Misericórdia da Mexilhoeira Grande está a concretizar sonho antigo

Texto: José Garrancho


Foto: José Garrancho

O Portimão Jornal foi visitar a obra, implantada num lote de terreno com 1 860 metros quadrados, um edifício em ‘U’, com bons acessos e circuitos, áreas de serviço amplas e uma zona descoberta, onde serão plantadas árvores de fruto. O investimento está em fase avançada de execução. António José Borralho, o provedor da Misericórdia local e grande impulsionador do Centro de Apoio a Idosos, revelou que este é um sonho com três décadas e só agora tornado realidade, estando prevista a sua abertura na primavera do próximo ano.

Que valências estão previstas para este espaço?
Temos 30 quartos, 18 duplos, 6 triplos e 6 individuais, permitindo alojar 60 utentes. Estamos ainda em condições de ter 15 utentes no centro de dia e dar apoio domiciliário a 30.

Este é um sonho antigo. Já o tinha, quando ocupou o cargo de provedor pela primeira vez, há cerca de duas décadas?
Foi o objetivo de todas as mesas administrativas que por aqui passaram, desde que João Duarte Pereira, natural de Alvor, nos doou o terreno para este fim, em 9 de março de 1994. Mas os tempos eram outros, muito mais difíceis. Por uma razão ou outra, não conseguiram. Tive a sorte de o tornar realidade agora, embora a sorte dê muito trabalho. Terminei o primeiro mandato, de quatro anos, em dezembro e, nesse período, consegui começar a obra: licenciar, concorrer ao PRR e iniciar os trabalhos em agosto de 2023. Agradeço à Câmara Municipal de Portimão a doação de uma parcela de terreno contíguo, que melhorou o projeto. Iniciei o segundo mandato em janeiro e tenho por objetivo terminar a obra, colocar a estrutura em funcionamento e implantar uma gestão equilibrada, ao longo destes quatro anos.

É uma obra de quatro milhões de euros. Embora subsidiada, requer grande disponibilidade financeira da Misericórdia?
É verdade. Cabe-nos o pagamento de 1 629 100 euros mais o IVA sobre o valor total. O primeiro passo foi assegurar que haveria a totalidade do dinheiro, antes de concorrer ao PRR. Recorri à banca e, assim que uma entidade bancária nos deu um parecer em que garantia o financiamento da parte privada, tornou-se fácil. Apresentámos estudos económicos bem feitos, com algum rigor, e chegámos à conclusão de que não vai ser fácil, mas temos condições para fazer uma gestão equilibrada e pagar o empréstimo.

Quem serão os utentes? Locais ou também pessoas de outras localidades?
É para a freguesia, para os irmãos, para o concelho, porque todos merecem ter um local digno para passar os seus últimos dias. E, logicamente, também para o distrito, se formos procurados e existirem lugares disponíveis. É uma instituição dinâmica e não podemos fechar a porta e dizer que é só para isto ou para aquilo. Mas é lógico que a freguesia é rural, pobre, e temos de ter em atenção essas pessoas. Como vamos fazer apoio domiciliário, iremos logo percebendo as realidades.

Foto: Pedro Costa

Parece ser um edifício muito funcional. É fruto da sua longa experiência hoteleira?
Foi, certamente. Mas também tivemos a sorte de encontrar um projetista, o arquiteto Freire, que é uma pessoa muito conhecedora desta área e que foi o grande impulsionador. Acabámos por criar algo com capacidade para dar resposta, se necessário no futuro, a um número superior de utentes. Vamos ver como iremos evoluir.

O mais fácil será aumentar os apoios domiciliários? Só vão necessitar de viaturas e mão-de-obra…
É essa a ideia, porque pensamos que é uma área que está em desenvolvimento e acho que manter as pessoas nas suas casas, no seu habitat natural, com serviços, irá ser uma realidade, no futuro. Não sabemos como as coisas irão evoluir, mas estamos preparados, se for necessário.

Há regras específicas, que não são fáceis, para o funcionamento destas instituições?
É verdade. Para dar um serviço com condições, iremos necessitar de cerca de 50 pessoas, incluindo um médico, duas enfermeiras e um diretor técnico. O número de auxiliares varia em função da condição dos utentes. Quando chegam, têm alguma autonomia que, depois, vão perdendo, obrigando a aumentar o efetivo. Mas tenho fé no voluntariado, principalmente por parte dos familiares, com a implantação do ‘dia aberto’. Enfim, as pessoas estavam desmobilizadas, porque não tínhamos muito para oferecer. Nos últimos meses, começaram a acreditar e vamos andar para a frente, de mãos dadas. E sinto-me muito feliz por estar a transformar o velho sonho em realidade.

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