Presidente da AM de Vila do Bispo demite-se do PS e arrasa partido

Vila do Bispo 1

“Se isolado estava, o presidente da Câmara isolado continuará”, afirmou Nuno Amado após se demitir do PS e entregar o seu cartão de militante, em desacordo com a imposição da direção nacional dos socialistas ao nomear Adelino Soares como candidato ao executivo camarário nas próximas eleições.

José Manuel Oliveira

O presidente da Assembleia Municipal de Vila do Bispo, Nuno Amado (PS), aproveitou o seu discurso na sessão solene no âmbito das comemorações do dia do município, 22 de janeiro, dedicado ao padroeiro São Vicente e com diversas festividades, para, de forma surpreendente, arrasar a gestão do presidente da Câmara local, Adelino Soares, do mesmo partido e que será, de novo, candidato ao cargo nas próximas eleições autárquicas, desta vez imposto pela direção nacional dos socialistas, contra a vontade da comissão política concelhia, a qual preferia Celestina Costa, que preside à Junta de Freguesia de Budens.

MAIS DE 30 AUTARCAS DO PS ABANDONAM

“Se isolado estava, o presidente da Câmara isolado continuará”, afirmou a certa altura, em jeito de desafio,  Nuno Amado, que se demite do PS, a cuja Comissão Política Concelhia de Vila do Bispo presidia desde 2011, e vai entregar o cartão de militante na sede nacional do partido, em Lisboa. Com ele, segundo apurou o ‘site’ da revista Algarve Vivo, deverão abandonar o PS cerca de três dezenas de militantes, incluindo membros da Assembleia Municipal e os presidentes das juntas de freguesia de Budens, Vila do Bispo e Raposeira, além do vereador Afonso Nascimento, na sequência da polémica em torno das eleições autárquicas a realizar no Outono de 2017.

Adelino Soares, que já tinha feito a sua intervenção como presidente da Câmara, apresentando uma retrospetiva deste seu mandato a anunciando obras para o futuro, não escondeu algum nervosismo perante o discurso do presidente da Assembleia Municipal.

“IDEIAS DEMAGOGAS” DE ADELINO SOARES

“Estamos no órgão que representa a democracia local por excelência e como a democracia não se faz sem partidos, movimentos de independentes e debate de ideias, dedico esta oportunidade para deixar uma reflexão e uma informação sobre a situação política no concelho. Como é do conhecimento público, nenhum partido com representação nesta Assembleia acompanha as ideias demagogas do atual presidente de Câmara, tendo ao longo do mandato sido várias as vezes em que discordámos, alertámos e recomendámos ao executivo uma inflexão nas suas políticas. Tudo isto caiu num total vazio como é sabido…”, começou por dizer Nuno Amado.

Ao prosseguir a sua intervenção, o presidente da AM vilabispense estendeu as suas críticas ao PS: “Também ao nível partidário, sou testemunha que, quer a nível local como a nível regional e até nacional, várias foram as recomendações e pedidos de consenso para que Adelino Soares alterasse as suas posições. Mais uma vez, tudo isto caiu em saco roto…. Esta postura arrogante e inflexível do presidente da Câmara, leva a que seja impossível chegar a consensos partidários no seio do PS, por forma a viabilizar uma candidatura forte e com um projeto credível que vise o bem-estar das populações.”

“É do conhecimento público a tomada de posição do partido pelo qual fui eleito, a qual foi, em primeira instância, aceite e apoiada a nível regional e nacional, inclusive com uma intervenção pública do presidente do PS Algarve a informar militantes e simpatizantes que a decisão da escolha de um próximo candidato autárquico seria tomada localmente. Pois, por mera pressão e influências de carácter duvidoso que também acompanham a gestão diária do presidente da Câmara, o Partido Socialista pela voz da sua mais alta responsável Ana Catarina Mendes, informou-me que o candidato às próximas eleições autárquicas seria Adelino Soares, em detrimento daquela que tinha sido a decisão local e a comunicação oficial anteriormente feita”, lamentou o presidente da AM e da comissão política concelhia socialista.

Ou seja, acrescentou, “e em suma, o PS nacional primeiro decide cumprir os estatutos e dá indicação para a estrutura local escolher os candidatos e, depois de escolhidos, volta com a palavra atrás e muda de ideias, com base numa moção aprovada em congresso que indica que os atuais presidentes são os candidatos, independentemente da sua capacidade, competência ou aceitação popular.”

“Face a tudo isto, e como tenho o defeito de ser uma pessoa com verticalidade, idónea e que prezo os princípios básicos da dignidade, venho hoje dar a conhecer a esta assembleia que apresentei a demissão enquanto líder partidário local, bem como me desvinculei enquanto militante do partido pelo qual fui eleito, passando à qualidade de eleito independente enquanto presidente da Assembleia Municipal. O mesmo sucede com outros membros da bancada do PS, inclusivamente com os presidentes de Junta de Budens e Vila do Bispo. Se isolado estava o presidente de Câmara, isolado continuará…”, revelou Nuno Amado.

PS COM ATITUDE “RETRÓGADA E ANTI-ESTATUTÁRIA”

Em seguida, e com alguma ironia à mistura, observou: “Bem sei que esta notícia hoje deixará seguramente o presidente de Câmara aliviado e até contente, pois vê afastar-se dentro do seu partido qualquer oposição ou vozes discordantes.  Mas é assim que os fracos gostam de liderar os seus processos e, como se diz na gíria popular, em terra de cegos, quem tem olho é rei. Não sei, no entanto, como consegue andar erguido, sabendo que a esmagadora maioria das pessoas na estrutura local, regional e até nacional do partido do qual faz parte, não lhe reconhece nem mérito nem qualidades pessoais ou políticas.”

“A mim educaram-me que quando não nos querem nalgum lugar, devemos saber reconhecê-lo humildemente e seguir o nosso caminho, mas essas são sem dúvida algumas das grandes diferenças entre todos aqueles que agora abandonam a vida política partidária no PS e o senhor presidente. A educação e a humildade..”, adiantou o autarca, que passa à condição de independente após ter sido eleito a 22 de outubro de 2013 presidente da Assembleia Municipal de Vila do Bispo.

E voltando a apontar baterias à direção nacional dos socialistas, Nuno Amado acusou o órgão dirigido pelo secretário-geral António Costa de tomar uma atitude “retrógrada e anti estatutária”: “Notemos que, em tempos em que o afastamento dos cidadãos da política é evidente e que se traduz na elevadíssima taxa de abstenção em todas as eleições, o Partido Socialista dá agora uma lição de como afastar as pessoas da política. Esta forma fechada, retrógrada e anti estatutária de fazer política tem consequências e deixa os partidos cada vez mais isolados e afastados dos cidadãos. São muitos os exemplos de imposições feitas pelos partidos a nível nacional às concelhias e, na esmagadora maioria, as eleições seguintes correram mal aos partidos, ganhando-as os movimentos independentes que entretanto se geraram.”

FALTA DE OBRAS, SUBSÍDIO DEPENDÊNCIA E DESPESISMO

Na polémica intervenção que se prolongou por mais de meia-hora, Nuno Amado apontou publicamente, no edifício dos Paços do Concelho e perante mais de duas dezenas de pessoas, os problemas da gestão do executivo camarário que considera terem existido sob a liderança de Adelino Soares: “Não sei o que irá acontecer em Vila do Bispo, mas de uma coisa estou certo, basta que exista alguma coerência num outro projeto autárquico que se apresente a eleições em setembro e Adelino Soares perderá essas eleições de forma categórica. Não acredito que seja possível que a população volte a dar o benefício da dúvida a um presidente de Câmara que nos últimos 20 anos foi, provavelmente, o pior que o concelho já teve. Repare-se que, em quase oito anos: cometeu a proeza de não fazer uma única obra pública municipal de relevo, sendo todas as obras de monta da responsabilidade do governo central; não ter sido capaz de planear e estruturar o futuro do concelho ao nível dos planos de ordenamento; não foi feito rigorosamente nada para a promoção do emprego em Vila do Bispo, como por exemplo a ampliação da zona industrial; os poucos equipamentos públicos degradaram-se a um ponto de quase não retorno, como o mercado de Sagres; foi criado um sistema de subsídio dependência e despesismo que já não há memória e que se pensava ser impossível nos dias de hoje; não se aproveitou uma das maiores riquezas que o concelho tem e que é o turismo, nomeadamente o desportivo e de natureza.”

ACUSAÇÕES GRAVES DO MINISTÉRIO PÚBLICO

Mas as críticas a Adelino Soares não ficaram por aqui. “A sorte que todos temos é que, independentemente da competência do presidente de Câmara (ou falta dela neste caso), o turismo criou uma inércia própria e continuará a crescer paulatinamente. Pena é que não tenhamos alguém com visão que contribua para dinamizar e estimular ainda mais esse crescimento orgânico. Se não bastasse a falta de obra autárquica, Adelino Soares tem ainda a pairar sobre si uma série de problemas judiciais com acusações graves do Ministério Público, ao nível da gestão noutras entidades, mas mais recentemente, ao nível de aprovações ilegais de obras particulares que muito dará que falar nos próximos meses”, referiu.

Como tal, notou Nuno Amado, “o PS, ao escolher Adelino Soares como candidato às próximas eleições, vincula-se assim de forma clara a qualquer ilicitude que venha a ser provada como cometida pelo próprio. Bem sei que nada ainda foi provado, mas como se costuma dizer, onde há fumo há fogo e ultimamente temos visto muita fumaça….”

PRÉMIOS E TACINHAS EM VEZ DE INVESTIMENTO E EMPREGO

“Todos sabemos que o presidente da Câmara gosta de se vangloriar com taças, prémios da transparência e similares, mas senhor presidente, o concelho é muito mais que a sua própria sombra e que o seu egocentrismo focado no culto da personalidade. Aquilo que queríamos é que, em vez da tacinha, todos usufruíssemos de equipamentos públicos de qualidade, que fossem criadas condições para gerar mais emprego, que tivéssemos planos de ordenamento justos e potenciadores de investimento no concelho, etc. Aí sim, todos defenderíamos inclusive uma estátua à sua pessoa, mas sabemos que este tipo de gestão altruísta e a favor do bem comum não faz parte da sua forma de atuar. Com esta tomada de posição, podemos agora esperar ainda mais perseguições políticas do que aquelas que se têm verificado, com mais pressões sobre donos de estabelecimentos comerciais, com promessas de trabalho que nunca chegam, enfim, um rol de atitudes que têm caracterizado esta gestão”, sublinhou Nuno Amado.

“MENTIRAS E CALÚNIAS”

Já na fase final deste seu inflamado e surpreendente discurso, reforçando as críticas a Adelino Soares, vincou: “Seguramente também podemos esperar que a máquina que o senhor presidente montou em seu redor, continue e amplifique um rol de mentiras e calúnias sobre todos aqueles que lhe façam frente de alguma forma e que de alguma maneira foram seus colaboradores no passado. É a tal política ‘rasteirinha’ e abominável que caracteriza os dois últimos mandatos, mas a melhor forma de combater é ignorar, pois felizmente, para quem tem tantos telhados de vidro como o presidente da Câmara, rapidamente o feitiço se vai virar contra o feiticeiro e todos ficaremos a saber quem beneficiou e do quê…”

Na sequência desta posição pública, a Algarve Vivo procurou obter uma reação do presidente da Câmara Municipal de Vila do Bispo, Adelino Soares, sem sucesso até ao momento.

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