Opinião: Vias de comunicação do Algarve – Factor de atrofiamento económico

Pedro Manuel Pereira |Historiador

in Portimão Jornal nº 26


Desde a Revolução Industrial que é do conhecimento das nações que se desenvolveram e continuam a desenvolver em todos os aspectos da vivência colectiva, que a construção e agilização dos meios de comunicação terrestres como caminhos-de-ferro, vias camarárias, estradas nacionais, vias urbanas, vias rápidas, autoestradas e por aí fora, constituem para as sociedades como as artérias de um corpo humano. Ou seja, devem de funcionar bem, de forma eficiente, fluida, servindo o corpo de forma harmoniosa e saudável.

Assim deve de suceder numa nação que se quer desenvolvida, economicamente saudável e competitiva. Este breve enunciado que todos os governantes em Portugal deviam de ter sempre presente como o principal objectivo para a boa saúde da nação, assim que assolapam os quartos traseiros nos cadeirões do poder, ou dele se lembram vagamente ou a ele recorrem em tempos de campanhas eleitorais.

Vem esta questão a propósito do território que é o Algarve, região com uma economia fundamentalmente assente na actividade turística, contribuindo esta com a maior fatia do PIB nesta área económica no todo nacional. Refira-se a propósito que o Turismo em Portugal em 2019, contribuiu com 15,4% do produto interno bruto nacional.
Com o despoletar da pandemia em 2020, que continua este ano de 2021, a principal actividade económica do Algarve, encontra-se condicionada, portanto, a braços com uma grave crise que se reflecte nas restantes actividades da região.

Entrementes, o governo da nação, tem andado tão ‘preocupado’ com a miragem do arremesso sobre os cofres do Estado, de uma ‘bazucada’ de dinheiro provindo da UE, que continua sem acautelar a boa saúde das tais veias e artérias de comunicação regional e inter-regional do Algarve, fundamentais quer para a principal actividade económica da região, quer como factor de atratividade de potenciais investidores em outras áreas geradoras de desenvolvimento económico e consequente criação de mão-de-obra e de riqueza da região.

O impacto da crise pandémica sobre a fatia maioritária da economia da região (o turismo), deveria constituir um alerta para a procura de investimentos alternativos na região, não descurando o turismo, é evidente.

As três principais vias de comunicação regional do Algarve são os caminhos-de-ferro, a rua 125 (também conhecida como estrada) e a via do Infante.

A linha ferroviária que vai de Lagos até Vila Real de Stº António, é servida por umas composições puxadas por umas locomotivas a diesel, que nos levam aos anos cinquenta e sessenta do século passado. Fazer um percurso neste meio de transporte, é como viajar no tempo. Comboios ronceiros, tremelicantes, desconfortáveis e invariavelmente encardidos.

Quem tiver a coragem de encetar a viagem desde Lagos até Vila Real de Stº António, mudando obrigatoriamente de comboio em Faro, deve ir munido de farnel, porque mais de meio-dia é passado numa longa e trepidante viagem.

A chamada estrada 125 é outra aventura para quem tem de percorrer parte dela, porque se for no seu todo, levará com sorte um dia a percorrê-la. Com limites de velocidade extremamente baixos, próprios para uma rua urbana, não é aconselhável a circulação de meios de transporte de mercadorias na maior parte do seu percurso, por redundar em prejuízo para os transportadores e destinatários.

Em economia aprende-se que ‘tempo é dinheiro’. A via do Infante, que passou a ter portagens nos tempos da/e por imposição da troika, importada pelo segundo governo Sócrates de má memória, continua a ser zelosamente mantida pelo actual governo, com a agravante desta se encontrar em estado pré-comatoso. Circular nesta Via rápida, torna-se em cada dia que passa uma aventura de alto risco para os veículos e respectivos utentes, dada a grave degradação do piso. É como andar num carrossel mágico. Trechos com surpresas desagradáveis a que se seguem outras desagradáveis surpresas.

Manutenção da mesma é evidente que não se vê, por isso pergunta-se: – Que destino tem o dinheiro arrecadado com as verbas das portagens? A empresa que detém o contrato de exploração destas não é obrigada a fazer a manutenção da via, ou este aspecto é omisso no mesmo?

Já agora e a talhe de foice, qual é a posição da CCDR-Algarve quanto ao estado de degradação das principais vias de comunicação atrás referidas, que redunda em atrofiamento do desenvolvimento económico da região?

  • artigo escrito sem a aplicação do novo acordo ortográfico

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