‘Comunicativa-mente’ prossegue lema do ‘teatro para todos’ em Lagoa

Foto: Ana Sofia Varela

Um auditório cheio assistiu, no dia 20 de janeiro, a uma performance artística e inclusiva sobre o ato de comunicar. Em palco juntaram-se os alunos do curso livre de teatro do Conservatório de Artes de Lagoa, gerido pela Artis XXI, a quatro jovens com necessidades específicas, numa atuação que pretende ser mais um alerta para a inclusão.

O que é a comunicação e as diferentes formas de fazer passar uma mensagem foram o tema principal da iniciativa. ‘Comunicativa-mente’ foi criado por Francisca Marinheira, artista e professora desta nova formação em teatro do Conservatório, tendo a Artis XXI como promotor.

“Fomos apoiados pela Direção-Geral das Artes e um dos pressupostos era ter atores com necessidades específicas ou com deficiências. Então, tínhamos mesmo que ter um ator profissional nessas condições, de forma a tornar a arte mais inclusiva. É neste sentido que nasce também o ‘Comunicativa-mente’, que costumo dizer que é filho do ‘Diferente-mente’, apresentado”, no ano passado, começou por enquadrar Francisca Marinheiro, ao público, antes da performance se iniciar. O facto de quatro jovens com deficiência pisarem o palco no ‘Diferente-mente’ foi um despertar de novas emoções e de redescoberta.

A partir dessa altura a artista já não se quis desligar deles e, este ano, surgiu a hipótese de juntar estes jovens aos alunos do curso de teatro, que têm entre 9 e 14 anos. Voltaram, assim, a pisar o palco para continuar a fomentar uma nova forma de olhar a arte, mais inclusiva.

“No fundo, somos todos artes, somos todos seres humanos e isso é o mais importante”, acrescentou. A verdade é que, apesar de alguma estranheza ao início, o ambiente que viveram, logo de seguida, foi de interajuda e de empatia enquanto grupo. Quanto ao tema, o comunicar é algo que todos fazem no dia a dia, mas também deverá ser algo sobre o qual todos devem ampliar os conhecimentos. “Temos que estar abertos a outras formas de comunicar, como a língua gestual portuguesa”, exemplificou a artista. Nesta performance não foi necessária a presença de um tradutor, mas é algo em que a Artis XXI tem investido.

Ficam apenas adiadas as atuações nas escolas do concelho, até uma data em que já não haja greve. O elenco é composto por Ana Monteiro, Alexandre Silva, Alice Ferreira, Beatriz Lopes, Carolina Ferreira, Francisco Cardoso, Inês Pires, João Araújo, Killary Llanos, Leonardo Mendes, Margarida Correia, Nuno Encarnação e Wilson Santana, com Rute Gomes, na flauta.


TESTEMUNHOS

“Sou de Lagoa, onde vivo e frequento a Escola Básica Jacinto Correia. Gosto de teatro, gosto de ser dramática (risos). Senti-me um bocadinho nervosa por subir ao palco. Estava a tremer, mas depois passou. Não tenho a certeza se vou continuar no teatro quando for grande, mas acho que sim. Foi muito bom fazer esta atuação. Eu gostei de aprender e de estar com o resto da equipa”.
Beatriz Lopes, 10 anos


“O teatro ajuda-me muito a relaxar. Sobretudo quando temos muitos testes, em que ficamos com a cabeça estoirada. Ajuda-me a parar de pensar e a focar-me apenas em divertir-me. A Francisca Marinheiro também ajuda muito a libertarmo-nos, a estar à vontade. Frequento o oitavo ano na Escola Básica Professor João Conim, em Estômbar, pois como vim do Brasil, fui obrigado a repetir o terceiro ano. Esta foi uma experiência boa. Aprendemos muito com eles [restantes jovens com necessidades especiais] e julgo que eles aprenderam connosco. Mostra que não são só as ‘pessoas normais’ que conseguem fazer isto. Qualquer pessoa consegue”.
João Araújo, 14 anos


“Gostei de fazer a peça, com a Francisca Marinheiro e com os meus colegas. Na primeira vez, com o Paulo Azevedo, no ‘Diferente-mente’, foi bastante bom. Estive com o Nuno [ambos assistentes de sala no Auditório] e com outros colegas. Foi uma experiência que me tocou muito. Fiz novos amigos e estive no palco com eles. Gostei mais da primeira vez, mas esta também foi muito boa, com os meninos. Fazem-me rir”.
Wilson Santana, 26 anos

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