‘Nascida do barro!’ não deixa morrer a memória da fábrica
Arménio Aleluia Martins colocou por escrito alguns dos testemunhos recolhidos e recordou histórias de outros tempos, de uma altura em que a indústria cerâmica era uma das fontes para a economia local.
Texto: Ana Sofia Varela
O livro ‘Nascida do barro – Da indústria cerâmica: a Faceal de Paderne’ da autoria de Arménio Aleluia Martins conta a história da fábrica Faceal, uma empresa que produziu tijolos durante 50 anos, em Paderne, no concelho de Albufeira.
À Algarve Vivo o autor explicou que esta era a maior empregadora da freguesia, tendo no auge 176 trabalhadores, ainda que a média fosse uma centena de funcionários, devido aos avanços tecnológicos. “Na altura até seria uma das maiores empregadoras do concelho. Quando abriu, o turismo era ainda muito fraco. Aliás, um dos factos mais importantes é que aquela unidade fabril produziu tijolos para todos os hotéis que foram sendo construídos em diversos concelhos, como Portimão, Albufeira, Lagos, Vilamoura”, enumera Arménio Aleluia. É possível, portanto, associar a história desta fábrica de cerâmica à do turismo na região. O autor recorda-se, por exemplo, que nessa década foram construídas as primeiras quatro unidades hoteleiras da região, cinco estrelas, como o Penina, o Alvor Praia, o Balaia e o Dona Filipa, com a cerâmica proveniente de Paderne.
Para escrever esta obra que pretende recordar uma história de cinco décadas, o jornalista de Paderne ouviu funcionários e proprietários. “Os mecânicos, funcionários do escritório, os forneiros, camionistas, motoristas, ou seja, os que tiveram ação direta na vida laboral, bem como os patrões”, diz. No lançamento deste livro, estiveram também os antigos gerentes da Faceal, António Simões Vicente, Rui Amado de Oliveira e a viúva de José Cordeiro Bispo, Maria de Jesus Bispo.
A obra foi apresentada a 10 de maio perante duas centenas de pessoas, entre as quais representantes da Martrain, que instalará uma Academia Náutica no espaço onde se situa a antiga fábrica de cerâmica.
Aprender náutica no interior
É um projeto que, segundo José Carlos Rolo, está para breve até porque os representantes já asseguraram a comparticipação de fundos comunitários. Intervirá em quatro hectares de um total de 22 que a fábrica ocupava, terreno cedido pela Câmara Municipal de Albufeira de forma gratuita à Martrain, uma cooperativa sem fins lucrativos. O projeto prevê a formação em náutica a vários níveis. Terá ainda um parque de combate a incêndios, um simulador aquático de salvaguarda e sobrevivência da vida humana no mar, um pequeno edifício de apoio, com gabinete médico, enfermaria, câmara hiperbárica, lavandaria, áreas técnicas que permitam manusear os equipamentos, algumas áreas de armazenamento e balneários.
O simulador, na zona mais profunda, terá 12 metros de profundidade e um plano de água com 3200 metros quadrados, contendo ainda um gerador de ondas e diversos equipamentos que recriam situações de emergência usuais a bordo dos navios. Haverá, por exemplo, uma infraestrutura ‘free fall’ (queda livre) que permite imitar a libertação de baleeiras a bordo dos navios para a água. Conforme destacou Daniel Esaguy, presidente da Martrain, esta será uma das quatro academias existentes na Europa, dispondo de mais valências técnicas.