Ideias do Levante assinala 25 anos com muita cultura
Roberto Estorninho, presidente da Direção, é um dos rostos da Ideias do Levante e explica como a cultura tem um papel fundamental na sociedade, quais os projetos criados e as dificuldades sentidas.
O que mudou na cultura em Lagoa nestes 25 anos?
Resumir 25 anos em poucas palavras poderá passar por um cultivar apoiado num maior investimento na variedade, quantidade e qualidade, aos níveis da planificação, condições, promoção e produção, projeção, equipamento, recursos humanos e público. Surgiram, ao longo destes anos, projetos que foram concedendo uma identidade cultural a Lagoa. Têm surgido mais oportunidades e, com elas, mais agentes culturais têm desenvolvido atividade no concelho. A implementação dos anos temáticos pelo Município de Lagoa, a nosso ver, tem feito surgir mais ideias, projetos, participação, integração e inclusão.
E qual tem sido o papel da Ideias do Levante nessa mudança?
Por ser uma associação cultural, uma entidade independente e um meio para a manifestação de cidadania ativa, é capaz de criar projetos, individualmente ou em conjunto, que colmatem necessidades culturais e artísticas. Além de produtores e promotores, assumimos o papel de formadores de público e indivíduos. Temos chegado a pessoas de diversas nacionalidades e a Ideias do Levante, como coletividade que também emancipa o papel do cidadão nas atividades culturais, contribui para a dinamização da sociedade.
A associação celebra 25 anos. Qual o balanço que faz?
É um balanço de expressa gratidão por cada momento criado e concretizado. A associação foi fundada a 27 de abril de 1995 e trouxemos gradualmente um ‘levante’ de ideias. A muita vontade de concretizar traduziu-se, ao longo dos anos, num constante desassossego. Com um currículo próspero e reconhecido no panorama local, regional, nacional e internacional, realizámos mais de duas mil iniciativas, onde constam centenas de espetáculos, formações, apontamentos. Fomos considerados uma ‘associação modelo’ por entidades que enalteceram e reconheceram o trabalho artístico, social e comunitário, aliado a uma gestão proactiva e multidisciplinar. Através da internet e redes sociais temos chegado a públicos distantes.
Quais são as principais dificuldades que a Ideias do Levante atravessa?
De modo geral, encaramos a maior parte dos entraves como oportunidades e desafios à criatividade e engenho. Apesar de dispormos de instalações cedidas pela Câmara Municipal de Lagoa, a falta de um espaço físico, com uma maior área, continua a gerar dificuldades para criar e gerir aulas, ensaios de grupo e conjunto, com um maior número de participantes. Com a pandemia, esta dificuldade acentuou-se, pois as salas que dispomos a tempo inteiro são pequenas e a única com uma área adequada é no Centro de Estudos e Formação de Lagoa, fruto de uma cedência anual e renovável. É repartida com várias instituições, o que nos limita, a nível de horários e de atividades. Somos, contudo, gratos pelo que nos é permitido utilizar e trabalhamos com o que temos.
Há projetos pensados para o futuro?
Além de consolidar os que estão em curso, pretendemos trazer um conjunto de iniciativas quer online, quer presencial. Para 2021, ponderamos a realização de alguns projetos em parceria com entidades locais ou de outros pontos do Algarve. Somos, de momento, a única associação portuguesa na rede cultural europeia ‘AMATEO’, onde, através da qual, temos vindo a trocar experiências.
Um dos que avançará é o Cineclube de Lagoa?
Será um retomar de uma atividade que dinamizávamos internamente. Estamos numa fase de experimentação e de conversação com outros cineclubes do Algarve, para aprender e, quem sabe, trabalhar em conjunto no futuro. Entretanto, já temos previsto um calendário para este ano e estamos a disponibilizar, na página do facebook do Cineclube de Lagoa, alguns títulos de cinema. Ponderamos organizar ações de formação, concursos, mostras de curtas, documentários, apresentações e projeções no exterior.
Também têm iniciativas para os mais novos?
Durante muitos anos, as atividades destinavam-se, quase exclusivamente, a adultos e jovens com mais de 16 anos. A convite da Câmara Municipal dinamizámos, por alguns anos, atividades extracurriculares nas escolas do concelho. A partir de 2011, passámos a dispor de um leque de ações para os mais novos, como são exemplo as aulas de instrumentos – piano, guitarra e sopros–, de teatro infantil e de artes plásticas – pintura e desenho. Também realizamos workshops de teatro, música, cinema e fotografia.
Como vê o papel da cultura num concelho como Lagoa?
É essencial e estratégico. A cultura não pode ser vista como uma despesa, mas como um investimento, porque é um pilar para o bem-estar de uma sociedade, uma fonte de conhecimento, de aprendizagem, de coesão social e desenvolvimento de um território. Usos, costumes, artes, crenças, história e quotidiano atual fazem também parte da cultura de um povo e devem ser preservados, estudados, promovidos e enaltecidos para que nunca se perca o reconhecimento desta consciência da singularidade do coletivo.
Situação financeira foi abalada
A nível financeiro, a pandemia provocou um abalo nas contas da associação, o que levou a Direção a redefinir a gestão de apoios, necessidades, motivações e prioridades. Foi, contudo, graças ao apoio das autarquias locais, sócios, colaboradores e outras entidades da sociedade civil que a associação conseguiu superar obstáculos. “Gostaria de saudar todos os que apoiam e depositam confiança nesta e noutras associações, assim como aqueles que são amadores ou profissionais da cultura”, conclui Roberto Estorninho. “É graças ao talento, profissionalismo e empenho de quem colabora connosco, que a associação se define e evolui, seja através do trabalho dos professores, formadores, coreógrafos, maestros, compositores, encenadores, escritores, músicos, bailarinos, atores, gestores, facilitadores, cozinheiros, técnicos de luz e som, administrativos, pessoal da manutenção e limpeza, seja através da colaboração de quem nos acompanha, apoia, promove e patrocina”, conclui.
Projetos e eventos mais relevantes da Ideias do Levante
A associação produz e promove eventos em áreas como a música, a dança, o teatro, o cinema e a fotografia. Tem núcleos relacionados com as artes plásticas, a literatura, o marketing local e regional e o bioLevante – yoga, pilates, terapias, alimentação vegan e vegetariana. Além da formação, recitais e peças de teatro, destaca-se pela promoção da Semana Coral de Lagoa, o Festival de Dança de Lagoa LEVANTARTE, A Magia das 1001 Noites, a Noite de Ópera, o Opera Rocks, o Concerto de Natal do Coral Ideias do Levante, os Concertos Dell’Acqua e os Class’Ic!. Em 2020, foram novidades o projeto (as)simetrias, bem como os concursos ‘Lagoa pelos nossos Olhos’ (fotografia) e ‘Poetas de Lagoa’ (literário).