“Não falamos a mesma língua, mas sabemos o que é sofrer”
Texto: Hélio Nascimento
É fantástico o trabalho da ESOSA, a associação africana que continua a ajudar quem precisa, superando barreiras, investindo em novas campanhas e dando abrigo a quem não tem quatro paredes para pernoitar. Kevin Freeman, o cidadão nigeriano que fez de Portimão a sua casa, convidou o nosso jornal para “o dia de celebrar os novos associados”, mais de seis dezenas, perfazendo agora um total de duas centenas, em cerca de ano e meio de existência.
Na sede da ESOSA (palavra nigeriana sem tradução literal), a festa foi singela, mas de enorme significado, com a oferta de uma refeição, muito convívio e fotos para a posteridade. Kevin fez as honras da casa, acompanhado por Gilberto e Giovanni, dois jovens de raízes angolanas, ambos arquitetos, um exemplo de solidariedade e respeito pelo próximo, que não só ajudam na associação como trabalham na empresa de construção civil de Kevin, desenvolvendo todas as valências – e mais algumas – inerentes à licenciatura.
“Existe vontade de trabalhar e de cooperar. Na nossa associação não precisamos de recorrer a serviços de fora, uma vez que temos mecânicos, eletricistas, canalizadores, cozinheiros e arquitetos. A ESOSA não funciona com o Kevin sozinho”, salienta o homem de 47 anos que tem ligação à Ordem Missionárias da Caridade, fundada por Madre Teresa de Calcutá, e já esteve na Alemanha e em Espanha a espalhar os ideais de que tanto se orgulha.
“Não falamos a mesma língua, mas sabemos o que é sofrer, e, por isso, todo o apoio que damos é uma imensa alegria”, assinala Kevin, dando conta de mais um projeto, a estrear em breve no nº 6 da Rua de São José (perto da Rua Professor José Buísel, onde se situa a sede): um futuro depósito de bens, que de momento, está em fase de reabilitação e a ser alvo de melhorias.
“As pessoas que quiserem doar, seja o que for, é só dirigirem-se ao local. Em caso de extrema necessidade, o sítio pode até servir para pernoitar”, sublinha, lembrando-se de um marroquino que dormia na estação de comboio e foi acolhido pela associação. Além de africanos de várias nações, a ESOSA dá também guarida a alguns europeus e indianos.
“Quero ajudar e vou conseguindo, mas o auxílio de qualquer entidade será bem-vindo. Também me deram a mão, ensinaram-me a amar o próximo e é esta mensagem que quero passar”, garante Kevin, preparado para trocar experiências com outras associações similares. Para já, deseja “ver os miúdos daqui a jogar à bola” e, no final do ano, haverá um sorteio para contemplar um sócio com duas viagens ao seu país natal. Entretanto, e porque acaba de chegar um sem-abrigo, é tempo de pedir mais uma sopa à cozinha…