“Grande conquista” vai permitir dar mais visibilidade a Lagoa
Hélio Nascimento, in Lagoa Informa nº 157
A equipa de seniores femininas da Associação Cultural e Desportiva de Ferragudo subiu à I Divisão do basquetebol português, uma proeza que deixou o clube e o concelho de Lagoa orgulhosos e felizes, até porque se trata de algo inédito na história do emblema que vive paredes-meias com o mar. A fase final da Zona Sul da II Divisão realizou-se no Montijo – depois do conjunto às ordens de José Calabote ter ficado em primeiro lugar na fase de grupos – e a subida de escalão foi, desde logo, garantida com a vitória sobre o GDEMAM de Mem Martins. No dia seguinte, já com o objetivo carimbado e num jogo de grande emoção e altíssima qualidade, a ACD defrontou o GDESSA Barreiro, tendo a sorte, mais uma vez, sorrido à equipa barreirense, invertendo-se deste modo a classificação da fase de grupos, onde o conjunto de Ferragudo se tinha superiorizado ao seu adversário.
Manuel Noites, diretor e coordenador da modalidade, para além de treinar as sub-12 e auxiliar Calabote com as seniores, considera que se trata da “cereja em cima do bolo”. “Não podia estar mais satisfeito, ainda por cima porque mais de metade da equipa é oriunda da formação”, diz o homem que se tem ocupado destes escalões etários nos últimos anos. “Este trajeto da equipa sénior foi o culminar dessa aposta, motivo de enorme contentamento de todos nós, meu, do treinador principal, do presidente e de todo o clube. É uma grande conquista, que foi muito festejada”, assinala.
De resto, Manuel Noites não esconde que a subida era “o grande objetivo”, rumo a um ambiente competitivo diferente, que vai permitir um crescimento ainda maior. “Crescemos e queremos estar entre as melhores. Foi um ano em que apostámos todas as fichas, na sequência da chegada e integração das nossas jovens nas seniores, a par de mais algumas jogadoras que convidámos para este projeto”. Assinale-se, desde já, que a I Divisão é o segundo escalão mais alto do basquetebol português, que, à sua frente, só tem a denominada Liga Skoiy.
A “evolução gigantesca” da equipa
“É inédito. Pelas minhas memórias nenhuma equipa da ACD Ferragudo tinha estado numa primeira divisão de um escalão sénior”, prossegue Manuel Noites, enquanto José Calabote recorda o “ano atípico” vivido no clube, primeiro porque “mudámos muita coisa, a nível global”, e depois face à pandemia, que motivou paragens e interrupções. O treinador vitorioso destaca a forte aposta na subida de divisão, também para “dar visibilidade e estimular as mais jovens”, e, sobre o alcançar do objetivo, lembra que a equipa esteve “cinco meses sem competir, de dezembro a maio, três desses meses só com contactos via zoom e mais tarde com trabalho de rua”.
“A minha maior satisfação foi ver a evolução da equipa desde o passado mês de setembro até agora. Foi um evoluir gigantesco e isso é o melhor dos prazeres. É algo fundamental para o clube e para Lagoa, sendo certo que o desporto ajuda imenso a dar visibilidade a qualquer região”, realça José Calabote, lamentando ainda que no jogo da final, com o GDESSA, algumas lesões tenham debilitado o seu conjunto, ainda por cima com dois jogos em dias consecutivos. Mas a subida já era de Ferragudo!
“Agora, é continuar a subir”, atira Manuel Noites, sem receio de assumir o desafio. “Será difícil, claro, mas queremos estimular os jovens do concelho e todos sabemos que a Câmara Municipal de Lagoa tem sido peça fundamental neste trajeto”, sem esquecer o esforço e dedicação do presidente do ACD, Nuno Pedro, que, por sinal, ocupou antes o cargo de diretor do basquetebol.
Outra subida no pensamento
José Calabote está há um ano no clube e assume, “claramente”, a mesma ideia do coordenador. “Quando me convidaram para este projeto, o propósito foi sempre o de subir à Liga Skoiy o mais rápido possível. Sabendo das dificuldades que nos esperam, não podemos esquecer que há muitas equipas que estão na I Divisão e têm um nível idêntico ou mesmo superior a algumas do escalão principal. Ou seja, há imensa qualidade na I Divisão e queremos aproveitar isso para competir com as melhores”.
Segundo o treinador, a próxima época já está em preparação. “O grupo de atletas, de um modo geral, vai ser o mesmo. Teremos uma ou outra jogadora nova, para fortalecer o conjunto, mas a base mantém-se, fruto de uma forte aposta na formação”, após um ano em que foram precisamente os escalões etários mais baixos a sentir na pele, de forma drástica, os efeitos da covid-19, porque praticamente não tiveram atividade.
Também Manuel Noites reforça esta ideia, acrescentando que o problema, naturalmente, não se resumiu à ACD Ferragudo. “A nível nacional passou-se o mesmo. Mas estamos fortes, firmes e a crescer, catapultando atletas e capitalizando todo este interesse na modalidade para junto dos mais pequenos, na tal procura de proporcionar maior visibilidade”. Apesar da difícil caminhada “decorrente das múltiplas contrariedades provocadas pela pandemia, a resiliência e dedicação deste grupo, a aposta no trabalho intenso e dedicado de todas as nossas atletas e equipa técnica, redundam na conquista deste feito inédito na história do basquetebol do clube”.
Base do grupo vai continuar
Com as intérpretes desta proeza agora de férias, Manuel Noites não se cansa de repetir que a espinha dorsal da equipa transitou das camadas jovens. “A maioria das atletas pertence aos nossos quadros e por isso o grupo é jovem. De fora, creio, só vieram sete jogadoras. Cerca de 95 por cento vai permanecer, para dar continuidade ao projeto, que já é de médio prazo. Não vamos fazer grandes mudanças, até porque estamos contentes com todas, e, naturalmente, com a equipa técnica”.
O diretor sublinha que as atletas que vierem será com o intuito de “acrescentar nível desportivo, sempre com o foco, também, na educação e no comportamento cívico, a par de um toque de mais experiência”. O percurso positivo e as boas relações com outros clubes, “do Alentejo, do Barreiro e de Lisboa”, sem esquecer o intercâmbio com coletividades espanholas e romenas, auguram um bom e promissor futuro, com Manuel Noites a deixar a promessa de que a ACD Ferragudo seguirá este trilho, sempre com ambição.
Por último, um agradecimento especial, “ao município de Lagoa, na pessoa do seu presidente, Luís Encarnação, que garantiu todo o apoio necessário, incentivou à resiliência, espírito de sacrifício e união, sendo peça importantíssima no resultado final”. O coordenador do basquetebol no clube destaca o facto desta ligação com o líder da Câmara ter começado ainda no tempo em que Luís Encarnação era vereador do desporto. “Também mostramos empenho e trabalho, temos sido campeões regionais várias vezes, com presenças muito boas nos Nacionais e vários atletas nas seleções. Temos as costas bem guardadas, mas também fazemos por isso”.
A terminar, o clube deixa mais uma nota, dirigida “aos pais e familiares das atletas, que, mesmo impedidos de assistir aos jogos por força das contingências atuais, apoiaram à distância e foram de uma entrega inestimável”. Em suma, estamos perante o corolário de um projeto “que nos motiva a fazer cada vez mais e melhor, na certeza de que o mesmo eleva o nível do basquetebol no Algarve e catapulta de forma decisiva o nome de Ferragudo e do concelho de Lagoa por todo o país”.
Os parabéns de Luís Encarnação
A Câmara Municipal de Lagoa não ficou indiferente à subida de uma das suas mais representativas equipas e endereçou-lhe os parabéns, destacando que o êxito foi “realizado em condições ímpares, decorrente das múltiplas contrariedades provocadas pela pandemia, onde a resiliência e dedicação deste grupo, a aposta no trabalho intenso e dedicado de todas as atletas e equipa técnica, redundam na conquista deste feito inédito na história do basquetebol da ACD Ferragudo e do concelho”. O presidente do município, Luís Encarnação, não poupou nos elogios: “É de enaltecer o feito destas atletas. A elas, equipa técnica e dirigentes endereço as mais sinceras felicitações e votos de que continuem na mesma senda de sucessos, para que continuem a representar tão bem o concelho como o têm feito até agora”.
Maria Pedro: “Foi uma época incrível!”
“Estou grata pela oportunidade que me deram. Foi uma época incrível! Tive o meu papel na equipa, ajudei a alcançar o grande objetivo e a subida não só é importante para as atletas, porque nos vai permitir ter mais competitividade, como também é para o clube, que ganha maior visibilidade”, sustenta Maria Pedro, de 17 anos, uma das obreiras da proeza do ACD, que representa há cerca de seis anos. “Porquê o basquetebol? Queira fazer desporto e quando experimentei vi que tinha encontrado a minha modalidade”. Maria Pedro afirma que a próxima meta “é chegar a um nível mais alto”, piscando o olho à Liga Skoiy. “Vai ser complicado, mas vamos dar o nosso melhor. Grande parte do nosso grupo tem a vantagem de jogar junto desde os sub-14. Fomos crescendo, ganhámos vários títulos regionais e o espírito sai sempre reforçado”, garante. Por fim, quando lhe é colocada uma ligeira ‘provocação’, não hesita e até acha graça. “Ser filha do presidente obriga-me a trabalhar mais”.