Boa Esperança tem alma fadista
Com muito sentimento, amadores de ambos os sexos e de todas as idades atraem apreciadores à sede da popular colectividade, situada no centro histórico de Portimão.
Texto: FERNANDO MANUEL VIEIRA / Fotos: EDUARDO JACINTO
A chamada ‘canção nacional’ tem conhecido um assinalável impulso nos últimos anos, a que não será alheia a declaração pela Unesco, em 2011, do fado como Património Imaterial da Humanidade.
Disso é exemplo o Boa Esperança Atlético Clube Portimonense, que criou uma escola de fado e há cerca de 5 anos promove no seu bar noites quinzenais dedicadas aos amadores, às quartas-feiras a partir das 20h00. De tal forma a iniciativa vem cativando um público fiel que os precavidos têm o cuidado de reservar lugar para a sessão seguinte, não vá a sala esgotar.
Isso mesmo realça à revista Algarve Vivo o diretor do clube, Carlos Pacheco. “A casa está sempre cheia, com muitos estrangeiros na audiência, para escutarem os fadistas amadores que passam pelo nosso palco, muitos deles com excelentes vozes. Tudo surgiu de uma ideia minha e do Vítor do Carmo, para que os alunos da nossa escola tivessem um primeiro contacto com o público”, refere o dirigente.
“Quem vem ouvir, gosta e traz os amigos”, destaca Carlos Pacheco, antes de sublinhar o facto de este espaço constar na ‘Rota do Fado’, um livro que reúne cem sugestões a nível nacional. “Há profissionais que passam por aqui, sentem-se inspirados e cantam de borla”, diz com orgulho.
ESPÍRITO DE TASCA
“Isto já começa a ser pequeno, mas preferimos manter estas características porque é mais acolhedor e tem a ver com o espírito das tascas tradicionais. Além do mais, as pessoas adoram a atmosfera e o ambiente criados”, refere Carlos Pacheco, antes de confessar que os petiscos servidos também contribuem para a boa recetividade: “São muito procurados o lombinho à Castro Marim, os camarões selvagens fritos, o bacalhau no forno com camarão, as tábuas e as tapas, tudo bem regado.”
Na acanhada sala, cujas paredes ostentam guitarras, violas, xailes e citações de Amália Rodrigues e Eça de Queiroz, os apreciadores podem ouvir diversos estilos e gerações. “Espero que este projeto perdure por muito tempo, contribuindo para o surgimento de novos valores, nunca abdicando do espirito amador”, vaticina o responsável, enquanto a assistência trauteia os refrões de um tema interpretado pelo talentoso Afonso Silva, com apenas oito anos.
“Desde que me lembro ouço fados na rádio e decidi que devia aprender a cantar assim. Tenho aulas na escola do Boa Esperança e acho uma experiência gira, porque não se desaproveita nada. O meu sonho é seguir a carreira de fadista e tudo farei para conseguir esse objetivo”, confidencia o pequeno cantor à Algarve Vivo.
No outro extremo da faixa etária encontra-se Gonçalinho, com ‘apenas’ 84 anos: “Canto o fado desde os 16, portanto, é só fazer as contas, como diria o outro. Há cada vez mais a gente nova a cantar – e bem – o fado. Digamos que se nota um certo rejuvenescimento. Tem é que haver sentimento e não apenas despejar-se as letras. Vou continuar até Deus me deixar, pois já devo anos à terra. Gostaria de morrer a cantar um fadinho”, antevê.
OPINIÕES
Numa noite em que atuaram Fernanda, Silvestre, Lurdes Carriçal, Virgolino, Afonso Silva, Generosa, Agostinho, Gonçalinho e Ferdinando, acompanhados à viola por Rafael Pacheco e por Manelito na guitarra, Algarve Vivo foi saber a opinião da assistência
“Gostei imenso”
“Vim pela primeira vez acompanhar o meu esposo, que é um entusiasta do fado, e gostei imenso. Impressionou-me a elevada qualidade de todos estes amadores. Não gosto é muito do fado mais antigo, porque é triste.” Ana Paula (Portimão)
“Adorei o convívio”
“Sou mãe da Lurdes Carriçal, que tem 18 anos e se estreou neste espaço, bastante agradável. Adorei o convívio e deveremos voltar. Acredito no potencial da minha filha e gostaria que singrasse na canção.” Roseta Carriçal (Monchique)