Os deslumbrantes passadiços da Meia Praia e Ponta da Piedade

Textos e Fotos: José Coelho


Os passadiços da Meia Praia e da Ponta da Piedade foram construídos com o objetivo primordial de garantir a proteção da natureza, mas têm vindo a afirmar-se também como importantes atrativos turísticos de Lagos. E são cada vez mais utilizados pela população local, nomeadamente para caminhadas matinais ou ao fim do dia.

A Câmara de Lagos pretende criar mais percursos pedestres seguros, de forma a ligar toda a costa do concelho, desde o Vale da Lama, na ria de Alvor, até ao limite do concelho com o de Vila do Bispo, na zona do Burgau.

No que se refere aos passadiços da Meia Praia, estes têm uma extensão de cerca de 3,3 quilómetros, estendendo-se desde a ribeira de Bensafrim, frente à cidade, até ao Bairro 25 de Abril. A estrutura de madeira foi implementada de forma paralela à linha de costa, em torno das dunas. O comboio também passa naquela zona, mais para o interior.

Ao longo do percurso existem painéis informativos e recomendações de utilização, bem como 14 estações onde se pode descansar um pouco as pernas e apreciar a paisagem oferecida pela baía de Lagos. Foram investidos nesta obra 2,9 milhões de euros, com recurso a apoios comunitários.

“O projeto teve como objetivo assegurar a proteção do cordão dunar, de forma a que a duna não fosse pisada e que os acessos fossem garantidos sempre pelos passadiços, quer no que se refere ao acesso direto à praia quer no atravessamento ao longo da praia”, refere Hugo Pereira, presidente da Câmara de Lagos, à Algarve Vivo.

Autarquia quer fazer ligação à ria de Alvor
A edilidade pretendia estender o passadiço até Vale da Lama, passando em frente ao campo de golfe de Palmares, mas não conseguiu a luz verde das entidades ligadas ao ambiente, que consideram aquela área como praia selvagem.

“Infelizmente, não foi possível para já fazer essa ligação, mas temos o objetivo de vir a concretizá-la. Queremos ligar Vale da Lama, na ria de Alvor, a toda a Meia Praia, até à ribeira de Bensafrim”, garante o autarca lacobrigense.

Existe a expetativa que a alteração do Programa da Orla Costeira possa abrir as portas à aprovação do prolongamento do passadiço até Vale da Lama, permitindo assim ligar a ribeira de Bensafrim à ria de Alvor.

Refira-se que a intervenção de conservação do cordão dunar da Meia Praia – além do passadiço, foi criado um sistema de retenção da areia das dunas – foi premiada no ‘Green Destinations Top 100 Story Award’, na categoria ‘Natureza e Paisagem’.

Esta distinção teve como objetivo reconhecer o trabalho desenvolvido em Lagos para tornar o turismo numa atividade mais sustentável e compatível com a salvaguarda dos valores ambientais e culturais.

Um dos mais belos troços da costa
No que diz respeito à Ponta da Piedade, os passadiços têm uma extensão de cerca de cinco quilómetros, estendendo-se desde a praia do Pinhão, junto à cidade, até à Praia do Canavial.

O projeto, que foi concretizado em duas fases, contemplou igualmente o ordenamento automóvel, representando um investimento total cerca de 5,2 milhões de euros, comparticipado por fundos europeus.

Este é um dos mais atrativos percursos da costa algarvia, onde é possível descobrir praias de rara beleza, como a Dona Ana (já foi considerada a melhor praia do mundo por uma importante revista internacional, há cerca de uma década) ou a do Camilo (um pequeno areal, entre falésias rendilhadas, cujo acesso é feito por uma escadaria em madeira com quase 200 degraus).

Ao longo do extenso passadiço existem zonas de estadias e miradouros. São locais que oferecem uma vista privilegiada para as arribas – que, naquele troço de costa, apresentam formas únicas –, para a baía de Lagos e para o mar. Não faltam também na Ponta da Piedade grutas e algares.

O farol, a ‘sala de estar’ e o pôr do sol
O passadiço passa ainda junto a um farol centenário, localizado no extremo do promontório. O farol começou a funcionar em julho de 1913, dispondo de uma torre com cinco metros de altura e de um alcance de cerca de 37 quilómetros. Foi construído no local onde existiu antigamente a ermida de Nossa Senhora da Piedade.

Mesmo ao lado do farol, fica um local que constitui um dos principais postais ilustrados da Ponta da Piedade e cujo acesso é feito através de uma longa escadaria. Existem aí extraordinárias formações rochosas, sendo este sítio chamado de ‘sala de estar’ pelos homens do mar. Neste extraordinário anfiteatro natural, é possível apanhar pequenos barcos que fazem visitas às grutas da zona.

Alguns dos passadiços instalados na Ponta da Piedade oferecem ainda uma vista espetacular para o pôr do sol. Não admira, pois, que muitas pessoas se desloquem ao final do dia até à Ponta da Piedade precisamente para ver o astro-rei mergulhar no mar. Os melhores locais para assistir ao pôr do sol ficam entre o farol e a praia do Canavial.

Ordenamento do acesso e estacionamento
Mas a intervenção desenvolvida nesta zona abrangeu também o reordenamento do acesso viário e estacionamento. Foram construídos dois novos parques de estacionamento: um próximo da praia do Camilo, com capacidade para 56 veículos ligeiros, e um outro parque um pouco mais à frente, onde podem estacionar 150 automóveis ligeiros e 10 autocarros de turismo.

Após o último parque de estacionamento, em direção ao farol, o acesso para os visitantes é pedonal, através das infraestruturas que foram criadas, nomeadamente os passadiços em betão poroso e os passadiços em madeira.

“A Ponta da Piedade já era um sítio muito visitado, mas de modo muito anárquico, no acesso e na sua utilização”, explica Hugo Pereira. E acrescenta: “A partir do momento em que foi ordenado percebeu-se que é seguro ir para lá e que é um passeio tranquilo – e, no fundo, esta combinação até acabou por levar mais pessoas a visitar”.

O autarca destaca que houve igualmente a preocupação com as pessoas com mobilidade reduzida, que passaram a ter condições de visitação “em mais de 95%” do percurso (só na parte inicial do passadiço o desnível do terreno não o permite).

Objetivo é ligar a ria de Alvor ao Burgau
A autarquia não pretende ficar por aqui, em termos de percursos costeiros. “O nosso objetivo – estamos a caminhar nesse sentido – é ligar o Vale da Lama a Burgau”, afirma Hugo Pereira.

Será então possível começar a caminhada no passadiço da Meia Praia (falta apenas o troço inicial até Vale da Lama) e seguir até à ribeira de Bensafrim. Depois, o percurso será feito, no lado da cidade, pela avenida dos Descobrimentos até à praia do Pinhão, onde começa o passadiço da Ponta da Piedade, que termina na praia do Canavial.

“Depois Canavial-Porto de Mós não há hipótese de intervir na falésia, pelo que temos de voltar a vir pela estrada na direção do Porto de Mós”, explica o presidente da câmara.

Segue-se a ligação do “Porto de Mós até ao Talefe”, cujo projeto “está quase fechado para se fazer uma intervenção”.
O objetivo é “garantir ao máximo que essa utilização, que também é muita – ainda para mais passa ali a Rota Vicentina – seja feita em zonas seguras e delimitadas”, explica o autarca.

Faltará depois ligar, relata Hugo Pereira, “o Talefe, que é bem no alto, à Praia da Luz”, o que será “um projeto muito arrojado”, devido à descida.

Depois, a caminhada ao longo da Praia da Luz será feita pela “avenida dos Pescadores, até ao início de nova falésia”, sendo realizada uma nova intervenção na zona de costa entre a Praia da Luz e Burgau (povoação do concelho de Vila do Bispo).

“Segundo aquilo que já estudamos, quer na intervenção do Porto de Mós ao Talefe, quer em especial a da Praia da Luz até ao Burgau, a ideia é em grande parte destes locais – em que não há muitos desníveis e tanta necessidade de fazer intervenção em betão poroso ou em madeira – podermos optar apenas por delimitações, com sinalética, a indicar o caminho”, diz o edil.

“Penso que no próximo ano já poderemos abrir concurso para fazer Porto de Mós ao talefe e eventualmente, se conseguirmos, avançar com o projeto do Talefe à Praia da Luz”, acrescenta.

“O objetivo é podermos caminhar pela nossa costa com todas as condições de segurança e com percursos bem delimitados – uns em passadiços de betão poroso outros em madeira, outros só delimitações por marcos e com sinalética –, desde a zona Burgau, no início de Lagos, e virmos pela costa – como hoje já se consegue vir por conta e risco – até chegarmos ao Vale da Lama”, frisa o presidente da Câmara.

As intervenções que a autarquia já desenvolveu e as que pretende vir a concretizar no futuro representam “uma aposta nas questões da sustentabilidade”, num contexto de “alterações climáticas”, mas também traduzem, garante Hugo Pereira, uma aposta “no turismo da natureza”, cuja procura incide sobretudo “na época baixa”.

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