Bairro Digital pretende dar nova vida ao centro de Portimão

Contratado pela Associação do Comércio e Serviços da Região do Algarve (ACRAL), José Quintas é o gestor do Bairro Digital, projeto que é fruto de um consórcio com a Câmara Municipal de Portimão. A equipa é constituída pelas duas entidades e o responsável trabalha com ambas, mas também com as entidades locais que representam os lojistas, como a Associação Portimonense de Comerciantes e Serviços (APCS).
Como surge o Bairro Digital?
De duas formas. A social, porque existe a necessidade de haver um processo de digitalização. Estamos em 2025, os hábitos das pessoas mudaram, os canais de comunicação também e o comércio do centro tem de adaptar-se a esta nova realidade, para conseguir concorrer com as grandes superfícies comerciais. Uma das linhas dos fundos europeus – Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) – seria os bairros digitais, o que permitia aos municípios candidatarem-se a fundos para digitalizar o centro histórico, ou outras zonas relevantes. Em Portimão, justifica-se o centro histórico, porque é uma zona de extrema relevância. A autarquia concorreu e foi uma das selecionadas. Logo, o investimento que está a ser feito é com fundos que vêm do PRR.
Não se limita apenas à pegada digital dos comerciantes, pois não?
Acontece uma coisa engraçada. Estou a trabalhar na zona e passam por mim casais de turistas estrangeiros que me perguntam onde é o centro da cidade, o que é que se faz no centro, onde podem ir comer no centro da cidade. É lógico que, se a pessoa estiver no Google a pesquisar, poderá encontrar uma coisa ou outra; mas nós não temos algo que centralize essas informações. Por isso, existe aqui também uma componente turística e cultural. Além de tentarmos promover o comércio e dar-lhe mais ferramentas para fazer negócio, dar também ferramentas a quem nos visita para saber o que lá existe. Em suma, fazer um mapeamento dos estabelecimentos, dos pontos de interesse histórico, ou de eventos. Por vezes, há eventos no centro da cidade de que as pessoas nem se apercebem. Ter uma agenda cultural bonificada, porque o objetivo do bairro digital não é só comércio, mas também cultura, comunidade e dar autonomia às pessoas para criarem atividades no centro da cidade.
O que é que já está a ser executado para cumprir o projeto?
Temos já adjudicada a parte das infraestruturas informáticas. As obras que estão a acontecer nas ruas destinam-se a colocar pontos de rede e de eletricidade. Já temos programado um ‘marketplace’, uma loja online cujo objetivo é englobar todo o comércio e serviços da zona, com um sistema de entregas integrado, para que as pessoas possam comprar online e receber em casa, pagando menos taxas do que as dos serviços já existentes. Cacifos inteligentes, para os utentes poderem fazer o levantamento das encomendas depois da hora, se necessário. Um sistema de ‘tours’ pedonais específicos, culturais ou históricos, com informações sobre os locais que está a visitar. Também informação analítica sobre o tipo de consumidor que por aqui passa e a que horas, as mudanças de acordo com a sazonalidade, para conseguirmos atrair lojas-âncora. Estas chamam pessoas à zona, mas o consumidor acaba por comprar também nas outras. E o melhor método para atrair lojas-âncora é dar-lhe a perceber que existe público-alvo de uma certa marca. E, para isso, é necessário ter dados concretos para lhes mostrar. E os dados de afluência pedonal e de tráfego podem também ajudar a melhorar o trânsito nesta zona, em termos de passadeiras, semáforos e parqueamento, que poderão servir de protótipo para outras zonas da cidade.
Isso é tudo muito bonito, mas a cidade tem uma população envelhecida e há quem não consiga obter todas essas informações online.
Por isso vamos criar mupis, com informações dos serviços e do comércio, dos ‘tours’ e dos pontos de interesse. Será do género do que encontramos em ‘shopping-centres’, permitindo às pessoas fazer uma pesquisa focada no que querem.
Desejo de digitalizar oferta é antigo
José Pinto, um dos fundadores da APCS e, na atualidade, o seu tesoureiro, já tinha a ‘pegada digital’ na mente, em 2019, em conjunto com a Escola Profissional Gil Eanes. Entretanto, a Covid impediu a ação, que veio a ser implementada, no passado ano letivo, por iniciativa do professor João Ribeiro, deste estabelecimento de ensino. Segundo José Pinto, “no geral, foi um sucesso”. “Tem pernas para andar, é uma boa ideia e parece que a inspeção que foi à escola perguntou porque não se fazia algo assim, a nível nacional. É bom, porque os alunos não têm só teoria, mas também a prática da vida real, na área dos seus estudos. Na minha loja, correu muito bem e penso que dois dos alunos já terminaram o curso. Na nova parceria, dois dos que cá estiveram querem repetir. Penso que os outros dois já terminaram o curso”, revela ainda em declarações ao Portimão Jornal. A APCS tem sido um parceiro ativo no processo de candidatura e no contacto com os comerciantes locais. José Pinto afirma, porém, que “o processo está um pouco atrasado, pois deveria estar finalizado em setembro, mas as burocracias atrasam sempre os processos”.
Projeto também passa por operadores turísticos
Segundo José Quintas, o Bairro Digital também poderá passar por uma aliança com operadores turísticos. “Em Portimão, temos uma marítimo-turística fortíssima. Vamos tentar fazer a ponte” entre estes operadores e o centro, “começando ou terminando aqui os passeios”. “Temos muitos operadores turísticos que apanham os turistas nos hotéis e os levam a Sagres ou a Monchique. Por que não começar ou terminar no centro da cidade?”, questiona.





