Dois meses após a COVID-19 sociedade tenta regressar à normalidade
Texto: Ana Sofia Varela
Não será fácil enumerar todas as medidas tomadas por Câmaras Municipais, Juntas de Freguesia, associações, entidades, profissionais de saúde, empresários e até sociedade civil para prosseguir com o esforço conjunto de evitar a propagação do novo coronavírus, a COVID-19. Foram dois longos meses desde o primeiro caso registado no país. A sociedade agora tenta regressar à normalidade possível e para trás ficam alguns aspetos positivos, apesar da negatividade da pandemia, que se elevaram.
Portimão lançou campanha
O primeiro caso do novo coronavírus na região algarvia foi importado e surgiu no concelho de Portimão a 8 de março. Uma aluna da Escola Secundária Manuel Teixeira Gomes foi infetada numa viagem a Itália e mal as autoridades de saúde deram o alerta, o estabelecimento de ensino encerrou. Poucos dias depois, a autarquia lançou uma campanha sob o mote ‘Seja Responsável, Ajude a Parar a COVID’, que tinha como base a consciencialização da população para evitar a propagação da doença. Tinha também um conjunto de propostas para comerciantes, como o apelo ao distanciamento de segurança entre mesas. Esta divulgação a 12 de março surgiu ainda antes do Estado de Emergência ser decretado e do Governo obrigar a encerrar espaços comerciais, escolas e serviços não essenciais. A autarquia foi também a primeira a fechar edifícios desportivos e culturais devido ao foco de transmissão registado na cidade. Nessa semana, ainda algumas autarquias divulgavam eventos, mas, em pouco tempo, começaram a cancelar os espetáculos.
Estado de alerta em Lagoa
A Câmara Municipal de Lagoa, pela proximidade com Portimão, avançou de imediato com a segunda fase do Estado de Alerta, prevista no plano de contingência para evitar o contágio pelo novo coronavírus. Tal como Loulé, Albufeira e Lagos, foi encerrando espaços de utilização para desporto ou cultura. Vedou parques infantis, fechou piscinas, auditórios e pavilhões e manteve apenas os serviços essenciais, cancelando os eventos que estavam previstos para março, como o Humorfest ou os Percursos Performativos no Património. Esta foi, aliás, uma medida que, aos poucos, se generalizou sendo alargada na região aos meses de abril e maio. Há até previsão de que os grandes eventos de Verão como a FATACIL, Festival da Sardinha, Festival do Marisco e Feira Medieval, possam não ser realizados, devido à COVID-19. A decisão dependerá das medidas do Governo, mas também da deliberação conjunta das Câmaras que organizam esses eventos.
Máscaras para todos
Além das autarquias terem distribuído máscaras e ‘kits’ de proteção, pela população e pelos empresários, numa ação que antecedeu a fase de desconfinamento, foi a sociedade civil que deu grandes mostras de união, ao se juntar para angariar fundos, fazer máscaras comunitárias, fatos de proteção, viseiras, disponibilizar bens alimentares e até computadores. Juntaram-se pessoas que queriam simplesmente ajudar o próximo nasceram diversos grupos de ajuda. No Agrupamento de Escolas Poeta António Aleixo, em Portimão, foram feitas viseiras para entregar a quem está na linha da frente do combate à pandemia, mas também a entidades como a SOS Oncológico. Esta associação, sediada em Lagoa, enviou máscaras a doentes oncológicos de muitos pontos do país, disponibilizando também viseiras a cuidadores de pessoas acamadas e a quem tem cancro do pulmão. Este não é, no entanto, um caso isolado, pois as redes sociais potenciaram a proximidade entre pessoas com objetivos comuns. COVID Marafado, é composto por um grupo de pessoas que, de modo informal, presta ajuda em diversas áreas. Tentam perceber quais são as necessidades junto da população, associações, centros, hospitais e outros serviços, para depois tentar estabelecer contactos com outras empresas que possam ajudar. Desde alimentação, a Equipamentos de Proteção Individual, computadores que são arranjados para poderem ser entregues a alunos sem estes recursos… É uma comunidade que tenta simplesmente ajuda.
Desemprego cresce
A região estava a conseguir avançar com mecanismos para travar a sazonalidade e fazer cair o desemprego. A chegada da COVID-19 fez disparar os alarmes. Só no Algarve, em março, o número de inscritos nos Centros de Emprego subiu 41,4 por cento em relação ao mesmo mês de 2019. E este aumento foi muito superior ao registado a nível nacional. Em comparação, na região este indicador cresceu 14 vezes mais do em todo o país.
Computadores e tablets
Com o encerramento das escolas, empresas, estabelecimentos comerciais e turísticos fechados, bem como serviços públicos, o teletrabalho e a telescola começaram a fazer parte da vida de muitas pessoas. O Ministério da Educação criou o programa Estudo em Casa, com emissões diárias para os alunos através da RTP Memória e houve um esforço de toda a comunidade educativa, envolvendo professores, encarregados de educação e funcionários, para que as crianças consigam consolidar e aprender novos conteúdos. O problema que se colocou, numa determinada altura da pandemia, foi a falta de equipamentos ou recursos para concretizar todo um plano de estudos online. Alguns estudantes não têm internet em casa ou simplesmente um computador disponível. Então foram várias as autarquias que cederam equipamentos a quem deles precisa. Portimão cedeu assim 800 tablets para alunos do concelho, Lagos conseguiu emprestar 400 computadores e 100 tablets, em Lagoa foram entregues 300 tablets e em Albufeira foram quase 700 tablets e mais de uma centena de portáteis.
Desinfeção dos espaços públicos
Lagos e Albufeira foram dos concelhos pioneiros no Algarve no que toca à desinfeção dos espaços públicos. Na cidade dos Descobrimentos as ações foram realizadas por fases em edifícios públicos e nas áreas exteriores aos espaços comerciais. Seguiram-se depois outros concelhos da região.
Apoio social
O reforço dos Fundos de Emergência para ajudar a população que perdeu rendimentos devido à COVID-19 foi outra das realidades em diversas autarquias, como Lagoa. Com a economia local quase parada uma grande fatia da população perdeu o emprego, sofreu cortes ou está a passar dificuldades. Em Portimão foi criado um fundo com dois milhões de euros. Albufeira também disponibilizou verbas para os mais carenciados. As autarquias prolongaram o prazo de pagamento das contas da água e isentaram as taxas de água e de resíduos sólidos, quer para os cidadãos mais carenciados como para empresas fechadas. As Câmaras Municipais deram verbas à AMAL para adquirir ventiladores, material de apoio à saúde e equipamentos de proteção individual para as unidades hospitalares. Portimão, além desta ajuda também cedeu oito ventiladores ao CHUA, com a verba que seria para a organização da F1 de motonáutica, enquanto Albufeira cedeu outros quatro.
Ajuda aos grupos de risco
Foram vários os voluntários a criar redes informais de ajuda aos mais vulneráveis nesta pandemia, como os idosos, doentes crónicos ou com doenças auto-imunes. A nível de entidades, a Junta de Freguesia de Portimão foi uma das que, de forma rápida, começou a comprar os bens de primeira necessidade aos idosos que precisam de ficar isolados. Uma medida que, em grande parte, já era realizada antes da pandemia, onde numa concertação com várias entidades, como os Bombeiros Voluntários, esta parte da população era apoiada com refeições e rastreios frequentes de saúde. Também Lagoa criou um banco de ajuda, em parceria com as Juntas de Freguesia, com funcionários e voluntários para materializar esta ajuda. Uma situação repetida também em Albufeira. Ainda assim, de forma informal, vizinhos ajudaram-se uns aos outros, um pouco por todo o país, disponibilizando-se para efetuar compras para os grupos de risco.
Testes aos lares e às creches
Numa verdadeira corrida contra o tempo, os lares foram a prioridade na realização de testes à COVID-19 no Algarve para tentar prevenir possíveis contágios nestes grupos de risco. A maioria dos espaços acusou negativos, mas houve alguns casos positivos num lar da Santa Casa da Misericórdia em Boliqueime, no concelho de Loulé. Para conseguir dar resposta aos mais de 90 lares no Algarve, foi criada uma parceria com o Algarve Biomedical Center (ABC), que une num consórcio o Centro Hospitalar Universitário do Algarve e a Universidade do Algarve. Agora começa uma nova ronda de testes, mas desta vez aos funcionários de creches e jardins de infância para garantir a segurança na reabertura destes espaços a 18 de maio. A este nível foram ainda criados em abril centros de teste, no Estádio do Algarve e no Portimão Arena, bem como diversas Áreas de Acolhimento à COVID-19 e Zonas de Apoio à População, locais onde as pessoas podiam ficar durante a quarentena, se não quisessem infetar os restantes elementos com quem partilham casa.
Empresários preocupados
A maioria dos empresários não sabe se conseguirá aguentar o negócio depois de dois meses de confinamento, com receitas a caírem ou a zeros, processos de ‘layoff’, pagamento de impostos e segurança social. O medo é ainda maior quando se trata da incerteza de uma futura vaga de coronavírus, no próximo Inverno. Quem gere as empresas, apesar de ter esperança numa vacina, sabe que muitos negócios, que sobreviverem agora, não vão aguentar se tiverem de encerrar mais tempo este ano. Por sua vez, para a região algarvia, que vive na maioria do turismo, sobretudo do mercado externo, os momentos agora vividos são de extrema dificuldade. Com as fronteiras fechadas, houve uma quebra nas reservas e um aumento dos cancelamentos. O recrutamento para a época alta foi adiado e muitos dos que procuravam um novo emprego não o conseguiram. Aqueles que ainda trabalhavam no setor foram atirados para o desemprego. Ainda assim, houve unidades hoteleiras que, face ao encerramento inesperado, acolheram os idosos que necessitaram de sair dos lares para que estes espaços fossem desinfetados.
Concertos em casa
Uma das iniciativas em que a Câmara de Lagoa deu o exemplo foi na ajuda aos artistas locais, residentes no concelho, que viram os seus concertos cancelados. Por esta razão, testou um modelo diferente. A autarquia paga um ‘cachet’ ao cantor ou músico, como se este estivesse a atuar num concerto ao vivo. No entanto, é feita uma gravação no auditório que depois é emitida através das redes sociais. Assim, quem está em casa pode assistir e a autarquia auxilia o artista que ficou com menos rendimentos devido ao cancelamento de concertos físicos. A maioria dos projetos que decorriam em espaço físico, viraram-se para o mundo virtual. Foi o caso da Festa da Mãe Soberana, em Loulé, ou do Museu de Portimão que foi disponibilizando conteúdos nas redes sociais. Por outro lado, houve estruturas que se adaptaram e passaram os projetos para o universo virtual, através de contactos e videoconferências, como foi o caso da Startup Portimão que realizou o primeiro ‘Bootcamp de Aceleração online’ onde foram apresentados doze projetos.