Francisco Martins compara representação do Algarve na Feira de Madrid a uma “banca de gelados”
“A presença do Algarve envergonhou-me enquanto algarvio! Tal como envergonhou alguns agentes turísticos que recorriam ao nosso pavilhão (o de Lagoa) para efetuar algumas reuniões porque pelo menos viam ali alguma coisa grande com a palavra Algarve”, conta, em declarações à Algarve Vivo, o edil Francisco Martins.
José Manuel Oliveira
Rui Pires Santos
Uma “banca de gelados” com “três ou quatro panfletos” sobre o Algarve no meio do pavilhão do Turismo de Portugal na Feira de Madrid de 2015, que decorreu de 28 de janeiro a 1 de fevereiro. É desta forma, em tom crítico e com alguma ironia à mistura, que o presidente da Câmara Municipal de Lagoa, o socialista Francisco Martins, descreve, em declarações à Algarve Vivo, aquilo que diz ter visto na recente Feira de Madrid, na capital espanhola, chegando até ao ponto de se confessar “envergonhado” com a presença do pavilhão da Região de Turismo do Algarve (RTA) naquele certame internacional.
“A Câmara Municipal de Lagoa esteve representada na Feira de Madrid, que é a maior da Península Ibérica, com a nossa modéstia num pavilhão próprio com 44 metros quadrados. E quando lá cheguei vi o Algarve com aquilo a que chamo uma banca de gelados… Ou seja, uma banquinha no meio do pavilhão do Turismo de Portugal. Tive o cuidado de me deslocar ao local, onde vi três ou quatro panfletos em cima da mesa – um sobre a dieta mediterrânica, outro alusivo a um roteiro em Monchique e mais duas coisinhas… Depois, vi pavilhões enormes e bonitos, incluindo o de Portugal. Não me refiro ao espaço do Algarve. Mas os países, como Turquia e Itália, entre outros, com turismo que rivalizam com o Algarve, estavam ali bem representados, com um peso fantástico”, afirma.
E vai mais longe: “enquanto tínhamos uma nave onde estava representada toda a Europa, só a nossa vizinha Andaluzia, não tinha um pavilhão, mas sim uma nave para expor os produtos daquela região do sul de Espanha. Ou seja, a capacidade que os espanhóis têm para vender, neste caso o seu destino turístico, estava à vista de todos. Quando a Andaluzia apresentava uma nave com 400 ou 500 metros quadrados e o Algarve tinha aquilo a que chamo uma banca de gelados, digam-me qual é a estratégia de promoção do nosso país? Além disso, atendendo ao facto de se iniciarem as ligações aéreas Faro-Barcelona e Faro-Madrid no próximo Verão, ainda mais estranho é. A presença do Algarve, a mim, envergonhou-me enquanto algarvio! Tal como envergonhou alguns agentes turísticos que recorriam ao nosso pavilhão (de Lagoa) para efetuar algumas reuniões, porque pelo menos viam ali alguma coisa grande com a palavra Algarve”, refere, de modo contundente, Francisco Martins.
Na altura, o autarca de Lagoa, segundo o próprio garante, preferiu não abordar na Feira de Madrid o assunto com o presidente da Região de Turismo do Algarve, Desidério Silva. “Até estive lá com ele, mas achei que não era próprio dizer naquele local”, lembra. Já em Faro, no seio da AMAL (Comunidade Intermunicipal do Algarve), presidida pelo socialista Jorge Botelho (também presidente da Câmara Municipal de Tavira), “aí sim, disse-o na última reunião desta associação de municípios em que participei”. “Contudo, não me pareceu que esta questão tenha causado muito transtorno, mas pode ter sido só impressão minha”, acrescenta.
“Falei nesse assunto que me preocupou imenso. Não tenho de ser eu a dizer ao Desidério. Entendo que a relação entre um município e um organismo qualquer, neste caso a Região de Turismo do Algarve, é um relacionamento direto. A nível de turismo, é um problema regional. E acho que tem de ser a AMAL, essa sim, a ter uma conversa com o presidente da RTA. O que é que a AMAL tem de dizer à RTA? Tem de perguntar qual é a estratégia de turismo para o Algarve. Sei que foi apresentado o plano estratégico, irei conhecê-lo nos próximos dias. Mas a questão a colocar pela AMAL ao presidente da RTA será qual é, efetivamente, a estratégia e como é que lá chegamos”, sublinha.
Confrontado com uma eventual falta profissionalismo na promoção do Algarve enquanto destino turístico, o presidente da Câmara Municipal de Lagoa prefere destacar o que viu, na Feira de Madrid, em relação ao norte de Portugal. “Vi lá, por exemplo, que o Porto e o norte do país, também como nós, fugiram do pavilhão de Portugal e instalaram um espaço próprio, autónomo. Foi uma aposta fortíssima do Porto e do norte. E como temos verificado, o Porto tem vindo a subir ao nível do turismo”, observa.
Mas o que falta no Algarve? Estratégia? Os técnicos da RTA não estão à altura? Não há concertação? Francisco Martins volta a mostrar-se crítico, recorda outros episódios e lança várias questões: “Em 2014, na Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL), o Algarve estava a um canto de um pavilhão, com metade dos municípios virados para uma parede. Isto é autêntico! Por isso, neste ano Lagoa não esteve presente naquele evento juntamente com a RTA. Estivemos representados com o nosso próprio pavilhão, tal como agora iremos para Barcelona (de 17 a 19 de abril – n. d. r.). Sou obrigado a questionar, obviamente, qual é a estratégia. Qual é o produto que queremos vender? Porque senão qualquer dia caímos numa situação que é a seguinte: o Algarve já vale por si enquanto nome, tudo bem. Então, qualquer dia estamos como uma antiga burguesia. Temos palacetes muito bonitos a cair de podres, porque se agarrou ao estatuto de burguês enquanto tudo foi definhando à sua volta sem os responsáveis darem por isso”.