Portimão já iniciou as comemorações de meio século de liberdade
Portimão comemorou o 49.º aniversário da Revolução dos Cravos com um conjunto de atividades, que deram o arranque para um vasto programa que se desenvolverá até 25 de abril de 2024, para assinalar meio século em liberdade e democracia.
Para além da tradicional cerimónia do hastear da bandeira na Praça 1º de Maio e da 17ª Corrida da Liberdade, que reuniu centenas de participantes de todas as idades na zona ribeirinha, a manhã do 25 de Abril foi marcada pela sessão solene, que teve lugar no salão nobre dos Paços do Concelho.
A sessão contou com as intervenções dos representantes dos partidos políticos com assento na Assembleia Municipal, assim como da presidente deste órgão autárquico, Isabel Guerreiro, pautadas por momentos musicais a cargo do acordeonista Gonçalo Pescada e da soprano Carla Pontes.
“A maior ameaça à democracia vem dos populismos”
No encerramento da sessão solene, a presidente da Câmara Municipal de Portimão, Isilda Gomes, recordou alguns números que atestam a profunda diferença entre o Portugal de 24 de abril de 1974 e a atualidade, nomeadamente a taxa de mortalidade infantil, a esperança média de vida, o ensino, a prestação de cuidados de saúde, os apoios sociais, a qualificação profissional, a rede viária e a habitação, entre outros fatores.
“Em 49 anos de democracia, fez-se mais do que em oito séculos de história enquanto nação independente, mas podemos e devemos fazer mais e melhor, acabando com os preconceitos ainda existentes, pois os méritos de cada homem ou mulher devem prevalecer acima de tudo, ao invés das quotas”, defendeu a autarca, antes de sublinhar o “papel preponderante do poder local democrático em toda esta evolução.”
“Para homenagear a implementação da democracia local, da qual já resultaram 13 eleições autárquicas, sempre disputados em liberdade pelos partidos e movimentos de cidadãos que entenderam apresentar aos portimonenses os seus projetos para o concelho, inauguramos hoje o ciclo de comemorações do 50º aniversário do 25 de Abril, que ocorrerá até 2024 sob o tema ‘Portimão Terra Democrática’, em que será feito um balanço sobre o que fomos, onde estamos e o que queremos para o futuro”, revelou Isilda Gomes.
A concluir, a presidente advertiu: “Nos dias que correm, a maior ameaça à nossa democracia vem dos populismos, que pretendem minar e descredibilizar as instituições, arregimentando os naturais e legítimos motivos de queixa dos cidadãos para os capitalizar na forma de programas políticos que visam limitar as liberdades e os direitos conquistados.”
Apoio a 107 associações
Outro dos momentos altos das comemorações ocorreu na tarde do dia 25, quando o salão nobre dos Paços do Concelho recebeu a cerimónia de assinatura dos contratos-programa relativos a 2023, estabelecidos entre a Câmara de Portimão e o movimento associativo local, verificando-se um esforço suplementar da autarquia no apoio ao meritório trabalho que as associações abrangidas desempenham em prol da comunidade.
Assim, para este ano serão apoiadas 107 associações representativas das áreas de desenvolvimento cultural e recreativo, desenvolvimento desportivo e desenvolvimento social (mais duas do que em 2022), com o valor global de 1.799.739,79 euros (foram atribuídos 1.258.450,92 euros em 2022), dos quais 1,208.212,62 euros relativos a funcionamento (725.783,95 euros no ano transato) e 591.527,17 euros para investimento (532.666,97 euros em 2022).
Na área do desenvolvimento cultural e desportivo, foram abrangidas 45 associações, com 492.335 euros para funcionamento e 283.557,20 euros para investimento, enquanto na vertente desportiva foram contempladas 30 associações (579.180 euros para funcionamento e 110.740 euros para investimento), ao passo que o desenvolvimento social envolveu 32 associações (136.697,62 euros para funcionamento e 197.229,97 euros para investimento).
O relevante papel das mulheres em prol da democracia
Na véspera do Dia da Liberdade, o pequeno auditório do Teatro Municipal de Portimão foi palco de uma conversa entre a realizadora Raquel Freire e a ativista política Margarida Tengarrinha, uma das protagonistas do filme em preparação “Mulheres de Abril”, a estrear daqui a um ano.
A antecipar o debate, moderado por João Ventura, a presidente da Câmara de Portimão, Isilda Gomes, disse que “falar de Margarida Tengarrinha numa altura em que celebramos a liberdade é falar de força, determinação, democracia. igualdade de direitos e oportunidades, pois esta grande senhora de Abril é um exemplo para todos nós, mas sobretudo para as futuras gerações.”
Segundo a autarca, “espero que para o ano estejamos a ver o filme “Mulheres de Abril”, na celebração do 50º aniversário da Revolução dos Cravos, cujas comemorações começam agora, numa altura em que os populismos grassam por toda a parte e devem ser combatidos com a força e determinação dos democratas.”
Natural de Portimão, onde nasceu em 1928, Margarida Tengarrinha viveu cerca de duas décadas na clandestinidade, tendo sido responsável pela falsificação de documentos no Partido Comunista Português, experiência que descreve no livro “Memórias de uma falsificadora”.
Professora, artista, escritora, revolucionária e deputada da Assembleia da República, entre tantas outras facetas, a homenageada reconheceu não ter sido fácil a constante mudança de identidades e de residências pelo país: ”Uma das maiores dificuldades passava por disfarçar a pronúncia, tão típica da zona de Portimão, pelo que procurava falar o menos possível”, confidenciou entre sorrisos.
Criada no seio de uma família em que homens e mulheres se sacrificaram pela democracia, a realizadora Maria Freire defendeu ser “urgente dar voz às mulheres que tinham sido silenciadas e apagadas da história, apesar do seu relevante papel em prol da liberdade, cuja profunda sabedoria precisamos para lidar com os novos desafios.”
O filme “Mulheres de Abril” dará voz a doze corajosas mulheres que ajudaram a construir a Revolução dos Cravos e que ficaram no esquecimento, as quais Raquel Freire considera serem “exemplos de uma riqueza de vida imensa, que merece ser resgatada”, estando prevista a sua exibição em Portimão, aquando do 25 de Abril de 2024.
Recorde-se que as comemorações oficiais do 49º aniversário da Revolução dos Cravos arrancaram no dia 22 de abril, com a exposição fotográfica “E depois do Adeus”, que reúne no Museu de Portimão originais de Marques Valentim, nos quais são retratados figuras e momentos históricos que pautaram o último meio século em Portugal, podendo ser vista até 11 de junho próximo.
Na noite de 24 de abril, o grande auditório do TEMPO – Teatro Municipal de Portimão foi palco do tradicional concerto comemorativo, no qual a atuação do Grupo Brasa Doirada, sob o mote “Liberdade”, contou com a participação entusiástica dos espetadores que enchiam a sala.
O programa relativo às comemorações do 50.º aniversário do 25 de Abril pode ser acompanhado aqui.