do Parchal, entre 2001 e 2005.
Tantos anos depois, o que ainda o motiva nesta atividade?
São os desafios, que, sendo cada vez maiores, dão-me mais motivação e vontade de continuar. Ver o nosso concelho a crescer, a evoluir e a poder contribuir para tudo isso é muito gratificante. Mas, por outro lado, tenho de reconhecer, que são cada vez mais os fatores que me desmotivam e pesam na decisão de continuar ou não nesta atividade.
Que fatores são esses?
A legislação imposta à contratação pública que atrasa todo o processo e faz com que uma intervenção simples e urgente se torne demasiado complicada e demorada. E depois tudo aquilo que atualmente rodeia a política e os autarcas. A forma como somos julgados em praça pública, nomeadamente nas redes sociais, sem olhar a meios, de forma, muitas vezes, irracional, esquecendo que temos família, que temos filhos e que somos cidadãos como todos os outros, mas com uma particularidade. Abdicamos de momentos em família, da vida privada para nos dedicarmos a cem por cento à causa pública.
Qual foi o seu momento mais feliz enquanto autarca?
Não há um momento feliz enquanto autarca, há vários. Essa felicidade é conquistada a pulso, diariamente, com os membros do executivo e com os técnicos do município. É o momento em que se consegue terminar uma obra importante para a população, quando se consegue ajudar uma família com dificuldades, ou fazemos um evento âncora com sucesso. Os mais felizes são quando conseguimos concretizar a nossa missão, melhorando a vida da população.
Qual a maior lição que aprendeu neste percurso?
São várias as lições e aprendizagens. Talvez a maior seja a que me demonstra, todos os dias, que, por mais que façamos, haverá sempre alguém insatisfeito, haverá sempre uma obra por concretizar, uma família por ajudar, um buraco por tapar. Trata-se de um esforço contínuo que nos pode levar a estarmos próximos do ideal, mas nunca alcançaremos o perfeito.
Como acha que vai ser recordado em Lagoa, quando deixar de ser presidente de Câmara?
Não sei como vou ser recordado, mas gostava que o Luís Encarnação fosse recordado como um lagoense, nascido no Parchal, que ama muito a sua terra, o seu concelho e que, no comando da autarquia, conjuntamente com a sua equipa, fez um trabalho que superou, em muito, as expetativas dos lagoenses. Porque o grande e único objetivo é deixar, às futuras gerações, um concelho melhor do que aquele que encontramos.
A ‘CADEIRA DE SONHO’
Que características de Luís Encarnação poucas pessoas conhecem?
Não sei se há algumas características minhas que as pessoas não conheçam. Penso que, quem convive comigo, quem trabalha ou já trabalhou, conhece-me bem. O Luís Encarnação, presidente da Câmara Municipal de Lagoa e o Luís Encarnação cidadão lagoense, têm as mesmas características. No entanto, vou revelar uma que alguns lagoenses não conheçam. A minha paixão pelos animais, em especial pelos felinos, pelos gatos. Sempre tive e tenho-os como animais de estimação, como companheiros e como amigos. Gosto de estar com eles e de os ter por perto, sempre que posso.
O que lhe falta fazer enquanto presidente de Câmara?
Muita coisa. Neste momento estamos com uma forte dinâmica em Lagoa. Conseguimos, sobretudo no último ano arrancar com muitas obras, estamos a iniciar outras e a trabalhar em muitos projetos, que irão transformar Lagoa, para melhor. Não me recordo de o concelho ter tantas obras a decorrer, em simultâneo, e tenho a certeza de que o concelho será bem diferente daqui a uns anos. Enquanto presidente, quero construir mais habitação 1º Direito, quero construir mais habitação para colocar no mercado como renda acessível, quero fazer uma forte intervenção na saúde, nomeadamente nas instalações dos Centros de Saúde e suas extensões, concluir a requalificação total da nossa rede de abastecimento de água e concretizar obras no espaço urbano, tais como os parques urbanos, criação de novos arruamentos e bolsas de estacionamento.
Em termos políticos, está na ‘cadeira de sonho’ ou podemos, no futuro, vir a encontrá-lo noutro cargo?
Como já referi, não sei se a cadeira que ocupo é uma ‘cadeira de sonho’ porque todos os constrangimentos que a mesma traz, desde a privação da privacidade, de momentos em família, pela exposição e pelo enorme desgaste que impõe. Mas de uma coisa tenho a certeza, a minha participação política e cívica termina na Câmara Municipal de Lagoa, enquanto presidente da Câmara. Aproveito a oportunidade para esclarecer, publicamente, que não tenho qualquer ambição de ocupar outro cargo político, para além daquele que ocupo atualmente.
O CONCELHO
Lagoa sempre foi conhecida pela boa qualidade das estradas, mas esse cenário inverteu-se nos últimos anos, com algumas vias em muito mau estado. O que se passou?
Foi o facto de, durante décadas, ninguém ter feito a renovação das principais condutas de abastecimento de água, que rebentam com muita frequência, devido aos anos de existência e mau estado das mesmas, e esse é o principal fator para as estradas se encontrarem no estado em que estão. Neste momento estamos a renovar as condutas de abastecimento de água para depois pavimentarmos as nossas vias. Não fazia sentido pavimentá-las sem substituir as condutas que rebentam a toda a hora.
O que está a ser feito para recuperar esse ‘estatuto’ de boas vias de comunicação?
Além de estarmos a pavimentar locais que já têm condutas novas, iremos continuar a fazê-lo no início do próximo ano e continuaremos a substituir as principais condutas de distribuição de água do concelho para podermos avançar, também, com a pavimentação dessas ruas. Estamos a investir cerca de 900 mil euros em pavimentações, entre novembro de 2024 e janeiro de 2025, e iremos investir, ainda em 2025, cerca de 1 milhão e 600 mil euros em mais pavimentações. Atravessamos um processo de transformação e modernização do concelho, que é difícil e traz constrangimentos, mas que dará os seus frutos daqui a pouco tempo. Para além de voltarmos a ter vias de comunicação com grande qualidade, teremos algo mais importante, que serão as infraestruturas novas que estão por baixo dessas vias, o que permitirá ter um concelho com menos perdas de água, onde nunca faltará o abastecimento mais sustentável.
Porque é que diz, muitas vezes, que Lagoa é um dos melhores concelhos para se viver?
Porque de facto assim é. Não sou só eu que tenho essa opinião. Felizmente há milhares de pessoas que consideram o concelho de Lagoa um dos melhores para se viver. São várias as comunidades que aqui vivem e que relatam a felicidade de aqui estarem. Justificando, por diversas vezes, que gostam de cá viver pela beleza do nosso território, das praias, pela gastronomia, segurança e amabilidade das gentes. Penso que a maior parte dos lagoenses, também, é da mesma opinião.
Qual considera ser a importância de Lagoa para a região?
Lagoa é um concelho importante para o Algarve, sobretudo por ajudar a afirmar a região como um destino turístico de excelência. A principal atividade económica é o turismo e, nessa área, destacamo-nos pelos excelentes hotéis, campos de golfe, restaurantes de grande qualidade e pelo vinho. Digo, sem qualquer vaidade, que Lagoa é um exemplo para a região, no que ao investimento económico de qualidade diz respeito, bem como no turismo que promove.
O que o mais preocupa no concelho?
A falta de habitação e a elevada taxa de perda de água. Foram esses dois problemas que estiveram na origem da estratégia definida para este mandato e são as nossas prioridades. São dois problemas graves que estamos a resolver, com a construção de habitação e com a substituição das principais condutas de água.
A OBRA
Como está Lagoa em termos de habitação?
Está em linha com o que se passa na região, no país e na Europa. Temos escassez de habitação e há uma enorme dificuldade em comprar ou arrendar casa. No entanto, aproveitando o PRR, estamos a construir mais habitação, em Lagoa e em Porches, temos adquirido habitações através do Direito de Preferência, estamos a desenvolver mais projetos para construir habitação em massa, a custos controlados, e estamos a realizar um levantamento de todas as anomalias existentes no nosso parque habitacional, para as corrigirmos.
O que vai deixar feito até final deste mandato?
Quase todas aquelas que decorrem neste momento no concelho, e são cerca de 25, com exceção da habitação. Nomeadamente, aquelas que foram a nossa prioridade para este mandato, a substituição das principais condutas de distribuição de água do concelho, a requalificação do Reservatório de Água das Sesmarias, a instalação de Zonas de Medição e Controlo, um sistema moderno que permite controlar de forma mais eficaz o nosso abastecimento de água. Mas, também, o Parque Urbano do Parchal, as requalificações do Centro de Congressos de Lagoa, a da Rua Direita, em Porches, do Centro de Saúde de Lagoa, do Jardim Dom João II, na Mexilhoeira da Carregação, a Casa da Cidadania e muitas mais. Com certeza que iremos terminar várias, mas tão importante ou mais do que isso, serão aquelas que estarão a decorrer nessa altura e que irão transformar Lagoa num território cada vez melhor para se viver.
Têm existido muitas críticas da oposição e até de uma franja da população pela falta ou atraso de obras importantes. Como lida com essas críticas?
As críticas são bem-vindas e ajudam-nos a melhorar. Lido com as críticas com a naturalidade de quem está sempre disponível para ouvir, obrigação de quem ocupa um cargo público. No entanto, considero que algumas são infundadas e, por vezes, injustas. Porque o problema das obras públicas e o atraso das mesmas não é um problema exclusivo do concelho de Lagoa. É de todos os municípios do país. Atualmente é muito difícil fazer-se obra pública porque, apesar de termos fundos comunitários à disposição, não temos empresas suficientes para dar resposta a tanta solicitação, nem as empresas existentes têm mão de obra capaz de dar resposta. Atualmente, fazer obra pública é um verdadeiro desafio. No entanto, considero que o município de Lagoa tem conseguido dar uma grande resposta a todas estas dificuldades e tem a decorrer 25 empreitadas.
Não concorda com essas críticas…
Considero essas críticas da oposição uma enorme precipitação, porque para se realizar obra, primeiro há que pensar, planear, comprar projetos, rever os projetos, lançar os procedimentos, esperar que os mesmos não fiquem desertos e, por fim, executar obras, esperando que elas decorram no tempo previsto. Atrevo-me a dizer que não sei se alguma vez na história do concelho tivemos tantas obras, desta dimensão, a decorrer em simultâneo. Até setembro de 2025 deixaremos muita obra feita, mas, também, teremos Lagoa pensada e projetada para os próximos oito anos. Temos trabalhado muito no silêncio dos gabinetes, sem anúncios precipitados, mas com muita coisa a acontecer que sairá para a rua em breve.
O ALGARVE
Na sua opinião, qual será o grande investimento a fazer a curto prazo na região?
Resolver a questão da falta de água. Uma região que vive do turismo, que é um destino de excelência, a nível mundial, não poderá ter escassez de água. Se queremos continuar a crescer como região turística temos de resolver essa questão. É uma questão verdadeiramente decisiva.
E a longo prazo?
Procurar diversificar a economia da região para que a mesma não dependa apenas do turismo. Passamos por uma pandemia que nos demonstrou que não podemos viver apenas deste setor.
AUTÁRQUICAS
A menos de um ano das próximas eleições autárquicas, como está o PS Lagoa a preparar-se para o combate político que se avizinha?
Com naturalidade e tranquilidade. Procurando soluções e os lagoenses mais bem preparados para poderem dar continuidade ao trabalho que o PS tem vindo a desenvolver nas Freguesias, na Câmara e na Assembleia Municipal. Procurando os candidatos e as equipas que nos dão garantias que iremos continuar a fazer mais e melhor.
Acredita que o PS vai conseguir manter as Câmaras Municipais que tem? Quais acha as que podem ter mais dificuldades?
Acredito que o PS conseguirá manter as Câmaras Municipais que tem e até poderá conseguir conquistar mais uma ou duas. O trabalho desenvolvido pelos autarcas do Partido Socialista no Algarve é um trabalho amplamente reconhecido. O PS continuará a merecer a confiança dos algarvios, mas irão sempre existir dificuldades naturais no combate autárquico.