Criação de uma equipa feminina satisfaz procura da comunidade

Texto: Hélio Nascimento | Fotos: Kátia Viola


Portimão e as suas gentes, em especial as mais atentas ao fenómeno desportivo, não podiam ficar indiferentes ao franco desenvolvimento que o futebol feminino português tem vindo a registar nos últimos anos.

As proezas da Seleção Nacional e os bons espetáculos proporcionados por equipas como as do Benfica e Sporting fizeram subir o interesse em larga escala, de tal modo que até os estádios registam assistências até há pouco impensáveis. O Portimonense Sporting Clube, sempre interessado em contribuir com projetos que valorizem a região, também deitou mãos à obra e tem uma equipa de sub-13 pronta a dar nas vistas. 

“A ideia de apostarmos no futebol feminino nasce da lacuna que havia no clube e da necessidade de acompanhar o desenvolvimento registado em termos nacionais”, afirma Paulo Português, o técnico coordenador da Escola de Futebol, que recebeu no seu seio a nova formação. “Ao mesmo tempo, sendo o Portimonense uma entidade creditada pela Federação como formadora de quatro estrelas, queremos atingir as cinco estrelas e para isso é necessário ter futebol feminino. Não era um objetivo imediato, mas contribuiu”, prossegue o professor, à conversa com o Portimão Jornal em pleno Campo Major David Neto. 

As razões não ficam por aqui e a próxima até é de peso: muitas meninas mostraram interesse em abraçar a modalidade, em virtude da tal enorme visibilidade do futebol feminino nos dias de hoje.

“A estrutura incumbiu-me de ficar à cabeça do projeto, inclusive porque eu próprio já vinha insistindo neste ponto. Mas havia um condicionamento logístico, que se prendia com a falta de espaço e de horários para lançar mais uma equipa”, explica Paulo Português. A filosofia da Escola de Futebol, porém, privilegia a aposta na formação, cada vez mais ampla e adequada, no sentido de ter mais e melhores atletas, de tal modo que “conseguimos encontrar uma solução”. 

Captar crianças cada vez mais novas  
O facto de a aposta ser na equipa de sub-13 passou, sobretudo, por enquadrar devidamente o recrutamento e captar crianças cada vez mais novas, ‘apanhando’ vários escalões etários. Paulo Português é professor de Educação Física na Escola Júdice Fialho e trouxe consigo algumas meninas. “Investimos muito na promoção online, divulgámos também na Escola de Futebol e nas redes sociais do clube. Insistimos neste escalão, que é de futebol de sete, que acaba por não ser tão complexo como o futebol de 11 em termos táticos. Nem todas têm a mesma aptidão, naturalmente, pelo que um dos primeiros propósitos passa por ministrar bem os princípios técnico-táticos em função do desenvolvimento das meninas, e, neste caso, simplificar todo o processo”.  

A equipa alvinegra vai disputar o Campeonato Distrital, curiosamente em compita com formações masculinas. Sucede que não há equipas femininas em número suficiente para formar uma série – mesmo que fosse somente uma –, pelo que são integradas no mesmo campeonato dos rapazes. Na circunstância, justifica-se mais uma explicação: é comum ter equipas mistas a disputar a prova, porque normalmente não há meninas suficientes para criar um conjunto de raiz. “Era o nosso plano B, mas não foi preciso. Já temos um grupo superior a 12 jogadoras e acredito que vamos ter muitas mais”. 

Além do Portimonense, também o vizinho Armacenenses, em princípio, apresentará uma formação só à base de miúdas. Será uma desvantagem, por terem de defrontar rapazes? “Teoricamente sim, pelas caraterísticas óbvias, mas, atenção, temos jogadoras com uma capacidade técnica acima da média. Já fizemos jogos-treino aqui, torneios internos entre atletas da Escola de Futebol, no fim do microciclo de treinos, e elas têm dado uma resposta surpreendente”, avisa o técnico.
 
O ‘berço’ da competição 
Carla Fernandes vai ser a responsável direta pela nova equipa, auxiliada por Tânia Machado, num universo de treinadores que, só na escola, se cifra nas 14 unidades. “Houve o cuidado de escolher um elemento com caraterísticas pedagógicas fortes, que faça um acompanhamento específico, que é essencial nesta fase de desenvolvimento das jogadoras”, releva Paulo Português, aludindo a Carla Fernandes. No total, o futebol de formação do Portimonense tem perto de 40 técnicos, para, note-se bem, mais de 500 jovens jogadores. 

“Na época passada, na escola, batemos o recorde de inscrições, com cerca de 300 atletas, com idades compreendidas entre os 4 e os 13 anos, mas “agora a idade limite é os 11 anos, em virtude da criação da equipa feminina e do tipo de desenvolvimento que queremos protagonizar com as turmas de competição”, adianta, comprovando que os responsáveis querem aumentar a base da pirâmide. “Creio que, pelo menos, voltaremos a ter à volta das três centenas de crianças nos nossos treinos de iniciação”.  

Paulo Português está há oito anos no Portimonense, seis como treinador nos vários escalões, no futebol de 11 e de 7, e, depois, foi convidado pelo diretor geral José Augusto para assumir a coordenação da Escola de Futebol. É deste ‘berço’ que saem os miúdos para as equipas de petizes (sete anos), traquinas e benjamins. “Todos os que querem experimentar o projeto do Portimonense, vindos de fora, são observados, entram na nossa metodologia de ensino e podem ficar, aptos para a competição”. 

Toda esta filosofia “permite crescer e melhorar”, garante Paulo Português, aludindo igualmente às valências criadas, tais como o departamento clínico ou os novos campos que estão a avançar e não tardarão a ficar prontos e a poderem receber mais treinos e jogos (ver outra peça). “Vai catapultar as nossas condições de preparação. Não queremos duplicar o número de atletas, mas, sim, dispor de melhores infraestruturas, treinando em campo inteiro. Em suma, tudo mais bem montado e apetrechado”, regozija-se o coordenador.  

O regresso… 40 anos depois 
O Portimão Jornal também ouviu José Augusto, o diretor geral e responsável por todo o futebol de formação do Portimonense, que começou por destacar um dado deveras curioso: há 40 anos que o clube não tinha uma equipa feminina em ação! “O projeto estava na cabeça desde 2019, quando assumi o cargo, mas foi sendo adiado por não dispormos de espaço físico. Agora, com tanta procura e tantas meninas interessadas em jogar, demos mais uma resposta positiva à comunidade portimonense”. 

José Augusto refere igualmente a imensa visibilidade que o futebol feminino tem hoje em dia, justificando o entusiasmo crescente da juventude do concelho, e considera que a aposta no escalão de sub-13 permite alargar o âmbito da equipa em relação às idades das jogadoras, juntando “as mais velhas e as mais novas” numa perfeita e profícua simbiose. 

A azáfama no Campo Major David Neto intensificava-se com o cair da tarde, até porque, para além dos treinos ininterruptos dos vários escalões, há quase sempre visitantes interessados em conhecer o espaço e agendar jogos, torneios e estágios. José Augusto tem um grupo de australianos à sua espera, depois de, horas antes, ter recebido um emissário do Liverpool, que quis conhecer os cantos à casa onde vai decorrer a Portimão Internacional Cup.

Margarida Antunes até trocou de modalidade   

Margarida Antunes é uma das craques da equipa feminina do Portimonense. Tem 12 anos, é de Portimão, frequenta o 7º ano de escolaridade e começou a jogar futebol há pouco tempo. “Em fevereiro desisti do basquetebol, que era a modalidade que praticava, e, devido a uma grande paixão pelo futebol, cá estou”, diz a jovem, desenvolta nas palavras e com enorme à vontade na breve conversa com o jornalista. “Comecei a ver jogos na televisão, sobretudo do Benfica, Sporting e da Seleção, e resolvi experimentar, porque acho que há bastante entusiasmo e bonitos espetáculos. Estou a gostar imenso”, confessa a Margarida, já devidamente equipada para mais um treino. As suas principais referências são a espanhola Brenda Perez e Ana Capeta, ambas do Sporting.  


Novos relvados também ajudam vertente turística 

Mais uns dias e a obra fica pronta! O Campo Major David Neto, a casa do futebol de formação do Portimonense, não tardará a inaugurar dois campos, ambos sintéticos, um investimento a cargo da SAD, na sequência das boas relações e do protocolo estabelecido com o clube, cujas camadas jovens passarão assim a dispor de mais e melhores condições. 

A estreia do campo principal, de futebol de 11, vai ocorrer no fim de semana de 28 a 30, altura em que a cidade volta a receber a Portimão Internacional Cup, em futebol, para o escalão de sub-14, agora em segunda edição. A visita de muitas equipas nacionais e estrangeiras de renome (Liverpool, Juventus, PSG, Everton, Sevilha, Leipzig e Benfica entre outras) é a certeza do entusiasmo que o evento proporciona. O segundo relvado, para futebol de nove, será inaugurado mais perto do final do ano. 

“Além de passarmos a dispor de mais espaço para as nossas equipas, melhoramos significativamente a qualidade de treino e até de horários, permitindo aos jovens que terminem a sua preparação mais cedo e assim disponham de maior tempo de estudo”, explica José Augusto, o diretor geral, bastante agradado com a ajuda fundamental da SAD. “Ao mesmo tempo, mais dois campos vão contribuir para que a vertente turística saia também a ganhar”. 

A verdade, prossegue o homem forte da formação alvinegra, é que cada vez há mais equipas a quererem estagiar e treinar no complexo, e, paralelamente, mais empresas a pretenderem efetuar torneios. “Desejamos ser um alicerce económico da cidade”, salienta, aludindo a uma academia universitária norte-americana que chega no final do mês e vai permanecer no concelho durante cerca de 30 dias, e ao grupo de jovens australianos que fizeram do Major David Neto a sua casa durante um largo período. 

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