João Vasconcelos (BE): “Mais de cem mortos por causa das portagens na Via do Infante”

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Em entrevista por escrito ao site da revista Algarve Vivo, João Vasconcelos, que encabeça a lista de candidatos a deputados do Bloco de Esquerda pelo Círculo Eleitoral de Faro nas eleições legislativas a realizar no dia 4 de outubro, diz o que lhe vai na alma, ou pelo menos parte disso. Considera que “as portagens não têm qualquer futuro no Algarve” e contribuíram para a “ruína” desta região ao nível de acidentes e falência de empresas.

José Manuel Oliveira

Ainda acredita na abolição das portagens na A22/Via do Infante? Porquê?

As portagens não têm qualquer futuro no Algarve e o que se impõe verdadeiramente é a sua abolição total, e não a diminuição do preço do seu tarifário como defendem PSD, CDS e PS. As portagens contribuíram para a ruína do Algarve, fazendo aumentar os desempregados em muitos milhares e falências de centenas de empresas. A EN 125 – ainda sem requalificação, tal como prometeu o governo PSD/CDS – transformou-se num autêntico caos infernal durante todo o ano, mas particularmente durante o Verão, e os acidentes de viação sucedem-se em catadupa, com uma média de 23 por dia no Algarve, a maioria na EN 125.

A média na região é de 30 vítimas mortais e 150 feridos graves e desde o início do ano já tombaram 30 pessoas – mais de cem mortos em três anos e meio de portagens. Estas constituem um crime social, mas também um crime económico, pois o Estado está a enriquecer a concessionária privada com mais de 40 milhões de euros por ano – uma PPP verdadeiramente vergonhosa e ruinosa. E os responsáveis são o PSD e o CDS que implantaram as portagens através do governo, mas também o PS que as criou ainda no anterior governo. Portanto, estes três partidos são os únicos responsáveis pelas desastrosas e criminosas portagens no Algarve, logo, não devem merecer o voto dos algarvios que tanto os desprezam.


Qual será a primeira medida que tomará a nível do Algarve se for eleito deputado? E a nível nacional? Porquê?

A nível do Algarve, a apresentação de uma proposta para a abolição imediata das portagens na Via do Infante e, a nível nacional, uma outra para acabar com as portagens em todas as ex-SCUT.

Quais são os principais problemas do Algarve e como será possível resolvê-los?

O Algarve debate-se com sérios e grandes problemas, agravados nestes últimos anos pela ação governativa do PSD/CDS, a mando da troika estrangeira e pelas políticas de austeridade emanadas por parte da União Europeia. O governo português apenas se tem comportado como um fiel capataz, executor das medidas austeritárias da troika e de Merkel, cujas repercussões negativas se fazem sentir com uma grande acuidade no Algarve (e por todo o país). Torna-se premente a reestruturação da dívida, reduzindo-a a metade, baixa de juros e prazos mais longos, o que permitirá libertar fundos para relançar o investimento e o emprego.

O desemprego é um dos principais problemas que enfrenta o Algarve, agravando-se na época baixa por ação sazonal da atividade do turismo. O modelo económico implementado no Algarve, por ação do PS e do PSD, foi errado, ao apostar quase exclusivamente no turismo de sol e praia, à custa de outros setores económicos.~

O desenvolvimento económico na região deverá operar-se de forma sustentável, através da diversificação das suas atividades ligadas ao aproveitamento dos recursos naturais da região e nas indústrias a jusante, como pesca, aquacultura, viveirismo, agricultura, pecuária e floresta. Há que apostar também no turismo alternativo, cultural, da natureza, rural, desportivo, cinegético, etc. e fixar novas indústrias ligadas ao conhecimento científico e às tecnologias, onde a Universidade do Algarve terá um importante papel a desempenhar, como um polo no âmbito do conhecimento, cultural, tecnológico e ligada às empresas e ao emprego.

Torna-se necessário criar um programa de reabilitação urbana, criar um outro de apoios fiscais e subsídios à criação de emprego e autoemprego e promover o emprego social, acabar com a vergonha dos estágios não remunerados e dos chamados contratos de emprego e inserção, em que o trabalhador leva para casa ao fim do mês a miserável quantia de 83 euros, e obrigar à vinculação imediata dos trabalhadores precários que satisfaçam as necesidades permanentes de emprego no Estado. É preciso criar um matadouro público no Algarve, uma Administração dos Portos do Algarve e implementar a Região Administrativa do Algarve.


Estaria disponível para integrar um futuro governo? Em caso afirmativo, com que partido (em coligação) e com que pasta?

O Bloco de Esquerda estará disponível para apoiar ou fazer parte de qualquer governo, desde que combata com determinação as políticas de austeridade permanente, devolvendo tudo o que foi roubado aos trabalhadores e reformados, avance com a reestruturação da dívida e promova um choque fiscal, deixando de penalizar quem trabalha e imponha uma taxa sobre as grandes fortunas.

O PS, pelo que se tem visto, não constitui qualquer alternativa ao governo de direita, pois além de ter assinado com a troika, tal como o PSD e o CDS, assinou o Tratado Orçamental que continuará a impor austeridade perpétua, o que levará a uma degradação maior dos serviços públicos e mais cortes nos salários e pensões. Com um governo destes – uma alternância ao governo da direita – o Bloco de Esquerda não poderá pactuar.


O que pensa de cada um dos restantes candidatos a deputados que encabeçam as listas dos partidos e coligações políticas com assento parlamentar pelo Círculo Eleitoral de Faro – aspetos positivos e aspetos negativos? – José Apolinário (PS), José Carlos Barros (coligação Portugal À Frente PSD/CDS-PP) e Paulo Sá (CDU).

Apenas refiro que José Apolinário, pelo PS, e José Carlos Barros, pelo PSD/CDS, representam mais do mesmo. Serão a evolução na continuidade e não farão parte de qualquer alternativa – veja-se que defendem os dois as portagens na Via do Infante. PS, PSD e CDS ao longo dos últimos 40 anos sempre fizeram parte dos problemas e não de uma solução a favor do povo, dos trabalhadores, dos cidadãos deste país. Paulo Sá faz parte de uma das principais forças progressistas do país, com a qual o Bloco tem comungado muitas lutas e assim se espera que continue no futuro.

 

O que fará se não for eleito? Será uma derrota pessoal depois de o Bloco de Esquerda ter tido na Assembleia da República um deputado pelo Círculo Eleitoral de Faro nos últimos quatro anos?

Se não for eleito, continuarei a lutar dentro do Bloco em prol dos mais desfavorecidos e necessitados, ao lado do povo, daqueles que clamam por justiça social, democracia e bem-estar. Continuarei como vereador do Bloco na Câmara de Portimão a defender o programa pelo qual fui eleito. Mas estou confiante que o Bloco irá continuar a ter um bom resultado no dia 4 de outubro, uma garantia muito forte de que as lutas do Algarve e as reivindicações das suas populações continuarão a ser colocadas no Parlamento ainda com mais força, convicção e determinação.


Perfil

Professor de História, gosta de bacalhau, é adepto do Sporting, considera-se “determinado” e “teimoso”, aprecia a “honestidade e a solidariedade” nas pessoas e detesta a “mentira e a vigarice”  

Nome: João Manuel Duarte Vasconcelos

Data do nascimento: 8 de março de 1956 (59 anos)

Naturalidade: Portimão

Estado civil: Casado. Tem dois filhos e uma filha, com 31, 29 e 27 anos

Militante do Bloco de Esquerda desde a sua fundação em 1999. Antes, foi militante da UDP (União Democrática Popular) desde 1975.

Licenciado em História e com Mestrado em História Contemporânea pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

Profissão: Professor de História desde 1984

Gastronomia/Prato preferido: Bacalhau

Clube de que é adepto: Sporting, “mas sem fanatismo”.

Religião: Ateísmo

Qual o filme que mais gostou? E o livro?: “A nível de sétima arte, “Spartacus”, porque descreve a luta dos escravos pela liberdade e contra a dominação romana. O livro foi “Os Dez Dias que Abalaram o Mundo”, porque descreve de forma magistral a grande revolução bolchevique de novembro de 1917, em que os operários, os camponeses e outros trabalhadores explorados pelo Czarismo fazem uma revolução em prol de um mundo novo, onde não se verifique a exploração de uns sobre os outros. O que veio a seguir foi outra história”.

Virtude: “Determinado e acreditar que outro mundo é possível; Defeito: “Teimoso”.

Onde costuma passar férias: “Não há recursos para passar férias fora, logo são passadas no Algarve, a partir de casa”.

O que mais aprecia nas pessoas e o que mais detesta: “O que mais aprecio nas pessoas é a honestidade e a solidariedade e o que mais detesto é a mentira e a vigarice”.

 

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