João Ferreira (ADAP): “Precisamos imenso de famílias de acolhimento”

Era uma vez um menino que – como tantos outros – sonhava ajudar os bichinhos abandonados. Cresceu sem nunca esquecer esse nobre objetivo e hoje, aos 21 anos, é um dos principais rostos da ADAP–Associação de Defesa de Animais de Portimão.

Fernando M. Vieira

“Esta paixão surgiu aos 5 anos, quando queria pegar em todos os animais que via na rua e levá-los para casa. A primeira adoção ocorreu aos 7 anos, uma gatinha que criei a biberão. Este sentimento foi crescendo e só ao longo destes últimos quatro anos passaram cerca de 300 animais pela minha casa, até serem adotados”, recorda João Sul Ferreira, atual membro da direção da ADAP.

O facto de a sua habitação ser uma espécie de placa giratória para cães e gatos de todas as idades, tamanhos e personalidades, “implica uma grande cumplicidade dos pais, que aceitam a situação a partir do momento em que assuma as minhas responsabilidades”, resume com o sorriso franco que o caracteriza.

João Ferreira explica: “Comecei por ter um sofázinho e atualmente os meus pais ‘abdicaram’ de uma divisão. Não é grande coisa, mas vai dando, porque a boa vontade é fundamental para quem se dedica a isto. Neste momento, ‘apenas’ tenho uma cachorra a biberão e quatro gatos, indo agora mesmo buscar mais um gatinho e uma cadela. Tanto posso ter dois animais para adoção, como doze…”

ROTINA DIÁRIA

“Desde animais com dias de vida e criados a biberão, até aos que necessitam de fisioterapia e de outro tipo de vigilância, sem esquecer o trabalho de sociabilização, especialmente gatos retirados da rua e que nunca tiveram contacto com humanos, faço tudo isso com o maior dos gostos”, reconhece.

De trato afável, João Ferreira sintetiza as suas responsabilidades: “São tarefas que se repetem diariamente, até ao momento em que os animais estejam preparados para adoção responsável. Os mais pequenos devem ser capazes de ingerir alimentação sólida e de sociabilizar com pessoas. No caso dos adultos, têm de ser saudáveis ou com doenças controláveis (como a leishmaniose) e estar esterilizados, vacinados e com ‘microchip’.”

SEM AJUDAS OFICIAIS

O envolvimento com a ADAP surgiu em 2009 “porque quis fazer voluntariado a cuidar dos animais”, esclarece. “Pouco depois, disponibilizei-me como família de acolhimento e, ao longo deste tempo, fui-me dedicando à associação ao ponto de ser o vice-presidente”, diz.

No que toca às ajudas mais prementes, “passam pela alimentação e pelo financiamento para as despesas veterinárias, que rondam os 3 mil euros mensais, mas que podem facilmente atingir os 5 mil. Precisamos de famílias de acolhimento, que neste momento são apenas umas 15, já que a ADAP não tem espaço físico. Estamos a usar cerca de 300 quilos de ração por mês, os quais distribuímos pelas oito matilhas de cães e 15 colónias de gatos que apoiamos, em Portimão, no Parchal, em Estômbar e Lagoa, todas esterilizadas por nós. No total, alimentamos mais de cem animais.”

A ADAP não dispõe de ajudas oficiais, conseguindo algumas verbas através da venda de artigos em segunda mão na loja provisória que dispõe na Rua do Comércio, em Portimão. Depois, há os donativos particulares e as vendas em feiras que a própria associação promove.

Há semanas, a Câmara de Portimão estabeleceu uma parceria com a ADAP, destinando 2500 euros à esterilização de colónias de gatos, com a colaboração da Clínica Veterinária Largo Gil Eanes, da Império do Animal, da Solvet e do Hospital Veterinário de Portimão.

 REMAR CONTRA A MARÉ

“Estamos muito longe dos números ideais, falando na questão primordial da esterilização. Infelizmente, parece que remamos contra a maré, pois acabámos de receber 14 bebés a biberão, que tinham sido jogados para o lixo”, lamenta.

Para João Ferreira, “este problema passa muito pela sensibilização e a ADP tem apostado nas palestras em escolas de Portimão, Lagos e Monchique, porque de pequenino se torce o pepino.”

No meio disto tudo, o voluntário reconhece: Não tenho vida pessoal. São dias inteiros passados no veterinário, o mesmo sucedendo com as nossas ‘rotas do petisco’, sempre que vamos alimentar as colónias. Mas não me queixo desta vida, porque foi a opção que tomei. Faço o que gosto e, como tal, considero-me muito feliz!”

QUEM É JOÃO FERREIRA

João Sul Ferreira nasceu em Portimão em 11 de junho de 1995. Começou o curso de medicina veterinária, mas não conseguiu acabar a matemática, “porque a média é elevadíssima”. Fez o 12º ano em Gestão, estagiou num escritório de contabilidade e trabalha há três anos numa gelataria da Praia da Rocha, onde faz de 6 a 8 horas diárias entre abril e outubro, enquanto aos fins-de-semana é operador de caixa num supermercado da sua terra natal.

COMO APOIAR A ADAP

Criada em 2008, a ADAP está contactável para todo o tipo de ajudas, quer através de página no Facebook, quer pelo email animaisdeportimao@gmail.com ou pelos telemóveis 963 253 453 / 964 220 000 / 962 843 562. Os donativos podem ser feitos pelo seguinte número de IBAN: PT50 0033 0000 4536 2523 7490 5.

 

You may also like...

Deixe um comentário