Opinião João Reis: Crises
João Reis | Professor
Para nos “salvarmos” da pandemia, houve que “esquecer” a economia. Não foi preciso ir à bruxa para se imaginar o tamanho da crise que nos viria cair em cima. No que toca ao nosso (?) Algarve, tão subordinado ao turismo, a realidade é cruel – cerca de 30 000 desempregados, hotéis sem hóspedes, restaurantes fechados, comércio apático. Entretanto, gente responsável, da Região e do País, apressa-se a procurar culpados (para além do vírus) – uns apontam o dedo ao governo do nosso mais antigo aliado, o Reino Unido, que não permite que os seus cidadãos venham cá de férias sem fazer uma quarentena no regresso. Esquecem-se que, também eles, precisam de poupar divisas. Outros acusam a Direcção-Geral de Saúde de ter falhado na prevenção e na orientação do combate à doença; outros, ainda, responsabilizam o Ministério dos Negócios Estrangeiros por não ter sido suficientemente diligente nas relações diplomáticas com o Governo de Sua Majestade , nem ter sido capaz de aliciar outros mercados.
UMA OVA!!! A “culpa” foi só, e sempre das “circunstâncias”!!! Agora… quem permitiu que muitas dessas circunstâncias ocorressem foram as autoridades (políticas e técnicas, algarvias e nacionais) que, desde os anos 60, deixaram que a atenção fosse posta, de forma quase exclusiva, no turismo, isto é, que a economia da região tivesse, naquela “ indústria”, a sua quase única valia – agricultura, fruticultura, pecuária, pesca, indústria conserveira, outras actividades relativas ao mar e, principalmente, a capacitação/formação das populações para operar naqueles vários sectores, não foram “tidos nem achados”. Parece que ninguém, responsável, previu (pensando) que um dia poderia faltar a habitual multidão de clientes do veraneio, por qualquer motivo inesperado, como é o actual.
Em 2017, nesta mesma coluna, “escrevinhei” o que, agora, releio – “no princípio do “boom” turístico na região, tinha imaginado um Algarve moderno, acolhedor, organizado e genuinamente algarvio, capaz de “pedir meças”, pela beleza, a uma Côte d’Azur, na França, ou a uma Riviera italiana, com as suas glamorosas praias de S. Tropez, Cannes, San Remo, Nice ou Génova. Teria, para tal, sido necessário um plano que predefinisse orientações coordenadoras do desenvolvimento das várias e possíveis áreas da actividade económica, a exemplo do que sabíamos ter acontecido naquelas outras paragens; para além do turismo, de cuidada qualidade e sem massificação, aquelas regiões contam com Centros de Investigação Científica e Tecnológica, Centros Universitários, Festivais de Belas Artes, Cinema e Música, agricultura avançada, pesca (industrial, desportiva e turística), tudo assente num grande respeito pela natureza e uma permanente disciplina do urbanismo”.
Mas não tivemos plano nem orientações; e, quando tal não há, instala-se a “balda”, de que se aproveitam os especuladores, os aventureiros, os sem-escrúpulos.
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Na última página do “meu” semanário do passado 18 de Julho surge este título “Algarve quer renovar economia”. O artigo fala da actividade desenvolvida pela União Empresarial do Algarve-AlgFuturo, no sentido de programar a Renovação Económica do Algarve. Valha-nos isso! Tenhamos esperança! Melhor tarde que nunca! O primeiro e mais importante passo está dado, quando esta União Empresarial reconhece que “está inequivocamente demonstrado que o actual modelo económico levou a graves erros e efeitos destrutivos”, destacando exactamente “o excesso de dependência face ao turismo e também à desordenada construção – 300 mil alojamentos entre 1971 e 2011 – e muitos mais milhares a partir de 2003, quando foi criado o “apetitoso” IMI (Imposto Municipal sobre Imóveis )”. Mais casas, mais IMI’s! Estou certo que o lema escolhido – “Na rota da excelência” – será cumprido por aquela organização e pelo seu Presidente, Dr. José Vitorino, conhecido defensor das causas algarvias. Força, meu Caro Amigo! Os nativos do Algarve apoiam-vos!