Exposição retratará seis mil anos de história de Quarteira
Quarteira terá uma exposição intitulada ‘Os Pés na Terra e as Mãos no Mar’, dedicada aos seis mil anos da sua história, num projeto ambicioso que pretende valorizar a sua identidade, dando a conhecer muitos capítulos desconhecidos por muitos quarteirenses e pelos milhares de visitantes anuais da cidade.
A inauguração está marcada para 13 de maio de 2021, tendo a Câmara Municipal de Loulé celebrado esta semana dois protocolos, um com a Direção-Geral do Património Cultural/Museu Nacional de Arqueologia e outro com a Direção Regional de Cultura do Algarve, para preparar esta iniciativa que a autarquia prevê que venha a ser marcante para a comunidade quarteirense, uma vez que existe todo um trabalho invisível que é necessário desenvolver, nomeadamente na revisitação da investigação realizada, na inventariação e posterior selecção para exposição dos bens culturais, na construção da narrativa expositiva, na conservação e, eventual, restauro dos bens culturais, na elaboração do catálogo, na preparação do programa cultural e educativo que estará agregado à exposição.
É na antiga Lota de Quarteira (Largo das Cortes Reais), num espaço carregado de simbolismo para um território desde sempre virado para o mar e para a economia a ele associada, que decorrerá esta iniciativa. Direcionada para um público local, nacional e internacional, esta exposição tem por objetivo revelar e promover o património material e imaterial de Quarteira, em que o tempo, o homem, a terra e o mar serão as temáticas centrais.
A autarquia de Loulé conta com dois parceiros fundamentais que trarão todo o conhecimento técnico e científico a este projeto, sobretudo em termos do empréstimo de bens culturais, tratamento dos mesmos ou divulgação desta exposição comissariada por Rui Parreira, diretor de serviços da Direção Regional de Cultura do Algarve. “Um arqueólogo que, além da sua sabedoria e bom senso, junta a noção do local e a sua integração no todo nacional e internacional”, frisou o diretor do Museu Nacional de Arqueologia, António Carvalho, a representar a diretora-geral do Património Cultural, Paula Araújo da Silva, nesta sessão.
“Com os pés na terra e as mãos no mar – 6 mil anos de História de Quarteira” é uma atividade imbuída no mesmo espírito que levou ao sucesso de “Loulé – Territórios, Memórias e Identidades”, exposição que esteve patente ao público durante dois anos no Museu Nacional de Arqueologia, no Mosteiro dos Jerónimos. “O que fizemos em Lisboa é único e não se repete. Tivemos cerca de 400 mil visitantes nessa exposição e, esta parte final, nomeadamente o último meio ano, contribui para que o Museu Nacional de Arqueologia fechasse 2019 com 236 650 visitantes, um número fantástico na história deste Museu”, sublinhou António Carvalho para quem esta mostra que deu a conhecer o período entre os mais antigos vestígios da ocupação humana no atual concelho de Loulé até 1384 foi apenas “a face visível de um iceberg”.
Entre outras ações igualmente importantes neste âmbito foram, por exemplo, a atualização da Carta Arqueológica do Concelho, a campanha de restauro dos bens culturais, o lançamento de publicações, catálogos e textos ou a virtualização da própria exposição.
Também a exposição de Quarteira terá essa “face invisível”, nomeadamente na articulação que haverá com a população local, a recolha de bens que não se encontram na posse do Município ou a valorização do património imaterial da atual cidade.
Vítor Aleixo falou desse importante momento da parceria com o Museu Nacional de Arqueologia, afirmando ter sido essa exposição a ação que mais o realizou enquanto autarca durante o seu primeiro mandato. Quanto a Quarteira, acredita ser mais um “projeto ambicioso” que o concelho terá para celebrar o seu património. Se durante muitos anos Quarteira desenvolveu-se fruto do ‘boom’ turístico da década de sessenta, a sua história desvaneceu-se no tempo e esta será, pois, uma oportunidade para resgatar muito dessa riqueza.
“O turismo trouxe, de repente, para um território pacato onde a vida corria quase em total harmonia com a envolvente e com a comunidade, uma energia destruidora criativa, pessoas novas, ocupou o território de uma maneira extensa, transplantou hábitos, pessoas, realidades que eram desconhecidas numa vila piscatória, houve uma realidade que se estruturou e organizou em cima de outra, mas de tal maneira que a tapou”, explicou o presidente da Autarquia. Vítor Aleixo relembrou nomes que tentaram, ao longo dos anos, contrariar essa tendência de aniquilação do conhecimento do passado de Quarteira, exprimindo “a necessidade coletiva de afirmação e valorização da sua raiz cultural, memória, história e identidade”. É o caso de Isidoro Correia, um dos “guardiões da história desta terra”.
Não obstante esse impacto menos positivo durante anos do desenvolvimento da atividade turística, o responsável da Câmara de Loulé acredita que esta exposição poderá contribuir agora para que turismo e cultura deem as mãos até porque “cada vez mais, quando falamos de turismo, teremos obrigatoriamente de falar de património, até porque os turistas valorizam a nossa identidade cultural”.
Segundo o autarca, há capítulos da história de Quarteira que não estão bem contados e que, a partir daqui, poderão ser dados a conhecer. Se o período da antiga Carteia e a ocupação romana são episódios da história relativamente bem conhecidos, outros aspetos há que poderão ter agora um maior aprofundamento. “Por exemplo a atividade agrícola na área de Vilamoura onde aconteceram as primeiras plantações de açúcar no Algarve e a primeira mão-de-obra escrava da região que terá trabalhado naqueles terrenos agrícolas. É muito interessante podermos trazer à luz essa parte da história”, sublinhou Vítor Aleixo.
“Há 6 mil anos o mundo estava numa fase de grande desenvolvimento, as pessoas estavam a descobrir mais formas de se relacionar com este território. Esta exposição vai fazer com que as pessoas olhem para a sua terra de outra forma. É uma terra que tem um passado, não nasceu do nada. Vai ser bom para o turismo, nesta vertente do turismo cultural”, disse a diretora regional de Cultura do Algarve, Adriana Nogueira, que lidera uma entidade cuja principal missão é precisamente a valorização do património cultural da região, tornando-o acessível a todos.
Já Telmo Pinto, presidente da Junta de Freguesia de Quarteira, enalteceu esta iniciativa e a sua importância para as gentes locais. “Esta exposição vai ser o reflexo de uma cultura que existe mas que se calhar está na casa das pessoas e vai fazer crescer Quarteira, tanto localmente como no que toca a quem cá vem que tem mais uma oferta turística”, disse. O autarca local sublinhou ainda o facto de tratar-se de uma iniciativa há muito desejada pela população e que, partir desse momento, Quarteira ficará com um “assinalável espólio”.
Refira-se que, entretanto, vai ser constituída uma comissão de consultores composta por quarteirenses, com o claro objetivo de envolver a comunidade local e aqueles que, “ao longo dos anos, foram guardiões da memória da sua terra”.
Neste dia tão importante para o património e para a história local, a Câmara Municipal de Loulé inaugurou o novo espaço das reservas museológicas do Museu Municipal de Loulé, localizado no centro da cidade, e que permitirá ter estes bens patrimoniais, entre os quais peças arqueológicas e outros bens culturais “devidamente preservados e salvaguardados, para que no futuro Quarteirão Cultural possam ser alvo de exposições temporárias”.