Conservatório de Artes de Lagoa abre curso de teatro

Foto: Ana Sofia Varela

A grande novidade para o próximo ano letivo 2022/2023 no Conservatório de Artes de Lagoa será a abertura de um curso oficial de teatro, financiado pelo Ministério da Educação. Isto porque, a associação Artis XXI, que gere o espaço, concorreu ao programa da tutela para disponibilizar esta oferta

É uma ambição que começou a ser trabalhada há algum tempo, mas que ainda não tinha sido concretizada. “A nível nacional houve uma grande luta das pessoas ligadas ao teatro para que exista o ensino oficial desta arte. A decisão da abertura do contrato-patrocínio é uma vitória. E nós estamos empenhados e determinados em conseguir implementar esta oferta em Lagoa e Silves, concelho onde também desenvolvemos a oferta da música”, explica Elsa Mathei, diretora artística da Artis XXI.

Será, um curso do regime articulado, financiado pelo Ministério, onde serão seguidas orientações pedagógicas específicas e um programa, que, no final, dará direito a uma certificação.

“Isto vai ao encontro dos nossos objetivos iniciais de promover dinâmicas multidisciplinares. Tanto que nos chamamos Conservatório de Artes e não de Música. Este novo curso permitirá, por exemplo, que o aluno que está a estudar um instrumento, possa complementar com esta vertente”, salienta.
E apesar de ainda não haver muitas definições em relação ao curso, por ainda estar a ser avaliada a candidatura, já há algumas certezas. “Estamos a preparar o terreno”, adianta a responsável.

Regime articulado
É neste âmbito que o nome de Francisca Marinheira surge, pois será a responsável pelo novo curso. “Para já, será dirigido a alunos do 5º e 7º ano, com um conjunto de disciplinas, entre as quais interpretação, voz, improvisação, técnica e produção teatral”, descreve de forma sucinta a artista.
Alguns dos conceitos que serão trabalhados estão ligados a uma abordagem física, de improvisação, consciência corporal, comunicação não verbal, mas também de colocação e projeção da voz, uso da respiração abdominal, dicção, articulação, interpretação textual.

É com alguma expetativa que Francisca Marinheira abraça este novo desafio com crianças e jovens.

“Eles são um diamante em bruto. Ainda não têm vícios e, geralmente, em determinados aspetos, é mais fácil trabalhar com crianças do que com adultos. Já tenho colaborado noutros projetos com a Artis XXI e este será a ‘cereja no topo do bolo’, até porque é algo pelo qual temos lutado muito”, revela ao Lagoa Informa a artista e professora.

“Acredito que vamos descobrir talentos. Temos um Auditório com uma equipa fabulosa com qual é espetacular trabalhar e tenho a perspetiva de juntar a música e o teatro em algumas apresentações. É muito trabalhoso, exige bastante dedicação e a colaboração dos nossos colegas, mas não é nada que não tenhamos feito já”, considera.

Tanto que, à semelhança do que acontece com o ensino da música, deverão decorrer aulas abertas a familiares e encarregados de educação, ao longo do ano, podem ser convidados artistas para workshops ou planeadas residências artísticas, descreve.

A verdade é que o curso terá limitação de vagas, que, por enquanto, ainda não são conhecidas. Ainda assim, Elsa Mathei, assinala a atitude da Câmara Municipal de Lagoa que tem financiado os cursos de alunos que não tiveram acesso às vagas do Ministério da Educação, no regime articulado da música.

“A autarquia tem sido um motor que tem permitido que uma série de crianças não sejam excluídas e não fiquem de fora deste ensino. Isso também nos permitiu chegar a mais alunos e a quem tem mesmo interesse”, elogia.

Procura tem vindo a crescer
Os cursos mantêm-se como no ano letivo que agora termina. “Há bastante procura na iniciação musical, ao nível do primeiro ciclo, e também do curso básico, ambos no regime articulado”, sublinha Márcia Estima, diretora pedagógica da Artis XXI.

“O curso que vamos abrir, de teatro, também tem tido muita procura”, acrescenta, referindo que ainda está numa fase de pré-inscrição. Já os cursos livres não têm limitação em termos de vagas.

Segundo a responsável, o Conservatório de Artes de Lagoa, no conjunto dos cursos oficiais foi frequentado por cerca de 60 alunos. Para o ano letivo 2022/2023 já há cerca de 80 inscritos para prestar provas em julho.

‘Diferentemente’ abriu novas portas
O espetáculo de teatro inclusivo ‘Diferente-Mente’, apresentado no início deste ano, em Lagoa e Lagos, pela Artis XXI e pela Questão Repetida, “foi uma alavanca para as pessoas das associações despertarem e confiarem no nosso trabalho”, assume Elsa Mathei. Esse trabalho, que foi uma estreia da Companhia d’Algibeira, mereceu uma nomeação para o ‘Prémio Acesso Cultura’, que promove a inclusão em diversas vertentes.

As associações algarvias não venceram, mas o simples facto de terem “recebido um email desta entidade a dizer que tinham adorado” foi muito positivo. Ainda mais, porque coloca Lagoa em destaque ao nível de territórios inclusivos, algo em que a autarquia tem vindo a apostar.

“Temos tido uma intérprete de língua gestual portuguesa em todos os espetáculos”, destaca. A associação recebeu também uma verba da Direção Geral das Artes para um projeto bianual que prepare terreno para a inclusão. Por sua vez, “a ASMAL já mostrou interesse em criar um projeto com as associações”, avança Elsa Mathei.

Neste âmbito da deficiência, a responsável efetuou uma candidatura à Gulbenkian, com parte do grupo de trabalho e ganhou financiamento para, durante três anos, oferecer formação a pessoas com estas limitações. “É um terreno novo para nós, mas é uma oportunidade de dar novas ferramentas”, afirma.

Foto: D.R.

Da comunidade para a comunidade
“Este ano, não conseguimos abrir o teatro, mas a Francisca Marinheira acabou por colaborar em projetos nossos. Foi o caso da Ensemble de Flautas, lançado por nós e desenvolvido por alunos da ESPAMOL. No entanto, tivemos de cancelar devido à covid. Outro, era um projeto da Márcia Estima, diretora pedagógica da Artis, relacionado com a declamação de poesia”, explica Elsa Mathei.

O início do próximo ano letivo também já está bastante preenchido, com diversas iniciativas. Assim, em setembro, será apresentado ‘Mulheres Reflexo’, em outubro decorrem os concertos Artis e, em novembro, será a música antiga.

A novidade será mesmo o evento de setembro, que é uma peça de teatro participativo, com um grupo de alunas do curso técnico de apoio à infância da ESPAMOL, do 11º ano, dirigido e encenado por Francisca Marinheira. “Elas têm a disciplina de expressão dramática e musical e achamos bem incluí-las neste projeto, que conta comigo como atriz e encenadora, com uma bailarina, com a Elsa Mathei no cravo e com as alunas. E isto também é inclusão”, defende a professora.

Por sua vez, Elsa Mathei, afirma que a Artis está a “tentar apostar, não só em espetáculos com profissionais, mas também naqueles que integram a componente de mediação cultural” e de envolvimento da comunidade. O Festival de Piano foi um dos exemplos. “Correu muito bem, fomos ao encontro dos seniores, tivemos uma oficina de experimentação, onde eles puderam ver um piano por dentro”, exemplifica a diretora artística.

Segunda fase de inscrições até 13 de julho

A Artis XXI abriu um segundo período de candidaturas para os cursos de iniciação musical e para o básico de música, que estará aberto até dia 13 de julho. Também está em processo de pré-inscrição o curso básico de teatro, pois o número de vagas ainda está dependente da aprovação do Ministério da Educação. Os interessados podem encontrar mais informação online (artis21.pt).

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