GEJUPCE: Clube com mais títulos no futsal já justifica melhores condições

Texto: Hélio Nascimento, in Portimão jornal nº44


Conquistar 66 títulos em (quase) 27 anos de história, numa só modalidade, é um registo merecedor de uma vénia e um orgulho para todos aqueles que têm feito do GEJUPCE um símbolo do desporto portimonense, algarvio e nacional.

Tem sido assim desde 1995, ano da fundação e do pontapé de saída para uma existência assaz brilhante, que hoje justifica mais atenção e melhores condições, como certamente se vai constatar nas palavras de Rui Oliveira, o presidente.

A história leva-nos ao Largo Gil Eanes, onde havia um polidesportivo – que ainda existe – e miúdos que por ali jogavam e treinavam. “Eu e duas colegas de trabalho, com filhos também pequenos, tivemos a ideia de formar um clube. De início, pensámos no futebol, mas problemas vários, como a falta de campos e de espaço na cidade, levaram-nos a avançar para o futsal. Em 1995 fundámos o Gil Eanes Juventude Portimonense Clube, que hoje se dedica exclusivamente ao futsal, depois de passagens esporádicas pelo futebol e badminton”, conta Rui Oliveira ao Portimão Jornal, na exígua sala que serve de sede.

As colegas do presidente são Maria de Lurdes Sousa e Maria Fernanda Reis. Trabalhavam os três na Portugal Telecom (hoje Altice) e moravam na zona do Largo Gil Eanes, acompanhando de perto a atividade desportiva dos filhos. “Víamos os miúdos a correr e a jogar, por sua conta e risco, pelo que resolvemos dar-lhes uma orientação diferente”. Assim nasceu o GEJUPCE, por força, carolice e dedicação destes protagonistas, que, na altura, não deviam pensar que o crescimento fosse tão expressivo.

Pavilhões deixam a desejar 
“O GEJUPCE vai fazer 27 anos e rapidamente ganhou destaque. Na primeira participação, em benjamins, fomos logo campeões do Algarve e vice-campeões nacionais. As pessoas começaram a gostar do clube, os miúdos foram ficando cada vez mais entusiasmados, e, tipo bola de neve, crescemos e preenchemos todos os escalões”, recorda Rui Oliveira, falando desses tempos.

“Treinavam uns no ringue e outros à volta das palmeiras que existem nas imediações. Sem condições, como se vê, mas foi assim”. Os jogos, por sua vez, realizavam-se no Municipal. 

O clube foi progredindo, sobretudo em termos de equipas e atletas, mas sempre em condições precárias.

“Prometeram-nos instalações na zona do Largo Gil Eanes e depois em outros locais, mas ainda hoje não se vislumbram alternativas”, lamenta o presidente. Os treinos e os jogos decorrem no Pavilhão da Teixeira Gomes e nos Montes de Alvor. No recinto da escola, “o piso, iluminação, bancadas, balneários… é tudo uma tristeza”. Nos jogos à noite falta iluminação exterior e as “condições não são as mínimas, quanto mais as normais”.  

Rui Oliveira assegura que o esforço e a luta são contínuos, e, em relação ao Pavilhão dos Montes de Alvor, onde os seniores masculinos evoluem, “o piso é bom, mas faltam balneários e a confusão instala-se se houver dois jogos seguidos”.

Numa ocasião, evoca, as raparigas que iam jogar para o campeonato feminino “tiveram de se equipar nas casas de banho, o que é uma vergonha”. Além disso, prossegue, “as balizas para os jogos somos nós que as transportamos e colocamos, porque o pavilhão também recebe o hóquei em patins”. Mas quem corre por gosto vai resistindo. “O clube vive com o que tem e sem desistir, prometendo fazer sempre o melhor possível”.

Oito equipas e 170 atletas
O GEJUPCE já conquistou 66 títulos, três deles nacionais (iniciados em 1996/97 e infantis em 1999/2000 e 2000/01). “Desde sempre, tem sido a formação o foco maior do nosso trabalho, e, às vezes, até abdicámos dos seniores”, destaca o presidente, naturalmente orgulhoso com o percurso. “Somos o clube do Algarve mais titulado a nível nacional no futsal. Além dos três títulos nacionais, já conquistámos todos os algarvios”, diz ainda.

O clube movimenta cerca de 170 atletas, distribuídos por oito equipas: benjamins, infantis, iniciados, juvenis, juniores, seniores masculinos A e B e femininos. A equipa sénior A disputa a I Divisão Distrital e a B, que está na II, é uma aposta que serve “para aproveitar os miúdos que sobem dos juniores e assim mantêm a atividade, mesmo com as dificuldades que isso implica, mas o certo é que estamos satisfeitos”.

Nos femininos, o projeto é mais recente e vai no segundo ano, embora não seja novidade absoluta no clube. “Tivemos futsal feminino há alguns anos, depois houve um hiato e reativámos agora, também com limitações. Não podemos concorrer com todos os adversários e os resultados refletem falta de condições e de meios, mas os objetivos também não se prendiam só com os resultados”, argumenta Rui Oliveira, dando conta da ideia de uma reformulação que está em vista, incluindo a vertente financeira, “para a equipa ter mais possibilidades de lutar de igual para igual”. O grupo, formado por 16 jogadoras, participa no Distrital do Algarve, que tem uma única divisão.

“Tudo a multiplicar por três”
A estrutura comporta oito técnicos diplomados, mais uns tantos que estão a tirar o curso e colaboram, e umas dez pessoas que acompanham os jogos, entre diretores, delegados e outros funcionários.

“São mais de vinte elementos, não é fácil gerir. E depois temos material disponível nos Montes, na Teixeira Gomes e na Escola Júdice Fialho, onde também vamos treinar com os pequeninos. Ou seja, temos um saco de bolas em cada lado, mais outro tipo de recursos, o que complica a logística. É tudo a multiplicar por três”, explica.

Prosseguindo a narração, o nosso interlocutor volta a falar da degradação do Pavilhão da Escola Teixeira Gomes, que “não tem marcadores nem redes atrás das balizas”, acrescentando outro pormenor. “Como não há redes, rebentamos lá centenas de bolas por época. Cada uma custa 50 euros, veja-se a despesa”.

Em relação à captação e ao facto de serem vários os clubes na cidade que se dedicam, igualmente, ao futsal, o GEJUPCE continua a deixar a sua marca. “Há coletividades que têm pavilhões em condições e instalações próprias, o que facilita. Nós corremos atrás, divulgando os treinos e a modalidade, numa abordagem de miúdo a miúdo. Durante a pandemia, tivemos três equipas em atividade, o que é significativo”, diz Rui Oliveira, satisfeito com a preferência que muita gente dá ao ‘seu’ emblema.


Projeto quase pronto
“Pretendemos um espaço e acho que já o merecemos e justificamos. São quase 27 anos a trabalhar diariamente em prol do desporto no município e não queremos nada de mão beijada, apenas que valorizem o nosso trabalho”, sublinha Rui Oliveira, enumerando as muitas tentativas.

“Os pedidos são antigos. Primeiro, apontou-se para a requalificação do espaço no jardim Gil Eanes, depois uma vereadora prometeu instalações junto do Instituto de Emprego e Formação Profissional, que dariam para fazer sede e pavilhão. A ideia era excelente, mas fomos lá ver e não havia área útil”.

O polidesportivo da Quinta do Amparo também já esteve em ‘cima da mesa’, naquilo que seria uma cedência da Câmara. “Durante mais de 20 anos fizemos aí os torneios de Verão, juntando cerca de 30 equipas e mil e tal atletas. Está praticamente desativado desde que saímos. Podíamos fazer obras, ao abrigo do apoio de requalificação das instalações desportivas do Instituto de Desporto e da FPF, mas não consideraram a nossa proposta”, lamenta o presidente.

Agora, o que fazer? “Vamos apresentar brevemente uma nova proposta ao município no sentido de levarmos por diante este sonho das instalações. Um arquiteto e um engenheiro, que jogaram cá, têm o projeto quase pronto e o local está identificado”, revela Rui Oliveira, ciente de que seria uma mais-valia até para a cidade e uma forma de o GEJUPCE ambicionar ter mais equipas nos Nacionais.

“Queremos avançar, inclusive a nível de resultados. Enquanto o Municipal nos esteve cedido, as condições satisfaziam, mas depois tivemos de sair. E isso faz toda a diferença. Aqui na sede, repare, não podemos juntar mais de três pessoas”, conclui, com a esperança de, finalmente, vir a dispor de um espaço próprio.

“O bichinho ainda não me deixou”

Ainda miúdo, Rui Oliveira jogou futebol no Portimonense, Lagoa e Montes de Alvor e mais tarde representou a sua empresa em provas nacionais. Trabalhou depois nos juniores do Portimonense, mas achou que a este nível “o mundo do futebol é complicado” e optou, como já se sabe, por formar o GEJUPCE com as duas colegas. A ligação ao futsal sempre foi forte.

“Ainda joguei três anos nos veteranos e fomos campeões. Sou um apaixonado pelo futsal, e, embora reconheça que se calhar já devia estar reformado, o bichinho ainda não me deixou”, confessa. Presidente desde a primeira hora, só esteve dois anos ausente, período em foi dirigente da Associação de Futebol do Algarve. Aos 66 anos, Rui Oliveira deseja acima de tudo que o clube continue a progredir e consiga alcançar patamares mais altos. “Somos lutadores por natureza. Para quem tem modalidades coletivas é difícil sobreviver, mas cá estamos…”.

Pandemia ‘travou’ fontes de receita

“Sócios temos poucos, mas a autarquia dá um apoio anual, através do contrato-programa, contribuindo no transporte para os jogos, mas, em 100 deslocações, mais de metade são às nossas custas”, esclarece Rui Oliveira, exemplificando com a recente deslocação da equipa feminina a Castro Marim. “Temos patrocinadores e os pais dos miúdos são inexcedíveis”, adianta, lamentando que as habituais iniciativas tenham sido canceladas por causa da pandemia, nomeadamente uma atividade de dia inteiro, no 25 de Abril, os torneios de Verão e o restaurante em pleno Festival da Sardinha.

“Com mais uma ou outra festa no Gil Eanes, as receitas eram significativas, mas, sem o Festival, ficamos mais estrangulados financeiramente”. O apoio de algumas empresas não esmorece, se bem que o pagamento de inscrições, da arbitragem, policiamento, material e a alimentação, quando os jogos são fora, condicionam o orçamento. “Vamos à Taça Nacional de juvenis e as deslocações são consideráveis, ou seja, adivinham-se problemas, mas os miúdos merecem essa experiência com outras equipas. Com os seniores é o mesmo problema, mais o treinar longe, porque alguns não têm transporte para o Alvor e o combustível está caro. Tudo isto é um bolo grande e gasta-se muito”, desabafa o presidente, ansiando por “instalações que pudéssemos gerir e outras fontes de receita”. O apoio dos pais e dos patrocinadores lá vão ‘salvando’ as finanças do GEJUPCE…  

OS TÍTULOS

⇨ 3
no Campeonato Nacional

⇨ 40
no Campeonato Distrital

⇨ 10
na Taça do Algarve

⇨ 13
na Supertaça do Algarve

⇨ 66
no Total

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