Lagoa e os lagoenses: “Geral, plateia ou balcão?”

Hélia Santos


Diz-se que o cinema sonoro se estreou em Lagoa lá para os lados do matadouro antigo, há tantos anos que a poucos resiste em memória. Mais tarde, reergueu-se ao fundo do Jardim 5 de Outubro, onde se lia na fachada do edifício, em letras grandes e vermelhas, ‘Cine Lagoa’.

O preço do bilhete variava consoante a comodidade do lugar, e mal se chegava à bilheteira o Sr. Moreira perguntava: “Geral, plateia ou balcão?”.
 
O geral eram simples bancos de madeira corridos e as cadeiras para quem escolhia a plateia. O balcão era exclusivo de uma elite que se sentava no piso superior em camarotes de cadeiras de braços almofadadas, num conforto que poucos podiam pagar. 

O Sr. João Almeida controlava as entradas, mas ocasionalmente, a meio dos intervalos, os mais atrevidos esgueiravam-se por entre o público, já com um pacote de amendoins torrados nas mãos ou uma fatia de bolo que se vendia para acompanhar a película.

Quando as luzes se apagavam, o filme era projetado numa grande tela sobre o palco, levando a audiência numa viagem sem turbulências, exceto quando a fita se partia.

Dado o toque de regresso para a sala, os rapazes da cidade ou do campo – tal como lhes chamavam – divertiam-se a ver os golpes de karaté, os tiros de cowboys e os índios. Quando o filme terminava saiam autênticos Bruce Lee, John Wayne ou Bonanza.

As cortinas encheram-se de pó, as luzes não voltaram a acender e trancaram-se as duas portas grandes. O cinema antigo deu lugar a um edifício habitacional com o mesmo nome, relembrado apenas por uma geração que se apaixonou pela 7ª arte ao som de bandas sonoras que fizeram história.

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