Opinião: Ambiente de trabalho e diabetes

Mónica Reis | Médica Coordenadora do Núcleo de Estudos da Diabetes Mellitus da SPMI
A 14 de novembro assinalou-se o Dia Mundial da Diabetes. O lema lançado pela Federação Internacional da Diabetes (IDF) no triénio 2024-26 é ‘Diabetes e Bem-Estar’. O foco é a promoção do bem-estar da pessoa com Diabetes em todas as suas vertentes, por forma a melhorar a qualidade de vida das mesmas. A campanha deste ano foca-se, especificamente, na ‘Diabetes e o ambiente de trabalho’.
Falar em Diabetes e Bem Estar, sendo esta uma doença crónica, poderá até parecer contraditório ou mesmo controverso, mas na realidade não poderá uma pessoa com Diabetes alcançar o bem-estar? O equilíbrio e controle sobre a sua doença que lhe permitirá viver com qualidade?
Quando abordamos a Diabetes enquanto doença, o objetivo principal é tratá-la. Alcançar um bom controle metabólico por forma a melhorar o estado de saúde da pessoa. Reduzir todas as implicações nefastas que possa incutir no seu estado de saúde. Permitir que tenham um dia a dia semelhante a qualquer outra pessoa que não padeça de doença, é a meta final desta abordagem.
Sendo que todos passamos a maioria do nosso dia no local de trabalho, este deverá ter e ser um ambiente promotor do nosso equilíbrio. O local onde trabalhamos deve-se apresentar como seguro, que inspire confiança, que desafie e que permita evolução para todos.
Quando ao nosso lado, temos, como colega de trabalho, uma pessoa com uma doença crónica, como por exemplo a Diabetes, devemos ter alguns conhecimentos básicos sobre a mesma por forma a que possamos colaborar na obtenção de saúde do nosso colega e eventualmente de toda a equipa de trabalho.
Não discriminar, mas sim incluir, fazendo escolhas que permitam a participação de todos nas mais diversas atividades, sejam laborais ou até mesmo de lazer em equipa. O próprio empregador ser um veículo promotor de literacia em saúde aos seus trabalhadores.
No caso da Diabetes, o conhecimento de noções básicas de atuação por exemplo numa hipoglicemia, pode prevenir acidentes e tornar o ambiente de trabalho mais seguro. Ter em conta alguns fatores que podem contribuir para a obtenção de um adequado controle metabólico, como o trabalho por turnos que habitualmente está associado a um pior controle, o tipo de ementa que se disponibiliza no refeitório ou períodos de descanso para que possa fazer a terapêutica, devem ser considerados para estes trabalhadores, sendo que o benefício não se extingue neles.
As novas classes farmacológicas, bem como as insulinas mais recentes, que são mais estáveis e eficazes permitem um melhor controle metabólico com uma redução significativa do risco de efeitos secundários negativos nomeadamente de hipoglicemias que são habitualmente o efeito secundário mais temido em meio laboral por colocar em causa a segurança da pessoa. O desenvolvimento tecnológico de vários dispositivos para o controle da doença, nomeadamente o controle da glicemia, como os sistemas de monotorização continua de glicemia, que permitem um controle “ao momento” com alarmes vários e sistemas de predição introduziram um ambiente de segurança à pessoa com diabetes.
Tornar o ambiente de trabalho mais inclusivo, mais abrangente, mais seguro e, portanto, tranquilizador para toda a equipa, pessoas com e sem diabetes, permitirá alcançar um ambiente de bem-estar para todos e certamente aumentar a eficácia e a efetividade de toda a equipa de trabalho que é o objetivo no final do dia.
A realização laboral, e naturalmente pessoal, com o sentimento do dever cumprido será um dos motivos que contribuem para o bem-estar da pessoa com diabetes.





