Lagos tem a melhor escola de dança da Europa

Texto: José Coelho | Fotos: D.R.


A Escola de Dança de Lagos – que, em 2007, passou a Associação de Dança de Lagos (ADL) – completou no dia 25 de maio o seu 20º aniversário, data assinalada com uma exposição e um espetáculo no Armazém Regimental da cidade.

Tudo começou como um sonho da professora e bailarina Ljiljana Urosevic da Silva e hoje é considerada, pelo terceiro ano consecutivo, a melhor escola da Europa, arrebatando prémios nas mais importantes competições onde participa. O objetivo futuro passa pelo ensino articulado, fazendo da dança uma disciplina escolar.

“Atualmente, estamos a chegar aos 120 alunos, com idades a partir dos três anos, sem contar com os adultos, que, com um bocadinho de coragem, vão participando. Já tivemos aqui uma senhora a fazer ballet com mais de 80 anos”, revela Filipa Fernandes, presidente da direção da associação.

Na escola, estão representadas “25 nacionalidades, de todos os continentes”, o que, diz a dirigente da ADL, “é uma coisa incrível”, porque as crianças de todos esses países trazem “uma grande riqueza” e geram “um diálogo muito aberto”. “Todos se ajudam, é uma família”, acrescenta. Também os atuais cinco professores “são de diferentes nacionalidades”.

Mas há 20 anos, tudo começou com “uma pequena turma, com três ou quatro alunas, já com uns 14 ou 15 anos”, explica Filipa Fernandes. E acrescenta: “Era uma novidade, e os primeiros aventureiros não eram portugueses”.

A ADL, que é uma associação sem fins lucrativos, funciona na antiga Escola Gil Eanes, no centro da cidade, num edifício que, no passado, já tinha sido um convento. Trata-se de instalações cedidas pela Câmara de Lagos.

Aliás, refere Filipa Fernandes, “sem o município, não conseguiríamos sobreviver”. Além das instalações, a autarquia tem ajudado nas deslocações.
Um dos custos importantes que a associação suporta tem a ver com os “fatos” usados nos espetáculos, que “são caríssimos” e a maior parte, “ao contrário, do que acontece noutras escolas de dança, as crianças não pagam”.

Medalha de ouro com dança étnica
Filipa Fernandes aponta como um momento marcante do crescimento e da notoriedade da atual ADL a conquista, na Alemanha, de uma “medalha de ouro, com uma dança étnica, no ‘Dance World Cup’, 2017 – um prémio que depois levou a mais convites para participação noutras competições.

O percurso feito até agora tem sido de sucesso e com grande número de conquistas. “Não faço ideia quantos troféus a escola já ganhou. Quase todas a coreografias conquistam prémios”, refere a presidente da ADL. A escola tem vindo a “ganhar não só com a dança étnica”, como, “mais recentemente, com a dança clássica”, o que “é um motivo de orgulho”.

Filipa Fernandes recorda, como curiosidade e com uma ponta de orgulho, uma viagem de avião em que um piloto da ‘British Airways’ “disse aos passageiros que tinham a melhor a escola de dança a bordo”.

Para além de ter conseguido, pelo terceiro ano consecutivo, esse título de ‘Melhor Escola da Europa’ no ‘Art Without Borders Europa 2024’, que decorreu no mês de fevereiro, em Madrid, a ADL esteve em destaque noutras grandes competições, como o ‘All Dance’, em que ficou apurada para os mundiais, que terão lugar nos Estados Unidos da América.

“Serão 20 jovens” bailarinos desta escola de Lagos, com idades entre os 11 e 18 anos, que irão “competir com os melhores do mundo”. Como se trata de uma deslocação que implica custos significativos, estão programadas várias iniciativas para conseguir angariar verbas.

Mas além da presença em concursos internacionais, uma das grandes apostas da ADL tem a ver com a participação em eventos locais, existindo o propósito de “estar cada vez mais presente na comunidade, nas escolas, nas festas e noutras atividades”.

Ensino articulado
O principal objetivo no futuro passa por conseguir ter “o ensino articulado”, o que implica a realização de algumas obras nas atuais instalações, que são propriedade da autarquia.

Filipa Fernandes diz compreender que “as coisas são difíceis para a Câmara Municipal, em termos de renovação do espaço”, porque existem também outras necessidades de investimento no concelho, mas tem esperança que essa intervenção possa ser concretizada nos próximos “dois anos”.

“Queremos manter as crianças aqui e, com o ensino articulado, depois já não teriam de pagar as mensalidades”, refere a presidente da direção da ADL, adiantando que, desta forma, a dança passaria a “fazer parte de um currículo escolar”, o que daria “mais estabilidade à escola e às crianças”.

Entretanto, de forma a fazer face à procura de alunos e ultrapassar alguns constrangimentos de espaço, existe o propósito de alargar o horário de funcionamento da escola, medida que será implementada “já a partir do próximo ano letivo”.

O próximo espetáculo da Associação de Dança de Lagos terá lugar, nos dias 21 e 22 de junho, no Centro Cultural de Lagos. ‘Metáforas da Dança’ integra algumas coreografias que já receberam prémios.


“A dança é sentimento”

“Para mim, a dança é um sentimento. Eu gosto de demonstrar o que sinto ao dançar. Dançar é para sentir” – é desta forma que Victoria Rocha explica a sua paixão por esta atividade. Esta aluna tem 14 anos e já frequenta a escola há uma década. A paixão pela dança teve origem num jogo chamado “Just Dance”. “O meu avô comprou uma Xbox e eu e a minha irmã sempre gostámos muito desse jogo”, refere Victoria, acrescentando que, em épocas festivas, ela e a irmã costumavam apresentar algumas danças à família mais próximo. “O meu avô sempre me viu a mim e à minha irmã a gostar de dança e, quando soube que havia a Associação de Dança de Lagos, trouxe-nos cá. Já estou aqui desde os meus quatro anos e gosto mesmo muito de dançar”, refere a aluna. Victoria treina quatro dias por semana e já conquistou vários prémios.
Victoria Rocha

“Não é apenas um desporto, é também uma arte”

Alexandra Belova tem hoje 16 anos e começou a frequentar as aulas da Associação de Dança de Lagos quando tinha apenas seis. “A dança não é apenas um desporto. É também uma arte. Através da dança, os bailarinos podem expressar-se e podem mostrar a beleza de cada movimento”, considera Alexandra. “Eu pratico danças étnicas e tenho muito orgulho em representar cada um dos países e a beleza de cada região”, acrescenta a jovem aluna. Mas como é que surgiu o gosto pela dança? “Eu era apaixonada por um desenho animado, a Barbie, e calhou ver a série a Barbie Bailarina e fiquei fascinada por esse filme. Os meus pais viram o meu amor à dança e resolveram colocar-me nesta escola”, relata Alexandra Belova.
Alexandra Belova

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