Doce fino ajuda a combater o desemprego

Eugénia Militão

Quando em 1989 ficou desempregada, Eugénia Militão despertou para a arte da doçaria tradicional, tendo frequentado um curso no Centro de Emprego de Lagos. E não mais parou. Hoje, com 57 anos, já perdeu a conta aos prémios conquistados em muitos concursos e dá aulas na Universidade Sénior e no Espaço Jovem desta cidade.

José Manuel Oliveira

Depois de ter confecionado mais um ‘D. Rodrigo’, um dos famosos doces finos de Lagos recheado com um ovo e amêndoas, e à medida que vai dando alguns retoques minuciosos para aprimorar desta vez um magnífico bolo representando uma caravela a evocar o período dos descobrimentos marítimos, Eugénia Militão garante à Algarve Vivo que não tem preferência por qualquer tipo de doçaria. “Gosto de todos. As peças mais pequeninas, como ‘cestinhos’, são as mais interessantes. E é o que, atualmente, não vimos no mercado. É um produto só feito mesmo pelas doceiras”, nota aquela especialista, que espera publicar até final de 2015 a segunda edição do seu livro intitulado ‘Os docinhos da Gena’, com 50 páginas.

Despertou para a arte da doçaria tradicional em 1989, após ter ficado desempregada quando trabalhava num estabelecimento comercial em Lagos, de onde é natural. Inscreveu-se no Centro de Emprego, tendo frequentado um curso de doçaria regional. E não mais parou. Hoje, além dos muitos prémios já conquistados em vários concursos, é monitora desta atividade na Universidade Sénior e no Espaço Jovem a funcionar na antiga Escola Comercial e Industrial daquela cidade, ao final da tarde às segundas e quartas-feiras. Antes, tem de cumprir o seu horário como funcionária, há dez anos, da Unidade Técnica de Comunicação da Câmara Municipal de Lagos.

“Que giro! Como é que isto se faz?”
Quando iniciou a sua participação na Feira Concurso Arte Doce, que anualmente se realiza em Lagos, “chegava a fazer ao vivo uma peça por minuto”. “Ai que giro! Gostava tanto de aprender. Como é que isto se faz?”, foi uma das muitas reações que escutou de visitantes. E até lhe pediam para executar peças artísticas muito específicas de doce fino. “O peixe é uma delas. E depois aquelas brincadeiras que fazemos para as crianças, como um sapinho, um cãozinho, um coelhinho”, conta Eugénia.

Participa na Arte Doce há 20 anos. Já perdeu a conta aos primeiros e segundos prémios conquistados, mas aponta para “mais de uma dezena”. Em 2013, “a peça que apresentei simbolizava um bacalhau e em 2014, uma renda de bilros e um espadarte”. Mas não foram confecionadas ao vivo. “Esse tipo de trabalho é fabricado em casa e o tempo que demora depende daquilo que executo. Se, por exemplo, se trata de uma peça muito elaborada, começo às 22h00 e termino por volta das 4h00 da madrugada”, acrescenta.

Trabalha ao vivo em todas as feiras, apresentando toda a espécie de peças em miniatura, “desde sapinhos, pintainhos, cestinhos e peixes, a vieiras, maçãs e tomates, entre muitas outras”. “As pessoas gostam muito de me ver trabalhar. E uma das falhas que sinto – e perante a qual tenho lutado – é precisamente não haver mais doceiras a trabalhar ao vivo. Infelizmente, sou a única a fazê-lo. Por exemplo, um turista estrangeiro chega a uma feira e come uma coisa que nem sabe como se faz. Como tal, é de valor acrescentado divulgarmos ao vivo o nosso trabalho”, sublinha Eugénia Militão.

A escassez de amêndoa algarvia
A falta de amêndoa algarvia é uma preocupação para Eugénia Militão. “Um problema que nós, doceiras, temos é o facto de já não haver muita amêndoa do Algarve. Atualmente, compramos, embora com muitas dificuldades, aos pequenos produtores já idosos, os quais ainda conservam amendoeiras. A nossa amêndoa é totalmente diferente da de outras regiões, o que nos permite confecionar doces que em nada se comparam aos que se vendem noutras zonas do país. Quando os nossos agricultores deixarem a atividade, teremos de ir procurar amêndoa a Espanha e a quem vende esse produto, por exemplo, oriundo da Califórnia”, alerta.


D.rodrigo

O segredo do D. Rodrigo
“A verdadeira doceira só utiliza amêndoa, ovos e açúcar. Sem aditivos. Porque a própria massa é cozida e conserva o produto”, explica. Por exemplo, “o segredo do D. Rodrigo é a sua queima”, pormenoriza. “É ser queimado na própria calda em que são feitos os fios de ovos. E cada um leva um ovo. A confeção não demora muito tempo. Em primeiro lugar, temos de misturar os ovos-moles com amêndoa, o que constitui o recheio do D. Dodrigo. Depois, fazemos os fios de ovos. Só em seguida são feitas as bolinhas e o produto é queimado e embalado numa prata para o conservar de forma especial por ser confecionado apenas à base de ovos. Se uma pessoa quiser fazer, por exemplo, duas dúzias de D. Rodrigos, demorará cerca de duas horas”, explica.

 

 

 

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