Opinião: Posso ajudar o meu filho a gerir as emoções?
Sónia Francisca Silva |Psicóloga Clínica (Especialista em Neuropsicologia e Psicogerontologia)
Email: sfspsicologia@sapo.pt|in Lagoa Informa nº164
As crianças precisam sentir-se seguras para que possam vir a ser adultos assertivos. Essa segurança é construída no seu mundo psicológico através de uma vinculação de qualidade a figuras de afeto, que serão os seus modelos. As crianças aprendem por imitação, pelo exemplo.
A criança não nasce a saber gerir as suas emoções, tal como não nasce a andar e a falar, é necessário aprender, será então importante o papel do meio envolvente no facilitar a aprendizagem das suas capacidades de autorregulação emocional.
Portanto, a maturação neurológica, o temperamento e os modelos parentais são condicionantes no processo de regulação emocional.
Sendo os pais modelos, será importante falar sobre os seus próprios sentimentos e emoções com as crianças, ajudando os filhos a identificar e a exprimir as suas próprias emoções e que possam também verbalizá-las de forma assertiva, diria “legendar as emoções”.
A criança vai observar os pais, enquanto modelos de regulação emocional, como reagem em diversas situações e vai também perceber como reagem às reações exageradas dela própria. Tente não dizer “Não vale a pena ficares triste” ou “Não faz sentido ficares zangada”, dê-lhe espaço para falar do que sente, sem julgar, e tente manter a calma. Se possível, fale de uma experiência sua idêntica que já tenha ocorrido e como reagiu; se não resultar o descontrolo cognitivo já deu origem ao desregular fisiológico e aí é preferível afastar-se para a criança experienciar a emoção até ao fim. Mostre-lhe que quando ela acalmar estará disponível para falar.
Trabalhe com a criança a resolução de problemas, principalmente problemas difíceis que podem desencadear emoções intensas. Perante um problema, encontrem diversas soluções e tente que ela pense qual será a consequência de cada uma das soluções, tentando encontrar aquela que é emocionalmente mais ajustada à situação. Podem recorrer ao ‘role-playing’ (encenação) para a pôr em prática. Será importante também rever situações em que houve explosões emocionais, para pensarem como poderia ter sido diferente e antecipar futuras.
O trabalho de resolução de problemas é muito interessante porque também estimula o desenvolvimento do lobo pré-frontal do cérebro da criança, que é aquele que leva mais tempo a desenvolver-se do ponto de vista da maturação neurobiológica, daí a dificuldade dos jovens, em planear e sequenciar e, por conseguinte, ter a melhor perceção das consequências das suas ações.
Ajude a criança a utilizar o ‘mindfulness’ para acalmar, por exemplo: “Imagina que és uma árvore que está crescendo, os teus pés são as raízes e o corpo o tronco; em 3 respirações vais levantando os braços e desenhas um círculo (copa da árvore), depois só com uma expiração desces os braços”.
Recomendo o livro ‘Os Anos Incríveis’- Guia de Resolução de Problemas para Pais de Crianças dos 2 aos 8 anos, de Carolyn Webster-Stratton , o livro ‘Respira’ de Inês Castel-Branco e o site https://bysofiacacao.com/ .