Sindicato denuncia casos de tuberculose latente em enfermeiros do HBA
Acabam de ser confirmados sete casos de tuberculose latente em profissionais de saúde do Hospital do Barlavento Algarve, afetando cinco enfermeiros e dois assistentes operacionais que terão tido contacto não protegido com um utente com tuberculose ativa entre setembro e outubro do ano passado, segundo a delegação algarvia do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP), para quem “só passados seis meses se conhece o resultado dos exames de rastreio”.
Questionado sobre este assunto, o secretário de Estado da tutela, Leal da Costa, disse em fevereiro passado na Comissão Parlamentar de Saúde que “o Hospital de Faro sabe o que tem de fazer e que nos resta esperar que faça aquilo que tem de fazer em contextos deste género”.
Na posse dos resultados agora conhecidos, os sindicalistas acusam os responsáveis hospitalares de “não fazerem o que indicam as normas da Direção-Geral de Saúde”, especificamente a orientação n.º 10/2014, na qual se especifica que “no momento em que se tem conhecimento da exposição, a avaliação do risco deve incluir a identificação dos contactos com exposição significativa e o plano de rastreio (avaliação clínica, radiológica, teste tuberculínico (TST) e IGRA (…)” e para, “no caso de resultados negativos, reavaliar oito a dez semanas depois”.
“Tendo o Centro Hospitalar do Algarve (CHA) tido conhecimento a 31 outubro 2014 da situação de exposição não protegida dos profissionais de Portimão, só meio ano depois concluiu a avaliação de risco”, criticam os enfermeiros, para quem, e “perante uma situação desta gravidade”, o secretário de Estado “deveria ter tomado as devidas diligências para averiguar o que foi feito nesta situação e noutras semelhantes, uma vez que está em risco não só a saúde dos profissionais (que só agora iniciarão a medicação com a duração de seis meses), mas um possível contágio às suas famílias e aos doentes”.
E se Leal da Costa admite que “os profissionais de saúde têm o risco acrescido de se poderem infectar com os próprios doentes, na realidade nada tem sido feito para compensar este enorme risco”, lamentam, uma vez que “de nada serve reconhecer que há risco se não se providenciam medidas para evitar que situações destas ocorram”.
Falta de profissionais e de material
“A falta de profissionais de saúde e materiais (inclusive equipamento de proteção individual) nas instituições e a falta de consultas e exames periódicos bianuais de acordo com a Lei 102/2009, levam a que os acidentes profissionais e doenças de trabalho aumentem”, segundo os sindicalistas, que vão mais longe e lembram que “nem mesmo as baixas que têm existido por lesões músculo esqueléticas levaram a que o CHA providenciasse médicos de trabalho para a quantidade de trabalhadores que detém”.
Também recordam que em 2012, no decorrer da Campanha Europeia de Avaliação de Riscos Psicossociais, a Autoridade para as Condições de Trabalho “constatou que não existia médico do trabalho no Hospital de Portimão, sendo de referir que também os trabalhadores da ARS Algarve/Centros de Saúde não têm médico de trabalho”.
“Os profissionais de saúde – no concreto, os enfermeiros – cuidam das pessoas, mas ninguém cuida deles e nem o salário que auferem compensa o risco que correm, e o Ministério da Saúde teima em não corrigir esta realidade”, lamenta o SEP, que entretanto deu conhecimento desta situação à Inspeção Geral de Atividades em Saúde, que se encontra a investigar, e à Direção Geral de Saúde.
De referir que a tuberculose latente é uma infeção por Micobacterium tuberculosis, em que não existem sintomas ou sinais de doença, havendo contudo risco da pessoa os desenvolver, além de que não há possibilidade de contágio enquanto for latente.