Cinquentenário da CRACEP retrata história de coragem e resiliência

Texto: Hélio Nascimento | Fotos: D.R.


A Cooperativa de Reeducação e Apoio à Criança Excecional de Portimão (CRACEP) cumpre 50 anos de existência e continua fiel aos princípios que nortearam a sua fundação, em 1975, fruto da iniciativa de um grupo de pais, que desde logo tiveram o apoio da Câmara Municipal e do Rotary Clube de Portimão. Os jovens portadores de deficiência, na circunstância, têm nesta entidade o seu porto de abrigo, que serve também de ‘cais’ para partirem rumo a novas ‘viagens’.

Maria de Lurdes Gouveia é a presidente do Conselho de Administração e praticamente toda a sua vida se cruza com a da CRACEP, completando em janeiro 49 anos de dedicação a uma causa que a deixa, ainda hoje, deveras orgulhosa. “É um enorme privilégio. Fui do tempo em que, como professora destacada, ajudava a fazer comida e a dar refeições”, recorda.

Em conversa com o Portimão Jornal, a responsável confessa terem “passado as passas do Algarve”, lembrando que as primeiras instalações se situavam no antigo hospital e que “depois, sem espaço”, deambularam por toda a cidade, até ficarem na Coca Maravilhas. E nem aqui foi fácil, com esforços que vão da ocupação de uma garagem ao avanço, posterior e “com verbas próprias, para a edificação da parte educacional, no primeiro andar”.

Voltando a historiar, a CRACEP funcionou durante algum tempo apenas como resposta social, através do Centro Educacional. Em 1983, face a um protocolo com o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), começou a construção de sede própria, que ainda hoje se mantém na Coca Maravilhas. Em 1991 iniciou-se a Formação Profissional para jovens com deficiência, com o apoio do IEFP.
 
Outras necessidades e mais respostas
Entretanto, as crianças que tinham sido acolhidas em 1975, naturalmente já mais crescidas, passaram a dar mostras de outras necessidades e de outro tipo de respostas. Foi assim que nasceu, em 1995, o Centro de Atividades Ocupacionais, logo seguido pelo Lar Residencial, que foi inaugurado em 2001.

“Tenho muito orgulho no Lar Residencial, que está lotado, a exemplo do que sucede por todo o país”, albergando 34 utentes em permanência, como explica a professora. Nesta linha de raciocínio, e porque as responsáveis reforçaram a ideia de que o apoio tinha de ser o mais abrangente possível, praticamente todos os anos tem sido aumentada a capacidade de resposta e melhorada a qualidade e o rigor dos serviços prestados.

“Nesta altura temos três respostas sociais e a procura é grande, inclusive porque os jovens que saem da Escola Inclusiva estão a bater-nos à porta”, confidencia Maria de Lurdes Gouveia. Em funcionamento, as tais valias sociais a que se aludiu são o Centro de Atividades e Capacitação para a Inclusão (CACI), o Lar Residencial (LR) e o Centro de Reabilitação Profissional (CRP), os dois primeiros apoiados pela Segurança Social e o CRP pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional.

Paralelamente, em julho de 2012 foi iniciado o serviço de Cantina Social, que, nesta altura, está preparado para fornecer 165 refeições diárias a pessoas carenciadas, “jovens e famílias que se inscreveram, mesmo algumas de fora”, prossegue a presidente, vincando que “não deixamos sair ninguém daqui sem comida”.

Acrescente-se que a CRACEP tem também instalações na Mexilhoeira Grande, onde funciona o Lar Residencial, uma estrutura que “visa contribuir para a melhoria da qualidade de vida das pessoas com deficiência que se encontrem impedidas de residir no seu meio familiar”.
 
Substituir o autocarro e dispor de carrinha adaptada
“Tenho tantas ambições! São 50 anos de muita luta, que, porém, tem sido compensatória. Olhamos para trás e dizemos que valeu a pena, e, entre aquilo que damos, recebemos muito mais. Os jovens sentem que são amados, é um mundo à parte”, sublinha Maria de Lurdes Gouveia, com alguma emoção à mistura. Aos 75 anos permanece firme nos propósitos de ajudar o próximo.

A substituição do autocarro – “o nosso está velhinho” – e a compra de uma carrinha adaptada são objetivos imediatos, que a responsável gostaria imenso de concretizar até ao fim do ano. “O nosso edifício também precisa de outra imagem, até mesmo para projetar esta casa”, prossegue, pedindo ‘cara lavada’ para a sede na Coca Maravilhas, depois de ter fechado já o acordo com a Câmara Municipal para a substituição do telhado.

“Passo a passo vamos lá. Com coragem, resiliência e até algum atrevimento”, atira a presidente, satisfeita com a história que a Cooperativa vem escrevendo neste meio século de vida e sem esquecer as muitas e muitas pessoas que a rodeiam.

Em ano de cinquentenário, para lá das atividades já levadas a efeito, como o concerto no Teatro Municipal em setembro com a fadista Alexandra, estão ainda previstos os Jogos Tradicionais com outras escolas e grupos de seniores, bem como um Seminário no Auditório do Museu “com colegas do Algarve e de Lisboa para falar de deficiência”, uma exposição fotográfica na EMARP evocando os primórdios da CRACEP e uma cerimónia oficial a assinalar a época natalícia.

Integração no mercado de trabalho

O Centro de Reabilitação Profissional (CRP) tem como objetivos específicos promover a qualificação e integração social e profissional das pessoas portadoras de deficiências ou incapacidades e desenvolver a autonomia pessoal e social. “É uma população flutuante, com cerca de 40 a 50 alunos, que fazem o curso, vão para estágio e depois tentamos integrá-los no mercado de trabalho”, explica Maria de Lurdes Gouveia, a propósito de uma das respostas sociais da CRACEP.

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