Museu de Portimão sopra dez velas em maio
Diretor científico aborda passado, presente e futuro de um dos mais dinâmicos equipamentos culturais do Algarve.
Texto: FERNANDO MANUEL VIEIRA / Fotos: EDUARDO JACINTO
No próximo dia 17 de maio passam exatamente dez anos sobre a abertura do Museu de Portimão, um equipamento cultural que desde a primeira hora deixou marca na região, devido ao dinamismo que o caracteriza.
José Gameiro, que atualmente exerce o cargo de diretor científico (não executivo), está na génese de um projeto que começou a desenhar-se há 35 anos. É, seguramente, a pessoa indicada para fazer um balanço sobre o papel desempenhado pela infraestrutura durante este período, em prol da afirmação da identidade local, e para lançar pistas sobre o que poderá ser o futuro.
“Com o surgimento do turismo, que trouxe profundas transformações na nossa densidade e organização urbana, algo de muito inquietante do ponto de vista da história coletiva se passou em Portimão, na segunda metade do século XX. Foi a época em que encerraram as últimas fábricas de conservas, com o risco iminente do desaparecimento de todo um património e documentação industrial, social e cultural. A isso juntava-se o impressionante espólio arqueológico subaquático do Rio Arade, em resultado das dragagens em curso, que enchiam as praias de milhares de peças, moedas e artefactos lançadas pelas tubagens da draga”, recorda José Gameiro.
Antes de qualquer ideia de museu, “a urgente necessidade de preservar de forma mais estruturada este imenso património, histórico industrial, marítimo e arqueológico, levou-me em 1983 a abordar o então presidente da Câmara, Martim Gracias, para que fossem tomadas medidas, tendo daí resultado a Comissão Instaladora do Museu de Portimão”, sintetiza o atual diretor científico.
LABORATÓRIO DE IDEIAS
Ao longo do tempo, conforme realça à Algarve Vivo, “foi reforçada uma ideia de museu enquanto dinâmico ponto de encontro com este território, sua identidade, cultura e evolução histórica, um observatório atento da sociedade e um laboratório de ideias e projetos em movimento”. Nas suas palavras, “foi uma luta incansável, desde a estaca zero, e que ainda hoje continua, pois os museus não acabam quando abrem – começam.”
Segundo José Gameiro, “é preciso manter este espírito, com muito trabalho e uma atividade permanente, procurando sempre novas vertentes e projetos”. Considera ainda ser “fundamental desenvolver exposições e outras iniciativas que alimentem a ideia de que esta é a nossa casa da história.”
“E tanto essa mensagem está a passar, que somos regularmente contactados para doações de peças, pois as pessoas começam a acreditar que – afinal – partes importantes do legado comum, se forem entregues ao Museu de Portimão, estarão salvaguardadas e serão valorizadas para as gerações vindouras”, reforça.
Há sete anos membro do júri do EMYA – European Museum Year Award, instituição que logo em 2010 contemplou Portimão com o Prémio ‘Museu Conselho da Europa’, no ano de 2015 José Gameiro foi nomeado presidente do organismo e estará presente na cidade polaca de Varsóvia, entre 10 e 12 de maio próximo, quando forem anunciadas as próximas distinções.
Reflexo desse reconhecimento aquém e além-fronteiras, o equipamento recebeu outras distinções, como o Prémio DASA ‘Mundo do Trabalho’, atribuído em 2011, ou troféus atribuídos pelo Turismo de Portugal e pela Associação Portuguesa de Museologia. “O principal argumento é que somos um bom exemplo para outras zonas onde o turismo de massas se faz sentir e não existe tanta preocupação e interesse pelos aspetos que as tornam singulares, até do ponto de vista turístico”, defende, antes de ressalvar: “Claro que o Museu de Portimão não foi construído apenas para ‘turista ver’, e sim para a comunidade que serve, mas ao mesmo tempo é um paradigma para outros destinos e isso enche-nos de orgulho.”
Em resultado dessa visibilidade, “tem sido altamente gratificante apresentar e divulgar este museu nas mais diversas cidades, de Moscovo a S. Paulo, passando por Barcelona, Madrid, Bilbau, Lubliana, Dubrovnik, Glasgow ou Baksi, entre outras, participando em encontros, conferências e seminários”, diz José Gameiro.
Como metodologia para o futuro, considera que, “para além da qualidade desta excelente equipa museológica, importa manter uma atitude pró-ativa e apostar na diversificação e ampliação de novos públicos.”
AMIGOS AGRUPADOS
Criado em 10 de dezembro 2014, o GAMP – Grupo de Amigos do Museu de Portimão conta com 300 membros efetivos, sendo presidido pelos seguintes associados: António Feu (assembleia geral), Daniel Cartucho (direção) e Joaquim Catarino (conselho fiscal). Os membros do grupo pagam uma quotização anual de 20 euros e promovem tertúlias, passeios culturais, visitas de estudo, apoiando e participando de forma articulada e interativa com as atividades do Museu.
PROGRAMAÇÃO DO ANIVERSÁRIO
O programa do 10º aniversário do Museu de Portimão decorrerá entre 17 e 26 de maio através de várias iniciativas, com destaque para a grande exposição ‘Gentes da Terra e do Mar’, a inaugurar no dia 19 e que ocupará duas salas até outubro próximo, e para a 18ª Corrida Fotográfica, a qual terá na mesma data, para lá da vertente diurna, uma componente noturna, até à meia-noite. Também a 19 de maio, a Noite dos Museus proporcionará aos participantes a visita aos bastidores deste equipamento cultural, à luz de lanternas. Naquele período será reeditado o livro ‘Cartas de Manuel Teixeira Gomes a João de Barros’ e realizada a mostra ‘Rio Arade: Maré-Cheia de Histórias’, que poderá ser vista na zona ribeirinha da cidade a partir de 17 maio. Entre as 10h00 e as 19h00 de 21 de abril realiza-se mais um ‘Dia na Pré-história’, reconstituição que costuma atrair a Alcalar mais de mil participantes.
NÚMEROS
550.000- Foram mais de 550.000 as pessoas que já passaram pelo Museu de Portimão.
50.000 – Desde março de 2012, decorre a gestão do polo museológico composto pelos monumentos megalíticos de Alcalar, que até ao momento tiveram cerca de 50.000 visitantes.
35 – A criação da Comissão Instaladora do Museu de Portimão teve lugar há 35 anos.
26 – Os diversos sectores deste equipamento cultural empregam 26 colaboradores.
10 – Assinala-se a 17 de maio próximo o décimo aniversário sobre a abertura oficial do Museu de Portimão.
8 – São oito os setores protocolados: agências de viagens, operadores turísticos, empresas, hotéis, transportes, turismo de cruzeiros, agências de rent-a-car e turismo social.