Bombeiros de Lagos comemoraram 138 anos

Texto e fotos: José Coelho


A Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Lagos (BVL) nasceu no dia 24 de julho de 1886, fruto da vontade e determinação de um pequeno grupo de pessoas daquele concelho.

Passados 138 anos desde a data da sua fundação, esta é hoje uma das mais capacitadas corporações de bombeiros do Algarve. Responde a milhares de solicitações por ano e tem vindo a dotar-se dos meios humanos e materiais necessários para fazer face, de forma cada vez mais eficaz, aos diversos tipos de ocorrências.

A centenária corporação algarvia recebeu no seu aniversário duas ‘prendas’: um novo Veículo Ligeiro de Combate a Incêndios (VLCI) e uma nova Ambulância de Socorro (ABSC), viaturas que permitem reforçar os meios já disponíveis.

Para além da realização da habitual cerimónia comemorativa, que foi seguida pela atribuição de condecorações e promoções na carreira, decorreu ainda, no passado dia 27 julho (sábado), a iniciativa Quartel Aberto. A população teve oportunidade de visitar as instalações, conhecer a atividade operacional e interagir com os bombeiros, participando em algumas atividades.

A iniciativa registou uma forte adesão popular, sendo de destacar a presença de muitas crianças, acompanhadas pelos respetivos pais, bem como a participação de alguns turistas, que também quiseram visitar o quartel e conhecer a atividade desenvolvida pelos ‘soldados da paz’.

Mais de três mil emergências pré-hospitalares
Os Bombeiros Voluntários de Lagos têm vindo a ter, ao longo do tempo, um acréscimo do volume de serviço, uma situação que está ligada ao próprio crescimento populacional registado no concelho e à sua afirmação como uma das principais zonas turísticas do Algarve, o que se traduz num aumento do número de visitantes, quer nacionais quer estrangeiros.

Márcio Regino, comandante dos BVL, refere que esse aumento de atividade operacional é sobretudo notório “no serviço pré-hospitalar de ambulância, ativado pelo CODU [Centro de Orientação de Doentes Urgentes]” – este ano, até ao dia 29 de julho, a corporação lacobrigense deu resposta a 3038 emergências pré-hospitalares.

Em relação a outro tipo de ocorrências recorrentes, os dados estatísticos revelam que, de 1 de janeiro a 29 de julho deste ano, a corporação foi ativada para 48 incêndios rurais; 45 incêndios urbanos; 107 acidentes rodoviários; 15 ocorrências com matérias perigosas; 59 aberturas de porta com socorro; e 48 quedas de árvores ou estruturas.

Os BVL fazem, aliás, a divulgação mensal dos dados estatísticos, através do seu site e da sua página no Facebook, o que permite à população conhecer e acompanhar o trabalho que é desenvolvido pelos ‘soldados da paz’.

Grupo de Salvamentos Especiais
Nos últimos três anos, o Corpo de Bombeiros de Lagos ganhou novas e importantes valências, reforçando a capacidade de resposta às necessidades da população. Os BVL contam agora com o Grupo de Salvamentos Especiais (GSE), com as vertentes de Salvamento em Grande Ângulo, Busca e Resgate em Estruturas Colapsadas/ Escoramentos em Edificado, Salvamento Aquático, Busca e Salvamento em Cheias Urbanas / Águas Bravas e ainda intervenção com Matérias Perigosas.

Cada equipa tem o seu respetivo chefe e atua sob a coordenação do responsável do GSE, o bombeiro de 1º Pedro Almeida. Neste momento, mais de meia centena de operacionais já integram o GSE dos Bombeiros de Lagos, nas suas diversas vertentes, tendo sido adquiridos os equipamentos necessários às novas tarefas e adaptados alguns já existentes.

Anteriormente, Lagos tinha de recorrer a corporações vizinhas para, por exemplo, fazer resgates em arribas ou salvamentos no mar, em apoio à Autoridade Marítima. “Atualmente momento, já temos capacidade própria de resposta”, diz o comandante dos bombeiros, que salienta que “estas novas valências exigem um treino contínuo e específico”.

O trabalho realizado e as capacidades adquiridas levaram a que, no ano passado, a corporação lacobrigense passasse a integrar o Grupo de Salvamentos Especiais dos Bombeiros do Algarve – em conjunto com os Bombeiros Voluntários de Portimão e de Albufeira.

Mas as valências dos BVL poderão vir a ser reforçadas dentro de algum tempo: “Estamos a equacionar criar um binómio (homem/cão)”, revela o comandante Márcio Regino. Essa unidade canina terá como uma das suas funções importantes a “busca e resgate em escombros”.

Os bombeiros lacobrigenses ministram, por outro lado, formação certificada pelo Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), em Suporte Básico de Vida e SBV/DAE Adulto e Pediátrico, e pela Direção-Geral do Emprego e das Relações do Trabalho (DGERT), nas áreas de saúde e proteção de pessoas e bens, combate a incêndios e equipas de primeira intervenção.

A corporação é ainda um polo de formação da Escola Portuguesa de Salvamento, realizando na região diversos cursos de formação, nomeadamente em Salvamento Animal, ‘Rapid Intervention Team’ (RIT) e Busca e Resgate em Estruturas Colapsadas (BREC).

“Temos aumentado o número de profissionais”
Para dar resposta a todas as solicitações que lhes chegam diariamente, os BVL, classificados de tipologia 1, contam atualmente com “107 bombeiros no quadro ativo e mais 18 estagiários”, explica Márcio Regino.

O comandante reconhece que, tal como acontece na generalidade do País, cada vez é mais difícil captar voluntários, mas diz que “o número de bombeiros tem sido suficiente, até porque temos aumentado o número de profissionais, que se cifra, neste momento, em 48”.

“Cada vez estamos a apostar mais num corpo profissional que dê resposta às necessidades, contudo o voluntariado é sempre uma importante mais valia”, sublinha.

Um aspeto em que houve uma evolução grande ao longo das últimas décadas prende-se com a existência de um cada vez maior número de mulheres que fazem parte dos bombeiros. “Nota-se uma evolução no sentido de um maior equilíbrio, embora continue ainda a existir um maior número de homens”, explica o comandante.

Os Bombeiros de Lagos estão, por outro lado, apostados em preparar o futuro, tendo sido criada, há menos de um ano, a Escola de Infantes e Cadetes. “Foi mais um projeto que iniciámos. Temos atualmente 30 miúdos e o objetivo é garantir a continuidade e criar uma maior proximidade à comunidade. Sabemos que nem todos ficarão nos bombeiros, mas alguns certamente ganharão ‘o bichinho’ e continuarão por cá”, salienta o responsável pela corporação.

As crianças e jovens, com idades entre os 9 e os 16 anos, recebem formação adequada à sua faixa etária de 15 em 15 dias, aos sábados, aprendendo o que é ser bombeiro.

“Bem servidos em termos de meios”
Os BVL dispõem de “25 veículos”, incluindo viaturas pesadas, ambulâncias, duas embarcações e uma moto de emergência. “Acho que estamos bem servidos, neste momento”, considera o comandante.

Outro aspeto importante tem a ver com as obras que foram realizadas no quartel, que deram mais e melhores condições de trabalho aos bombeiros. “Fizemos obras de ampliação, passámos a dispor de dois parques de viaturas e as instalações foram renovadas de forma a serem mais ergonómicas e confortáveis para os operacionais”, esclarece o comandante Márcio Regino, acrescentando que “o quartel tem cerca de 40 anos e ficou rejuvenescido”. Entre outras melhorias, os bombeiros passaram a dispor de uma pista de obstáculos para treinos.

“O principal objetivo é manter tudo o que temos, porque acho que estamos bem apetrechados no que diz respeito a recursos humanos, assim como materiais”, diz o responsável operacional dos bombeiros, que destaca o “apoio imprescindível que tem sido dado pela câmara”.

Numa cidade como Lagos, um dos motivos de natural atenção prende-se com o centro histórico, que, pelas suas características e antiguidade dos edifícios, acarreta um maior risco, nomeadamente ao nível de incêndio urbano – já houve alguns sustos no passado.

“Existe um plano prévio de intervenção e reagimos de uma forma imediata com vista a minimizar eventuais consequências”, explica o comandante.

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