Maior crescimento de sempre nas atividades aquáticas do LAC

Texto: Hélio Nascimento | Fotos: Kátia Viola


O Lagoa Académico Clube (LAC) decidiu fazer uma mudança do ponto de vista técnico em matéria de atividades aquáticas, procurando uma solução que suporte outro tipo de ambição e que diversifique a oferta das suas modalidades. “Em conjunto com a Câmara Municipal de Lagoa, resolvemos avançar com a aposta, criando uma equipa técnica com mais elementos”, conta Nuno Russo, membro da Comissão Administrativa do clube, ao Lagoa Informa, no início de uma conversa em que nos foi dada a conhecer uma nova realidade, sobretudo a nível da natação, que agora, além da dita natação pura, comporta a natação adaptada e o Masters, uma categoria para atletas acima dos 25 anos que tenham abandonado a alta competição, mas que possam, na circunstância, continuar a prática da modalidade. 

“Fomos buscar o Guilherme Sá, um técnico de créditos firmados, para nosso coordenador. Estava no Centro de Alto Rendimento de Rio Maior e aceitou o desafio”, prossegue Nuno Russo. “A ideia é dar uma dimensão diferente ao clube e aos seus atletas, com todas as condições, mais completa, melhor e também mais diversificada, com as melhores pessoas para desenvolver o projeto”. Além da natação pura – com todos os escalões, dos cadetes aos seniores – e da adaptada e do Masters, o LAC manteve a aposta no polo aquático. “O Guilherme é o coordenador e com ele estão Paulo Sousa, Paulo Vaz e Rafael Costa, todos novos no clube, para lá do Ricardo Gonçalves, que permanece à frente do polo aquático, na sequência da sua enorme entrega à modalidade e ao nosso emblema. Precisava de mais apoio e é isso que agora vai ter”, garante o dirigente, acompanhado por Ana Filomena, também membro da Comissão Administrativa. 

Os lagoenses têm correspondido às novas ofertas e ao apelo da coletividade, e a verdade é que, mesmo num ano de imensas vicissitudes, o LAC regista já o “maior crescimento de sempre”, o que enche de orgulho os seus responsáveis. “O número de atletas cresce quase diariamente e não é só a população de Lagoa que escolhe a piscina e o nosso clube”, enfatiza Nuno Russo, palavras corroboradas por Guilherme Sá, que, entretanto, se junta à conversa. “Temos 23 meninos novos e isso é muito bom. É ao nível das grandes cidades, não de uma como Lagoa, que tem menor número de habitantes. Um registo desses, que aponte para um fluxo contínuo anual de 20 miúdos, é excelente. Ou seja, temos muita matéria-prima” reconhece o técnico. 

Atletas de renome na natação adaptada 
A aposta na natação adaptada é uma das mais interessantes ‘bandeiras’ do momento presente, na vida do LAC. “O repto foi lançado pelo presidente da Câmara, Luís Encarnação, com duas grandes componentes: permitir que atletas de renome internacional representem o nosso clube e sejam um orgulho para o concelho, e, ao mesmo tempo, que os atletas da escola de natação que tenham dificuldades de algum tipo possam competir na natação adaptada”, explica Nuno Russo. O LAC tem agora três campeões nesta vertente, Filipe Santos, porventura o mais reconhecido e recordista mundial, e ainda Alexandre Martins e Pedro Oliveira. “Foi uma situação que abraçámos com toda a força. Demos uma resposta aos que já cá estavam, abrindo-lhes outras portas, e passámos a dispor de uma equipa fortíssima, superiormente dirigida pelo Paulo Sousa”. 

Este registo de mais praticantes, a que se associa um inerente salto qualitativo, é ainda mais significativo se nos lembrarmos que estamos em pleno período pandémico, com todos os problemas e condicionalismos que são do conhecimento geral. “Encerrámos as nossas instalações em março e desde logo a nossa maior preocupação foi a segurança dos atletas. Definimos um plano e seguimos à risca os planos de contingência do Município e da Direção Geral da Saúde”. No entanto, logo que foi possível, “começámos a treinar e as piscinas abriram para a competição, tudo isto assente na relação profícua e sólida que temos com a Câmara”, salienta Nuno Russo, confirmando que o reatar das atividades tem “as óbvias condicionantes” desta fase e que os “atletas do polo aquático são os mais limitados”, uma vez que a modalidade, tal como o râguebi, é considerada de alto risco. 

Neste contexto, assinale-se, os grupos de nadadores foram divididos, de modo a que não haja uma “grande enchente na piscina”, em horários desfasados e também idealizados para agir de acordo com as normas em vigor. “Todos treinam. Temos limitações, é claro, mas todos treinam”, explica Guilherme Sá, exemplificando com o preenchimento do horário entre as 7 e as 21 horas, depois de devidamente estudado o equilíbrio entre a disponibilidade das seis pistas da piscina, os horários escolares e a afluência de outros praticantes. 


Com trabalho, as coisas vão acontecer 
O novo coordenador técnico de todas estas disciplinas, Guilherme Sá, tem 28 anos e passou quase metade deles em Rio Maior. “Aceitei a proposta do LAC pelo desafio profissional que encerra e pelas condições de trabalho que estão ao nosso dispor. Estive dez anos em Rio Maior, onde estudei e andei no terreno, primeiro ensinando miúdos a nadar e depois passando para as classes de alto rendimento. É toda esta experiência que transportei para Lagoa, para rentabilizá-la e ajudar o clube”, assinala o jovem professor. 

“Cheguei pós-pandemia e procedi a uma primeira avaliação. Agora, é desenvolver o trabalho, pouco a pouco, sem grandes expetativas nesta fase inicial e ainda precoce para ter outro tipo de ideias. Quero ensinar e dar a conhecer o que aprendi, dando já uma certeza: para os que gostarem de trabalhar, as coisas vão acontecer”, promete Guilherme Sá, satisfeito com a “matéria-prima” que encontrou e até admirado com o número crescente de novos praticantes. 

“A curto/médio prazo quero alargar o horizonte dos atletas, efetuando estágios lá fora, para os motivar e não os cingir só a Lagoa e ao Algarve. Vai passar por aí, por apresentar-lhes o mundo da natação, e, depois disso, como já referi, têm de trabalhar para chegar o mais longe possível”, acentua o técnico, garantindo que “os resultados, por ora, não são prioridade nem constituem objetivo”. No projeto de Guilherme Sá, tudo tem o seu tempo. “Os resultados serão uma consequência do processo que vai ser desenvolvido”, atira. 
   
Há mais meninas a nadar 
Ana Filomena, colega de Nuno Russo na Comissão Administrativa, acrescenta mais um dado curioso a esta ‘cimeira’ de atividades aquáticas, em plena sala contígua à zona da piscina onde alguns alunos continuam as suas braçadas. “Há mais meninas do que meninos a nadar”, enfatiza, acrescentando que “nem é preciso convidar amigas para o clube, porque a mensagem vai passando, e, por arrasto, umas trazem as outras”.  

As boas condições de treino constituem outro fator que merece unanimidade, e Guilherme Sá até aproveita para gracejar. “Condições? A piscina tem água, está bom!”. Depois, mais a sério, destaca a coordenação exemplar em termos de espaço e de ocupação, em conjunto com o Município e, num caso particular, com o polo aquático. “Se continuarmos com este crescimento, temos de pensar em outro plano”, arrisca dizer o técnico, mas a resposta de Nuno Russo estava pronta e foi clara: “Outra piscina!”.   

Já nos comentários finais, o dirigente lembra que a escola de natação está sob a alçada do Município e pode ser frequentada, inclusive, por bebés. Se os jovens revelarem aptidão para a competição, transitam depois para o clube. E, por falar em provas, Guilherme Sá aborda ainda o plano competitivo, retomado recentemente, em que a duração das provas foi reduzida para menos de metade. “Normalmente, eram umas quatro horas, mas agora, caso do Torneio de Abertura realizado em Lagos, demorou apenas uma hora e meia, o que, do ponto de vista de cativar os pais é, extremamente positivo. Para ver o filho nadar alguns minutos estavam quatro horas na piscina, o que era saturante”. 

Paulo Sousa: o prazer de mudar a vida dos outros 

Paulo Sousa é outra das novidades nas modalidades aquáticas do LAC, sendo o treinador responsável pela natação adaptada, onde pontifica Filipe Santos, recordista mundial dos 50 metros mariposa e detentor, também, da melhor marca de sempre nos 25 metros mariposa. A dupla funciona desde 2005 e agora defende as cores do emblema lagoense.

“Decidi que este é um bom local para continuar o projeto, sobretudo ao nível das condições de que dispomos”, opina o técnico, que já trabalhou no Ferreiras e estava, ultimamente, no O2 Portimão. “O Lagoa já abarcava esta vertente, que quero implementar no concelho, através de alguma massificação, captando o maior número de atletas com deficiência”, explica Paulo Sousa, de 48 anos, licenciado em desporto e um nome grado na natação, em especial na adaptada. 

O LAC tem agora três atletas de alta competição, o já citado Filipe Santos e ainda Pedro Oliveira e Alexandre Martins. “Acredito que existam mais talentos para a equipa de competição. Tenho até outros miúdos sinalizados, que podem ser igualmente captados”, prossegue o técnico, que prefere focar-se no presente em vez de fazer juízos do passado. “Nós mudamos, como toda a gente. Sem comparar, descortinamos o que queremos e qual o clube que está disposto a crescer. Temos imenso por fazer, repare que temos somente 12 atletas a nível nacional e há muitos outros por descobrir e por a nadar”. Paulo Sousa destaca a aposta do clube e da Câmara e agora “é esperar que estes atletas sirvam de exemplo para outros”. De resto, frisa, “trabalhamos para o presente, o passado é a nossa experiência”. 

Massificar e criar escolas 
Filipe Santos, de 32 anos, é uma das maiores referências da natação adaptada. Portador de síndrome de Down, tem colecionado títulos, recordes e marcas que fazem dele um expoente máximo no desporto paralímpico. “O Filipe não nadava, não corria, hoje é um atleta de alta competição. É isto que me leva a trabalhar nesta área: o prazer, o amor e a gratidão de poder mudar a vida dos outros. Há muitos ‘Filipes’ por aí, por isso é necessário massificar e criar mais escolas para detetar e captar mais alunos”, garante Paulo Sousa, no final de uma sessão de treino e num local que lhe traz boas memórias. “Às vezes lembro-me que em 2014 estava aqui, nesta piscina, com o Filipe, na preparação para grandes eventos. Temos de estar num sítio que nos dê as melhores condições”, insiste o técnico. Os treinos são diários, das 9 horas ao meio-dia, sendo a primeira hora passada no ginásio, onde o trio de campeões ganha flexibilidade e sensibilidade de movimentos. 
Vem a propósito referir que os portadores de síndrome de Down apresentam, em conjunto com a limitação intelectual, uma série de limitações físico-motoras (mãos e pés pequenos, por exemplo) que criam uma situação de completa desigualdade perante adversários apenas com deficiência intelectual. A nível regional, nacional, europeu e mundial os nadadores com síndrome de Down têm competições próprias, mas o mesmo não sucede nos Jogos Paralímpicos.  

Paulo Sousa foi até um dos mentores da criação de um site que alertou o mundo da natação adaptada para esta injustiça. A ideia nasceu quando Filipe Santos, portador de síndrome de Down (trissomia 21), bateu o recorde mundial dos 50 metros mariposa, em 2015, mas não teve oportunidade de participar nos Jogos Paralímpicos. Em Portugal, há muito que a Federação Portuguesa de Natação reconhece uma classificação própria, designada por classe S21, mas, ao nível paralímpico, estes atletas integram a classe S14. “É simples de se ver e perceber, mas o assunto vai ser esquecido. Podes ser campeão mundial, mas não vais aos Jogos Paralímpicos”, salienta Paulo Sousa acerca desta injustiça.  

Mas a vida continua e “o Filipe, para o ano, quer manter os seus recordes e os seus títulos nacionais nas quatro provas, e pretende, é óbvio, representar Portugal no Europeu”, vinca o treinador, prometendo “trabalhar para isso e para o Mundial de 2022, possivelmente em Albufeira”. Os três nadadores do LAC irão participar, em 2021, no Nacional de Inverno e no Nacional de Verão, seguindo-se o já citado Europeu, onde Filipe Santos, segundo do ranking, vai certamente marcar presença.   

Duas equipas à espera de competição no polo aquático

Ricardo Gonçalves mantém-se como treinador do polo aquático, sendo o único que transita da anterior equipa técnica. Tem 29 anos e aos oito já nadava na piscina da Portinado, em Portimão. “Aprendi a nadar, fiz a etapa de formação na escola de natação, frequentei as aulas, e, depois quando tinha entre 11 e 12 anos, fui para o mini polo”, explica, à laia de introdução, o antigo bicampeão nacional de polo, que, pela Portinado, chegou a participar em competições europeias, para além de ter representado a Seleção Nacional.  

 
No LAC, é já a oitava época de Ricardo Gonçalves nestas funções, após ter concluído o curso de educação física e desporto. “Já conhecia o clube e os atletas, que até tinha defrontado, com os quais tenho boa relação, fruto da proximidade entre as duas cidades. A adaptação? Foi fácil, mas difícil foi mudar as mentalidades em relação ao tipo treino”, confessa o técnico, que estava habituado a um contexto de competição, mais elevado e mais a sério. “A modalidade existia aqui, claro, mas era mais tipo oferta do que competição. Era preciso mudar as mentalidades, sobretudo dos mais novos, o que fui conseguindo ao longo dos treinos. Passámos dos três treinos por semana para os seis, como fazia em Portimão”, algo que, em sua opinião, é mais consentâneo com a exigência competitiva.  
 
Uma lufada de ar fresco 
“Temos 24 atletas federados, mais alguns alunos da escola de natação na vertente de iniciação. E estão abertas as inscrições para todas as classes”, diz Ricardo, dando ainda conta de um conjunto de atletas, que são seniores e ex-jogadores do clube, que participam em torneios de caráter não oficial. “Vêm cá matar o bichinho”, completa. “A competir, temos dois escalões, mas agora está tudo parado, porque o polo foi considerado desporto de alto risco, assim como o râguebi. A Federação procura baixar para médio risco, como o basquetebol e o andebol, pelo que estamos ainda a aguardar retoma da atividade e à espera de respostas”, lamenta o treinador da modalidade.  

Os escalões que disputam competições oficiais são os sub-14 mistos e os sub-16 masculinos, numa realidade, a algarvia, em que o polo só existe em Lagoa e Portimão. “Importa que a modalidade se desenvolva, para darmos um salto e termos mais cursos e novos treinadores”, preconiza Ricardo, elogiando a aposta do Município lagoense nos últimos anos, depois de uma aposta mais virada para o andebol. “Foi difícil mudar e marcar uma presença ativa, inclusive junto dos encarregados de educação e dirigentes. O percurso demorou tempo, mas esta comissão administrativa do LAC representou uma lufada ar fresco e estou completamente satisfeito. Vê o clube como um todo e este ano há uma aposta grande nas modalidades aquáticas”.  

Apesar da paragem forçada da competição, devido à covid-19, o polo não baixa os braços. “Agora? Vamos aguardar pela retoma dos calendários e depois tentar participar nos Regionais de Lisboa, para dar ritmo competitivo aos atletas. O grupo sub-16 está há cinco anos comigo e é forte, cresceu e tem talento, e acredito que não ficamos atrás de outras equipas de outras associações que jogam com mais regularidade”. 

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