Lisboa e turistas rendidos à gastronomia algarvia

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Natural de Vila Real de Santo António, a chef Raquel Vaz, 30 anos, recebeu a Algarve Vivo e abriu-nos as portas da Mô Petiscaria. Conheça a história da algarvia que está a conquistar quem passa pela capital e prova pratos, bebidas e doces típicas da região.

Texto: Irina Fernandes
Fotos: Diana Quintela

“Mô Tá o Mar Fete Num Cão. Já Não Há Choc nem BarbiGão”. Os dizeres e o sotaque gravados num prato feito de barro e pintado a azul-mar denunciam que aqui, nesta casa de bem comer, “respira-se” Algarve. Ou, diga-se antes, degusta-se o que de melhor tem a região. Do xerém ao queijo de figo sem esquecer, claro está, os inconfundíveis D. Rodrigos ou o licor de figo.

Foi há seis meses que Raquel Vaz, 30 anos, natural de Vila Real de Santo António e a viver há 11 anos em Lisboa, decidiu pôr mãos na massa e concretizar um sonho antigo: dedicar-se à arte de cozinhar.

“A ideia de abrir o meu próprio espaço nasceu assim que terminei o curso de arquitetura, há pouco mais de dois anos. Aos poucos e com algumas pesquisas apercebi-me de que não seria de todo uma má ideia regressar às origens. Com a vasta oferta de restaurantes e petiscarias em Lisboa, percebi que não existia um espaço dedicado ao Algarve. Logo, entrei em ação”, conta a chef à Algarve Vivo. Porque “a gastronomia algarvia é “mais do que peixe grelhado”, a antiga estudante de arquitetura abriu a Mô Petiscaria onde quem por ali passa tem a oportunidade de provar (ou conhecer pela primeira vez) pratos de culinária, doces e bebidas típicas do Algarve.

“O prato que já se tornou especialidade é o risotto de lingueirão. Gosto de dizer que a cozinha do Mô é moderno-montanheira. Temos o 100% tradicional como o xerém com conquilhas, mas o risotto de lingueirão é uma homenagem ao arroz de lingueirão tradicional, com um ‘twist’ mais atual mas igualmente saboroso”, explica. Com uma carta “pensada para o Verão, que será lançada já em abril, e uma outra para o Inverno”, a chef algarvia revela que há já dois pratos que fazem as delícias dos clientes. “O montado de muxama, o xerém e o risotto são os pratos mais vendidos”.

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Algarvios matam saudades
À mesa da Mô Petiscaria sentam-se lisboetas mas também muitos turistas. “Os turistas são os clientes que não têm medo de arriscar e, muitas vezes, terminam a dizer: ’Quero muito visitar o Algarve”, revela, orgulhosa, Raquel Vaz. Para quem vive na capital mas é algarvio de gema, degustar as iguarias confecionadas por Raquel Vaz significa viver um momento de especial felicidade “Todos os dias temos clientes algarvios que vivem em Lisboa. Ficam muito orgulhosos e ainda conseguem ‘matar’ saudades de pratos que comiam na infância!”, conta.

Raquel Vaz explica a razão do nome que atribui ao restaurante, localizado na Mouraria, na Rua das Madres. “Tentei procurar uma expressão algarvia que fosse muito utilizada e conhecida de todos os algarvios. Em algumas zonas dizem ‘mó’ noutras ‘mô’, ‘mâ’ noutras tantas, mas acabou por ficar ‘mô’. “mô, ma que jête?!” “Que tás fazendo mô?” Pode significar meu, pah, ou moço”, refere, nestas breves explicações de algarvio.

Produtos vêm do Algarve
Nesta aventura de divulgar o património gastronómico do Algarve tendo o seu restaurante localizado a cerca de 300 quilómetros da região, a chef conta com uma ajuda preciosa. “A gestão é feita através da boa vontade da minha mãe que vive no Algarve e envia-me muitos dos produtos por transportadora. Não é fácil, mas são estas coisas que nos tornam especiais”, conta. “Envia-me alguns doces como o queijo de figo, doce fino, D. Rodrigos. E ainda a Muxama e o atum para a estopeta”.

Embora se tenha mudado para Lisboa para completar licenciatura em arquitetura, Raquel Vaz garante que mantém vivas “recordações muito boas e bem presentes” do seu Algarve. “Recordo a infância passada a brincar na praia, onde a minha mãe teve um restaurante. As minhas investidas à cozinha do restaurante (entre os 5 e os 10 anos) mas sem sucesso. Na altura, dizia que queria trabalhar num talho ou ser peixeira. Lembro também a particularidade de ter uma área extensa de mata a acompanhar a praia. Lembro-me das travessias de barco até Espanha, quando ainda não existia ponte. Agora, quando lá vou, sempre que posso, faço a travessia de barco. Especialmente no Verão”, recorda.

‘Mô’ só na capital
À Algarve Vivo, a jovem chef admite que, para já, a Mô Petiscaria vai manter-se de portas abertas apenas na capital e não vai expandir-se para o Algarve. Promete que irá continuar a divulgar a região onde nasceu. “De momento, quero dedicar-me ao MÔ em Lisboa e incentivar lisboetas e turistas a visitar o Algarve, não só pelas praias mas também pela diversidade gastronómica”, salienta.

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