Pacientes oncológicos confraternizam em antiga sapataria de Lagoa
Objetivo é proporcionar convívio e o exercício da criatividade, ao mesmo tempo que associação angaria verbas.
FERNANDO MANUEL VIEIRA
Já se encontra em funcionamento um novo espaço, dedicado à criação e venda de peças de artesanato produzidas por pacientes da SOS Oncológico – Unidade e Equipa Comunitária de Cuidados Paliativos do Algarve, sediada na cidade de Lagoa, junto ao Parque de Feiras e Exposições.
O projeto resultou na adaptação da antiga oficina/loja de mestre José Dias, falecido há alguns anos e considerado o último sapateiro artesanal do concelho. Após limpezas e obras, agora é possível aos doentes do foro oncológico criarem neste local peças de artesanato, também podendo aí ser comprada roupa usada e outros produtos.
Segundo Maria João Reis Deus, presidente da direção da SOS Oncológico, a ideia surgiu há algum tempo, mas só agora foi concretizável: “Em conversas com o filho do sapateiro, o Ilídio Dias, veio à tona a possibilidade de nos ceder temporariamente as instalações. Depois de uma profunda limpeza, que contou com o apoio da União das Freguesias de Lagoa, e das necessárias obras de requalificação, o espaço já abriu à comunidade. Para o feito, contámos igualmente com a ajuda da Câmara.”
SURPRESAS EM CABEDAL
Várias foram as surpresas achadas no processo de remodelação, conforme recorda: “Descobrimos 700 pares de sapatos artesanais em cabedal, com diversos modelos e tamanhos. Duvido que ainda haja alguém a fazer sapatos desta maneira… Também havia várias máquinas, além do avental do senhor Dias e de bonés, tudo em cabedal, muitas peças manuais e moldes de madeira, um dos quais ainda com a pele metida.”
A responsável pela associação considera que o espólio deverá ser aproveitado para o futuro museu de Lagoa, “em vez de ir tudo parar ao sucateiro ou ao lixo”. A ideia que Maria João defende passa pela permuta de interesses. “A Câmara pode ficar com o material, a troco de obras na loja. É uma boa forma de se preservar a memória do último sapateiro artesanal do município”, adianta à Algarve Vivo.
PARTILHAR SENTIMENTOS
Nos 60 metros quadrados das instalações são vendidas roupas em segunda mão. “O que pretendemos é conseguir verbas, para que a SOS Oncológico dependa o mínimo possível dos outros”, sublinha. “Por seu turno, os doentes oncológicos poderão conviver e distrair-se, enquanto fazem trabalhos manuais. Em simultâneo, compartilham sensações que só quem passa por este drama pessoal é que entende e valoriza”, esclarece Maria João.