Lagoa abre Casa da Cidadania em 2021

Desde que foi lançada a ideia e colocada em papel já recebeu várias denominações. Foi museu e foi também núcleo museológico. Agora, já com a decisão anunciada, ficará a chamar-se Casa da Cidadania e será inaugurada daqui por um ano, em janeiro de 2021, garante Luís Encarnação, presidente da Câmara Municipal de Lagoa, à margem da apresentação do projeto no âmbito das comemorações do Dia do Município, a 16 de janeiro.

“Está dentro do cronograma estipulado e será instalada nos antigos Paços do Concelho”, reforça. Os serviços que ainda funcionam neste espaço terão, assim, uma nova localização. Segundo o presidente da autarquia o setor do Turismo será colocado no Convento de S. José, enquanto a Ação Social e o Centro Local de Apoio à Integração de Migrantes (CLAIM) serão instalados num imóvel “a adquirir ou a arrendar no centro da cidade”.

Voltando ao projeto da Câmara Municipal, esta é apenas uma forma de dar nome a um espaço. Os antigos Paços do Concelho serão a ‘Casa’ que acolherá a preservação das memórias das decisões tomadas ao longo dos mais de dois séculos e meio de história do município e, na verdade, será um verdadeiro museu.

A principal ideia é dar-lhe vida com a participação dos cidadãos, aproximando os eleitos dos eleitores, mostrando que houve grandes figuras da sociedade, como o ‘Remexido’ ou o general Rocha Vieira, que ajudaram a tornar Lagoa o que é hoje.

“Consideramos importante que aquele espaço volte a receber o ato mais nobre da decisão pública, aproximando os cidadãos aos eleitos. Por isso, um dos aspetos que está ‘em cima da mesa’ é que a sala de sessões volte a funcionar. O objetivo é ter, não um museu da história local, mas da administração local, onde estejam presentes as decisões que foram sendo tomadas para que Lagoa tenha esta identidade”, explica Paulo Lima, antropólogo e coordenador científico da Casa da Cidadania, o museu digital da cidadania e dos movimentos sociais do concelho.

A sala de sessões, além das reuniões, poderá receber palestras, conferências, projeção de filmes.

ESPAÇOS DEFINIDOS
Com uma meta temporal de um ano para ser instalada, já estão definidos mais alguns dos espaços que vão existir. É o caso de uma ‘sala do tesouro’ que guardará peças preciosas da autarquia, como “o primeiro estandarte, as faixas de vereação do século XIX, o busto da República, pinturas dos séculos XIX e XX que mostram os eleitos locais”, enumera Paulo Lima, além de alguma documentação que, em breve, começará a ser trabalhada.

Outro dos polos mostrará a intervenção que se tornou invisível, mas que é essencial à qualidade de vida dos lagoenses. “Refiro-me ao que está enterrado, às infraestruturas, aos pontões, às estradas. Queremos mostrar que há uma parte que é esquecida no dia a seguir a ser construída”, defende. A perspetiva é também dar a conhecer os desafios pelos quais Lagoa passou quando obteve autonomia administrativa. Antigos presidentes de Câmara e elementos da vereação que se destacaram nestas decisões estarão, por isso, em evidência.

Num outro plano, a partir de dois ou três objetos, será mostrada a evolução do concelho, a partir da década de 60 e 70 do século XX. É neste período que Lagoa sofre uma “profunda transformação. Um dos objetos é um mapa, uma planta da década de 60”, que mostra como o turismo começa a ganhar terreno à agricultura, criando uma nova economia no município, esclarece Paulo Lima. A FATACIL também caberá neste espaço. “Há um quadro encomendado pelo antigo presidente Abel Santos que mostra as identidades imaginadas. A olaria de Porches, o vinho”, revela ainda.

MOSTRAS TEMPORÁRIAS
“Queremos ter áreas de exposições temporárias. Uma delas será sobre os novos desafios com os quais as Câmaras são confrontadas hoje. A cada ciclo, a cada ano, o mundo muda e é necessário confrontar o concelho com a Contemporaneidade. A sustentabilidade, a economia, as alterações climáticas, estará a par de um outro núcleo acerca da história contemporânea e da história do mundo”, acrescenta Paulo Lima. Aliás, é neste âmbito que lança o desafio ao general Rocha Vieira, presente na apresentação, para que possa partilhar conhecimentos e experiências nesta nova Casa da Cidadania.

IDENTIDADE É LEGADO
Durante a apresentação da Casa da Cidadania, Luís Encarnação, presidente da Câmara Municipal de Lagoa, recuou dois séculos e meio para explicar que a identidade e os valores são o legado a deixar às gerações futuras. No dia em que se assinalavam os 247 anos da criação do concelho, o autarca afirmou que foram “essas decisões tomadas ao longo destes anos que fizeram de Lagoa e dos lagoenses o que hoje são. Tivemos mulheres e homens brilhantes e temos de guardar espaço para aqueles que mais contribuíram, na opinião de quem nos ajudou a criar este projeto que evidencia esta identidade de ‘ser lagoense’”, acrescentou.

O facto é houve, no passado, uma visão de residentes que levou ao movimento tendente à criação do concelho. “Seguramente que o fizeram porque entenderam que este território com 89 quilómetros quadrados, 17 quilómetros de costa a sul, a margem esquerda do Rio Arade tinha algo que nos identificava e distinguia do termo de Silves ao qual pertenciam. E não se identificavam com os vizinhos a poente da Vila Nova de Portimão”, sublinha Luís Encarnação. Mereciam, então, um espaço próprio que era necessário separar, proteger e reformular.

“A verdade é que, ao longo destes 247 anos, todos os lagoenses que nos antecederam foram capazes de tornar essa identidade distinta”, constata, e esse será o âmbito do novo museu.

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