Loulé foi capital da música do mundo
Três dias de animação, música de qualidade e boas propostas culturais marcaram a 13ª edição do Festival MED, que entre 30 de junho e 2 de julho se pautou por elevados níveis de adesão do público, reafirmando, o destaque que o evento já tem no panorama da chamada música do mundo na Europa.
No centro histórico de Loulé foi celebrada a diversidade cultural e o encontro de povos, sobretudo através da música, com bandas que têm uma carreira mais ou menos longa, dos cinco continentes, muitos deles premiados internacionalmente, com seis estreias absolutas em Portugal, os quais protagonizaram concertos únicos.
Ao nível das atuações, o destaque vai para os Dubioza Kolektiv, banda que surge dos escombros da guerra da ex-Jugoslávia, mas que conquistou o mundo com a sua música contagiante, onde os sempre festivos sons balcânicos sobressaem de uma forma singular. A festa fez-se no derradeiro dia do festival, com um permanente o apelo do vocalista para a participação do público. A saltar no meio da multidão, o líder da banda protagonizou um momento verdadeiro único na já longa história do MED e que foi considerado por muitos dos espetadores como o melhor concerto de sempre no festival.
A anteceder este espetáculo, o regresso de Tinariwen a Loulé, em que o rock ‘tuareg’ voltou a fazer as delícias dos amantes da ‘world music’.
Ainda nessa noite, onde as estreitas ruas de Loulé foram pequenas para a multidão, estiveram também em evidência outros artistas, entre os quais a portuguesa Capicua, quechamou miúdos e graúdos a um concerto com uma toada ‘rap’ em português. Também a moçambicana Selma Uamusse – sem qualquer álbum editado – deslumbrou o público.
Já os sons quentes de África surgiram pela voz do camaronês Blick Bassy. Num concerto mais intimista, o jovem – que através da música quer promover e preservar a cultura do seu país, nomeadamente a língua basaa – encheu a plateia. Seguiu-se o ritmo e calor da América Latina, com a ‘chicha’ dos mexicanos Sonido Gallo Negro, num espetáculo instrumental com fusões entre este estilo tradicional e a inovação de alguns elementos que dão originalidade a este projeto.
De entre os últimos concertos da noite, os Alo Wala deram continuidade a essa senda de inovação, com a voz de Shivani Ahlowalia, nascida em Chicago, mas de ascendência indiana, acompanhada por um músico dinamarquês e outro holandês, os quais apresentaram uma fusão entre o ‘bollyhood’ as Caraíbas, o ‘hip-hop’ ou a eletrónica.
Com a responsabilidade de encerrar o 13º Festival MED, Rocky Marsiano levou a fusão de clássicos da música africana com a eletrónica da atualidade no “Meu Kamba Live”, numa toada dançante à qual nenhum corpo ficou indiferente.
Muitas propostas
No dia inaugural do Festival MED, quinta-feira passada, António Zambujo marcou o ritmo, ajudado pela alegria da sonoridade de Shantel & The Bucovina Club Orkesta.
Aos quase 80 anos, a jovialidade artística de Dona Onete encantou todos, com a forte herança cultural riquíssima do norte do Brasil e o seu ‘carimbó chamegado’.
Do continente africano, passaram também por Loulé duas estreias absolutas em Portugal: o grandr embaixador da música da Guiné-Conacri, Moh! Kouyaté, que ofereceu uma boa dose de ‘blues’ temperados com sonoridades de África, e da República Democrática do Congo, Mbongwana Star, que apresentaram o seu premiado álbum de estreia.
Por seu turno, Isaura deu o mote para o início do festival e provou porque é considerada por muitos como uma das promessas da música nacional. Da Rússia para Loulé, os Otava Yo trouxeram um espetáculo pleno de energia, onde não faltaram as danças dos cossacos entre o público, enquanto o dj Chico Correa trouxe um cheirinho da tradição musical da Amazónia e dos seus instrumentos, remisturada com os inovadores sons da eletrónica.
Quanto ao segundo dia, sexta-feira, os milhares de visitantes espalharam-se pelas ruas, ruelas, becos e largos do casco medieval da cidade para um convívio feito de música, gastronomia, artesanato, exposições ou animação de rua.
Nesta noite a música do mundo esteve representada pelos vários artistas que subiram aos oito palcos instalados no recinto, reunindo a fadista Aldina Duarte, as sonoridades do Sahara com a voz de Hindi Zahra ou o brasileiro Emicida que elevou bem alto a bandeira do ‘rap’.
A cantora MC chilena trouxe consigo o espírito combativo, interventivo e emocional do ‘hip-hop’ latino-americano, enquanto o ‘reggae’ em francês de Danakil não teve qualquer pudor em apresentar “Non Je Ne Regrette Rien” de Edith Piaf.
Em mais uma noite de casa cheia, atuaram ainda dois projetos nacionais distintos – Marafona, com uma releitura da música tradicional portuguesa, assumindo declaradamente a sua portugalidade, e a união perfeita entre a eletrónica e os instrumentos tradicionais portugueses de Fandango.
A título de balanço, o presidente da Câmara Municipal de Loulé, Vítor Aleixo, reafirmou “o sucesso de mais uma edição deste evento que atraiu milhares de visitantes à zona histórica da Cidade”. “Relativamente ao ano passado, em que assistimos a uma edição fabulosa que elevou bastante a fasquia, tínhamos as expetativas altas e conseguimos alcançar os objetivos. Tivemos uma casa cheia de público, concertos que ficarão para sempre na mente de quem aqui esteve, proporcionando experiências únicas”, considerou o autarca.
Relativamente à economia local, para o responsável municipal “este evento arrastou, mais uma vez, milhares de visitantes que deram uma dinâmica muito importante à restauração, ao comércio e às unidades hoteleiras, não só da cidade como também do concelho, que por estes dias tiveram lotação esgotada.“