Prova de dimensão mundial animou o areal da Rocha

Texto: Hélio Nascimento | Fotos: Focus Ultimate
O Mundial de seleções de ultimate de praia reuniu os melhores praticantes da modalidade, que durante uma semana criaram um ambiente fantástico na Praia da Rocha, em Portimão, tanto pelo espetáculo proporcionado pelos jogos como pela animação constante dos intervenientes e de todos aqueles que palmilhavam o areal.
“Podemos dizer que foi um êxito, sim, já que o feedback de toda a gente, dos jogadores às equipas técnicas, à Federação Internacional (World Flying Disc Federation) e a quem nos deu apoio, como a Câmara Municipal de Portimão, não podia ser melhor”, reconhece Pedro Vargas, diretor da prova e presidente do Clube de Praticantes Ultimate Portimão, que organizou o torneio em conjunto com a entidade internacional.
“Uma palavra para os restaurantes ao longo da praia, sem os quais o evento não seria o mesmo. Precisamos deles para dar a possibilidade aos jogadores de consumirem após os jogos. De resto, a praia tem condições excecionais, uma opinião bastante positiva e partilhada por todos, que nós, no terreno, também sentimos”, acrescenta Pedro Vargas. Curiosamente, na semana que antecedeu o Mundial, a chuva e sobretudo o vento fizeram perigar a realização do torneio.
“As estruturas podiam não aguentar, mas conseguimos segurá-las e reforçá-las e os danos foram ultrapassados”, esforços compensados com o que se seguiu, “um tempo fantástico e clima a condizer” que foi a delícia dos milhares de visitantes.

E, de facto, foram mesmo milhares! Assim, na semana de 16 a 22 de novembro, estiveram em ação 2300 atletas, número que subiu aos 2500 com as equipas técnicas. Considerando as famílias, “facilmente associamos ao evento cerca de 3500 pessoas, para além dos muitos portimonenses que acompanharam e mostraram interesse na modalidade, em especial no fim de semana”, sublinha o diretor, enfatizando o ambiente fantástico e dando ainda conta dos voluntários, staff técnico, elementos dos media e pessoal da Federação Internacional, ou seja, cerca de mais de centena e meia de envolvidos.
“Tendo por base outros eventos que já organizámos, este foi de longe o que trouxe mais pessoas a acompanhar as equipas, como se viu pelo mar de gente na praia, no passadiço e junto aos hotéis. Foi bastante positivo também para a economia local”, assinala Pedro Vargas, referindo outro dado que o deixou deveras satisfeito: as visualizações atingiram o bonito e significativo número de cinco milhões na plataforma digital, sinal de que este desporto, onde o disco é rei, tem cada vez mais adeptos.
Domínio dos Estados Unidos e Portugal em renovação
Os Estados Unidos foram os grandes dominadores deste Mundial de seleções de ultimate de praia, arrebatando oito medalhas de ouro e deixando apenas uma para Canadá e Alemanha nas dez divisões de competição. Participaram 38 países, num total de 136 equipas, que evoluíram em 24 campos e fizeram 786 jogos.
Os EUA, a nível de praticantes, são o país que têm maior número e os mais desenvolvidos, pelo que não se estranha que em quase todas as divisões tenham chegado às finais. As universidades oferecem bolsas e os jovens aproveitam esta prática desportiva. A Alemanha e o Canadá tiveram alguns pódios, tal como a Espanha, enquanto Portugal apresentou três equipas, uma mista, outra mista de masters (veteranos) e outra masculina.
“Comparando com outras competições na última década e meia, ficámos abaixo do que normalmente tem sido feito. É um período de transição, em que alguns dos que vêm integrando a seleção competem agora nos veteranos, com reflexos no escalão sénior, onde se nota alguma inexperiência. É uma renovação geracional”, justifica Pedro Vargas.
No Algarve existe uma equipa, o Clube de Praticantes Ultimate Portimão, organizadores locais deste Mundial. “Este ano, em junho, fomos campeões europeus de clubes, em Gdansk, na Polónia, na divisão mista, o que aconteceu pela primeira vez, depois de termos sido antes finalistas vencidos, numa demonstração de saúde competitiva num patamar bastante elevado”.
Pedro Vargas, o presidente do clube, reconhece existir “dificuldade no recrutamento e entrada na comunidade mais jovem”, o que não impede a procura de um crescimento sustentado. “Temos também condicionantes em termos de espaços. Treinamos duas vezes por semana no Pavilhão da Mexilhoeira Grande, em horários mais tardios, o que sucede desde que há três anos deixou de haver iluminação na Praia da Rocha, ou seja, ficámos sem possibilidade de usar esse espaço – onde nós treinávamos – durante a semana em horários mais favoráveis. Agora temos de nos ajustar, de rentabilizar ao máximo a atividade, apesar das dificuldades”.
A cidade tem muita vida associativa, imensa prática desportiva, pelo que os espaços de treinos são muito disputados.
No país, o crescimento é lento e praticam ultimate 250 atletas, de oito clubes, todos com caraterísticas diferentes. “Algumas equipas estão a começar e as dores de crescimento são óbvias, no sentido de se atingir um nível competitivo mais elevado. A realidade que temos é esta, mas, a nível local, vamos continuar a trabalhar e melhorar. Dispomos de 20 atletas e existe dificuldade em recrutar, como disse, mas o objetivo deste evento era também o de dar mais visibilidade à modalidade”.

Reconhecimento dos jogadores
Do ponto de vista dos proveitos os organizadores pretendiam obter “uma massa crítica em termos financeiros para alavancar a série de projetos que temos para o clube, tentando solucionar a questão do recrutamento, apesar da competição com outras modalidades”. Alavancar a modalidade e fazê-la crescer é um objetivo constante e daí que, no que concerne a apoios, “tudo o que vier é positivo”.
O principal apoio do Clube de Praticantes Ultimate Portimão é o do município “e ao longo dos anos tem sido sempre uma ajuda importante a estas organizações e diretamente ao clube, através do contrato-programa”, salienta Pedro Vargas. Só assim é possível, aliás, alimentar “este lado mais de competição e procurar um nível diferente nos três ou quatro torneios que por ano fazemos fora do país”. Quantos mais melhor, é óbvio, “mas também temos noção que a dimensão que têm o clube e a modalidade – ainda sem federação – cria alguns entraves”, argumenta o rosto do emblema que é crónico campeão nacional.
Pedro Vargas é um atleta de créditos firmados, mas neste torneio não jogou, já que, como diretor, o volume de trabalho não era compatível. A satisfação, porém, é total. “O reconhecimento por parte da Federação Internacional é sempre importante, é a prova de que o trabalho foi bem feito, mas o mais importante é da parte dos jogadores. Mesmo com eventuais erros, se para eles foi tudo ótimo… é o melhor”, inclusive porque o negócio local ficou igualmente a ganhar.
O impacto no concelho foi, portanto, excelente, o que dá ainda maior entusiasmo para voltar a organizar o Mundial de clubes, como aconteceu no ano passado. “O acordo não está finalizado nem tem data definida, mas Portimão reúne todas as condições para o receber e para nós faz todo o sentido. Temos estruturas, contactos e as pessoas querem que voltemos”. Para já, o torneio mais imediato é o Europeu de Clubes, na Figueira da Foz, numa organização da Associação Portuguesa de Ultimate de Praia, do clube de Leiria e com o apoio do emblema portimonense.
Na Praia da Rocha estiveram em ação jogadores de Singapura, Japão, Filipinas, Colômbia, Líbano, Turquia… de todos os continentes. Uma festa de dimensão mundial que coloriu o areal e propiciou um convívio a todos os títulos notável.
“É algo que demonstra o crescimento progressivo da modalidade, com mais praticantes, muito participativo e sem eliminatórias de apuramento, apenas critérios para definir o número de equipas por país, o que facilita a diversidade”, atira Pedro Vargas, destacando por fim a amplitude etária dos atletas: o mais jovem tinha 16 anos e o menos jovem 58.
O que é o ultimate
Para os leitores menos identificados com esta modalidade, convém explicar o que é o ultimate, cuja principal caraterística é ser jogado com um disco, em quase tudo semelhante ao que se vê nas praias a ‘voar’ de mão em mão. O ultimate é um desporto coletivo, disputado por equipas (cinco elementos cada) e com diversas variantes, consoante a superfície, sendo que a de praia é a mais popular. O campo tem duas zonas de ensaio e o objetivo passa por fazer chegar o disco à área delimitada. Sucede, ainda com alguma frequência, ouvirmos falar em ultimate frisbee, agora em desuso, uma vez que o termo frisbee diz respeito a uma marca registada pela primeira empresa que fabricou o disco.
Um jogo sem árbitro
A mais significativa curiosidade do ultimate diz respeito à ausência de árbitro, o que implica que haja uma exigência maior sobre os jogadores a nível do conhecimento das leis do jogo e também em relação ao respeito das mesmas. Se, porventura, houver uma infração, os jogadores envolvidos têm de chegar a acordo, consoante a aplicação das regras, e, se não for conseguido esse acordo em tempo curto, o disco volta atrás, como se não tivesse existido a falta. Um raro exemplo de fair play, cada vez mais raro nos dias que correm.
O Mundial em números
2300 Jogadores
38 Países presentes
136 Equipas em ação
24 Campos no areal
10 Divisões por escalão
786 Jogos disputados
3500 Visitantes





